
Ter um carro mais ecológico no Brasil não é fácil. Os elétricos são muito caros e enfrentam uma falta de estrutura para recarga, então a melhor ideia seria ir para um híbrido. A opção mais acessível para todos é justamente o mais conhecido e que deu início a essa tendência: O Toyota Prius. Vendido em versão única por R$ 126.600, o sedã tenta mudar um pouco o panorama dos veículos verdes no País, enfrentando a falta de incentivos do governo.
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Quando acelerei o Toyota Prius no primeiro test-drive, feito em Brasília (DF) no início de junho, fiquei impressionado com a agilidade do sedã, que melhorou muito em relação à terceira geração. No entanto, a experiência tinha suas ressalvas, já que a capital do País é uma cidade plana, algo incomum comparado aos outros grandes centros do Brasil. Precisava guiar o híbrido em um local com ladeiras para conferir se o desempenho era tudo isso mesmo.
Felizmente, a primeira impressão estava correta. A combinação do motor elétrico de 72 cv e 16,6 kgfm de torque com o 1.8 a gasolina de 98 cv e 14,2 kgfm permite que o Prius seja capaz de enfrentar qualquer situação com muita determinação. Mesmo a subida mais ingríme fica fácil de encarar. Isso acontece pois o motor elétrico é o primeiro a atuar e, como ele não precisa desenvolver rotações como a unidade a combustão, o torque é instantâneo. Basta pisar no acelerador que a roda já está girando com o máximo de torque do motor elétrico. Se precisar de mais, o motor 1.8 vai complementar com mais potência.
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Não é um esportivo e está bem longe disso, mas também não decepciona. Acelera de 0 a 100 km/h em 11 segundos, quando utiliza os dois motores em conjunto. Poderia ser mais se estivesse com um motor a combustão convencional, o que não é o caso. O 1.8 usado no híbrido trabalha com o chamado “ciclo Atkinson”, que é voltado para a eficiência, aproveitando melhor a energia gerada ao custo de produzir menos potência.
Os híbridos podem ser divididos em dois grupos: Existem os plug-in hybrids, que possuem um conjunto de baterias que só pode ser carregado ao plugar em uma tomada (por isso o nome), mas que tem uma autonomia muito maior no modo elétrico. O Prius faz parte do segundo grupo, que tem baterias de capacidade menor, capaz de rodar por alguns quilômetros, só que são reabastecidas com a recuperação da energia dos freios.
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E economiza muito combustível. Segundo o Inmetro, é o carro mais econômico do Brasil com um motor a combustão, fazendo 17 km/l na estrada e 18,9 km/l na cidade. Acredite, a entidade definiu um valor médio bem abaixo da realidade. No primeiro test-drive, a Toyota organizou uma disputa para ver quem conseguia a melhor média. Marquei 24 km/l na estrada e 16 km/l na cidade e não cheguei nem perto dos primeiros colocados – tudo bem que não me preocupei muito em atingir a meta e forcei o motor em alguns momentos na cidade para ultrapassagens.
Anti-poluição urbana
Agora que estava com o Toyota Prius em São Paulo, podia dirigir com mais calma e fazer uma média ao longo dos dias. Em uma pequena viagem até São José dos Campos, o computador de bordo apontava impressionantes 26 km/l. Com o trânsito pesado da capital paulista, o rendimento não foi dos melhores, mas ainda assim chegou a 21 km/l, um valor de muito respeito e também acima do dado oficial do Inmetro.
O melhor de tudo é que essas médias são obtidas com certa facilidade. O ar-condicionado não precisa ser desligado, pois ele tem um motor elétrico próprio que é reabastecido junto com as baterias do carro, evitando o consumo de combustível. Como utiliza um câmbio CVT, as polias estão sempre no ponto necessário para manter a velocidade do veículo, evitando o aumento de consumo causado pela troca de marchas. Os pneus verdes e a boa aerodinâmica contribuem ainda mais.
Se não estiver difícil conseguir uma boa média, basta usar o computador de bordo. O sistema tem uma aba chamada Eco Score, que avalia seu modo de condução em uma nota de 0 a 100 e mostra seus pontos negativos e positivos. Pode ser que esteja acelerando rápido demais, fazendo frenagens muito bruscas ou deixando de aproveitar o freio-motor para desacelerar. Tudo isso é indicado pelo computador e as instruções te ajudam a melhorar o rendimento.
Carro do Jaspion
Nem tudo é bom no Toyota Prius. Para começar, o design é bem polêmico. Quando vi o híbrido pela primeira vez em fotos, sua aparência me desagradou muito. Melhorou quando vi pessoalmente, mas, aos poucos, fui voltando para a impressão inicial. O quesito “novidade” vai perdendo o encanto e começamos a reparar em como é estranho. Dependendo da cor da carroceria, isso vai ficando ainda mais evidende, principalmente em cores como preto e prata.
O interior poderia ser melhor. Na primeira olhada, é fácil confundir a cabine com a do Etios , ainda mais agora que o carro de entrada da Toyota adotou a mesma tela digital TFT de 4,2 polegadas. Todo o sistema é o mesmo, com exceção das opções relacionadas ao modo híbrido, e também é posicionado no meio do painel. Os engenheiros da marca defendem com o argumento de que é mais seguro, fácil e rápido desviar os olhos para o lado do que para baixo.
Aos poucos vamos encontrando as diferenças entre o cockpit do Toyota Prius e dos outros carros da marca. A alavanca de câmbio fica posicionada pouco abaixo da central multimídia. Parece um joystick de videogame e possui a posição B, que aumenta a força do freio-motor para obter mais energia para as baterias. Logo abaixo fica uma área para colocar o celular e recarregá-lo por indução, função que não consegui fazer funcionar com vários aparelhos diferentes.
Prius ou Corolla Altis?
Por R$ 126.600, pode parecer difícil recomendar o Toyota Prius, mas o carro tem bons argumentos. Vem com faróis full-LED, ar-condicionado digital de duas zonas com comando S-Flow (que direciona o ar de acordo com os assentos ocupados), heads-up display , bancos dianteiros com aquecimento e controles de estabilidade e tração. Este últimos são itens que até agora o Corolla não oferece, mesmo que todos os sedãs médios tenham o item em alguma versão.
Além disso, a diferença no preço para os R$ 106.080 do Corolla Altis é compensada aos poucos, pela economia no combustível e com o pequeno incentivo dado pelo governo em algumas cidades. Em São Paulo, por exemplo, o governo devolve 50% do IPVA pago pelo veículo e te dá isenção do rodízio municipal. Já no Rio de Janeiro, o IPVA é de apenas 1% do valor venal do veículo híbrido. Junte os dois e logo a conta irá pender a favor do Prius.
O Toyota Prius é um carro divertido de dirigir, que melhorou muito na quarta geração. Sem esforço, é possível ficar muito tempo longe do posto de combustível, seu nível de equipamentos é bem adequado com o preço e tem seus benefícios para o meio ambiente. Como o gosto por design é subjetivo, pode não ser um problema para quem procura por um sedã. O aumento de quase quatro vezes nas vendas da nova versão mostra que o brasileiro quer híbrido, só falta o governo dar uma ajuda.
Ficha Técnica
Preço: R$ 126.600
Motor: 1.8, quatro cilindros, gasolina / elétrico
Potência: 98 cv a 5.200 rpm / 72 cv / 123 cv de potência combinada
Torque: 14,2 kgfm a partir de 3.600 rpm / 16,6 kgfm
Transmissão: CVT, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira) / Multilink (traseira)
Freios: Discos ventilados (dianteira) / Discos sólidos (traseira)
Pneus: 195/65 R15
Dimensões: 4,54 m (comprimento) / 1,76 m (largura) / 1,49 m (altura), 2,70 m (entre-eixos)
Tanque : 43 litros
0 a 100 km/h: 11 segundos
Vel. Max: 180 km/h