Strada Ultra 1.0 turbo tem toques mais urbanos e esportivos do que a classuda Ranch
Julio Cabral
Strada Ultra 1.0 turbo tem toques mais urbanos e esportivos do que a classuda Ranch

A Fiat Strada 1.0 turbo 200 foi lançada nesta semana , e foi possível ter um contato breve com a novidade na cidade de Florianópolis, Santa Catarina. Mesmo tendo sido limitado a algumas dezenas de quilômetros, o encontro permitiu conferir se o casamento do novo propulsor com a picapinha foi feliz. Contudo, antes eu devo fazer um breve intervalo para discutir as características do carro em si e sua mecânica.

Embora seja novidade para a picape, o 1.0 Turbo 200 (o número de torque medido por Newton-metro) já é aplicado no Pulse e no Fastback, gerando os mesmos 130/125 cv de potência a 5.750 rpm e 20,4 kgfm de torque a 1.700 rpm. Da mesma maneira que os outros membros da família Fiat, o propulsor é sempre associado ao câmbio CVT. 


Apenas duas versões são equipadas com a novidade mecânica: a Ranch e a Ultra, ambas vendidas por R$ 132.990. A segunda opção foi inspirada pela configuração de mesmo nome da Toro, mas a primeira já existia. Antes equipada com o motor 1.3 aspirado, ela era vendida por R$ 126.990, ou seja, R$ 6 mil a menos.

A Strada Endurance, Freedom e Volcano também tiveram alterações, sendo a mais importante a troca do motor 1.4 pelo 1.3 na configuração básica, algo que já falamos na nota de lançamento.

Elemento pintado que forma um X e novo parachoque são destaques; friso vermelho é exclusivo da Ultra
Julio Cabral
Elemento pintado que forma um X e novo parachoque são destaques; friso vermelho é exclusivo da Ultra

O que não dá para deixar de repetir é a mudança de estilo das versões 1.0 turbo, as únicas que receberam visual frontal diferente das demais. Os faróis de LEDs permanecem os mesmos, mas a grade é nova e se liga por um elemento em forma de X (a Mitsubishi agradeceu pela homenagem), um toque que vai até o parachoque dianteiro, peça que tem novos nichos para faróis de neblina de LEDs e uma proteção metalizada na borda inferior, detalhe que remete aos peitos de aço dos antigos jipes. No geral, a reforma também acentuou a sensação de largura, algo fundamental para um carro com apenas 1,73 m de um lado ao outro. O dizer Turbo também está na imitação de saída de ar dos para-lamas dianteiros. Já a traseira carrega o logotipo do motor 200.

Há pontos de diferenciação entre as configurações, tal como o uso de rodas aro 16 diferentes, mas iguais, pois muda apenas o acabamento. A Ultra usa aros metalizados e miolo de preto, enquanto a Ranch se vale de aros com as partes internas pretas. As molduras dos faróis de neblina também são diferentes, a versão para uso urbano aposta em um tom mais escuro do que a aventureira. Em nome da esportividade, há um friso vermelho abaixo da grade na Ultra e um acima da grade na Ranch, só que em tom metálico. Os pneus também mudam, sendo normais na primeira e de uso misto na aventureira. 

Upgrade mecânico

O antigo 1.3 já havia perdido potência e torque na linha 2023, passando a gerar 107/98 cv e 13,7/13,2 kgfm, contra 109/101 cv e 14,2/13,7 kgfm de antes, o que afetou o desempenho. A aceleração de zero a 100 km/h, por exemplo, passou de 11,2 segundos para 12 s, com etanol. A velocidade máxima também foi afetada e passou de 169 km/h para 168/165 km/h para 165/161 km/h - sempre etanol/gasolina. 

A Ultra tem miolos das rodas escurecidos ao extremo, enquanto a Ranch aposta em rodas diamantadas
Julio Cabral
A Ultra tem miolos das rodas escurecidos ao extremo, enquanto a Ranch aposta em rodas diamantadas

O que leva à conclusão de que ela realmente precisava de um novo propulsor, especialmente nas Stradas mais caras. Comparado ao 1.3 aspirado, o motor turbo 1.0 a leva de zero a 100 km/h em 9,5/9,8 s e chega aos 180/178 km/h de velocidade máxima (etanol/gasolina). 

Por outro lado, o 1.3 consome um pouco menos, fazendo 8,8/9,9 km/l de etanol e 12,4/13,9 km/l de gasolina entre cidade e estrada. Já o 1.0 turbo marca 8,3/9,4 km/l de etanol e 12,1/13,2 km/l de gasolina nas mesmas condições.

Impressões ao dirigir 

O teste começou ao sairmos do aeroporto de Florianópolis. Seria impossível ir além do limite, uma abusada que sairia cara em um estado que tem uma taxa de carro/radar de velocidade elevadíssima. Que seja, foi o suficiente para sentir o fôlego extra do motor.

Atrás, só um logotipo do motor 200 entrega que se trata da versão turbinada
Julio Cabral
Atrás, só um logotipo do motor 200 entrega que se trata da versão turbinada

Não há aquela sensação de viver na parte de cima do conta-giros ao acelerar forte, algo que acomete a Strada 1.3. Aliás, a Fiat levou o modelo com motor aspirado para o evento, algo elogiável. Normalmente, a versão antiga é deixada de lado, afinal, como ela ainda é vendida, não é ideal uma comparação negativa. Ponto para o fabricante. 

O percurso até o Costão do Santinho é mais marcado por retas, então, sem outra opção, o jeito foi aproveitar para conferir como são as retomadas de velocidade. Com ou sem o botão Sport ligado, a Strada retoma forte e se impõe no trânsito. As sete marchas virtuais dão um toquinho esportivo. As trocas sequenciais podem ser feitas por borboletas atrás do volante novo, que é bem melhor, mas perde por ter comandos de som na parte traseira.

O novo volante traz botão Sport, borboletas para trocas e comandos de áudio atrás
Julio Cabral
O novo volante traz botão Sport, borboletas para trocas e comandos de áudio atrás

Com comando eletrohidráulico MultiAir para as válvulas de escape, o motorzinho responde bem, no que colabora (e muito) o torque total disponível a 1.750 rpm. A diferença de peso em relação ao modelo aspirado é de apenas 16 kg, nada que influencie.

Seria ótimo falar em prazer ao volante, mas há um ponto que atrapalha a expressão: só há ajuste de altura. Sem ter como regular a profundidade, meus braços e pernas tiveram que brigar para ver quem ficaria na posição correta. Não tem jeito, há pontos que a Strada mostra que a base de Mobi é um ponto negativo. Um bom exemplo é a falta de nichos para levar objetos. Na parte inferior do painel há o carregador sem fio e um porta-copo estreito, algo também visto no final do console central. Nada de porta-objetos no encosto do braço, uma vez que o modelo é estreito demais para permitir isso. O painel reduzido também é outra herança, com dificuldade para ver o conta-giros ou o velocímetro analógico, sendo salvo apenas pela pequena tela digital - ela exibe a pressão do turbo e outros dados, inclusive. 

Para fugir do parentesco com o subcompacto, as configurações topo de linha têm acabamento melhor. A Ranch aposta em detalhes marrons presentes até no couro dos bancos ou nas costuras dos apoios das portas - não há nas traseiras, obviamente -, enquanto a Ultra se vale de costuras vermelhas, algo que serve para diferenciar o caráter aventureiro ou urbano de cada uma delas. 

Mas não dá para escapar do uso de plástico rígido em todo o painel de dos painéis das portas traseiras do mesmo material.

Espaço no banco de trás é bem reduzido para as pernas e ombros
Julio Cabral
Espaço no banco de trás é bem reduzido para as pernas e ombros

A posição de dirigir é naturalmente elevada. Ajustar altura e inclinação do banco dianteiro depende das alavancas posicionadas no lado direito, algo pouco prático e que é, ainda por cima, atrapalhado pelo apoio de braço central.

As reações da direção são boas para uma picape, sem tendências a desgarrar, a despeito do uso de eixo traseiro rígido. Na hora das curvas, a Strada Turbo mostrou a vantagem da refinagem da calibração de direção e dos novos amortecedores e bandejas. Embora a picapinha "embique" em frenagens, os freios com novas pinças dianteiras são eficientes. Não é incomum um carro receber pequenos upgrades dinâmicos quando ganha motor mais forte, foi assim com o VW up TSI, para citar um exemplo.

Foi possível pegar apenas um trechinho de rua de terra com areia, algo perfeito para testar o TC+, o nome que a Fiat dá para o seu controle de tração com bloqueio eletrônico, um truque que permite que a roda com mais tração receba a maior parte da força. Mesmo sob uma boa chuva, foi fácil partir da imobilidade sem destracionar - olha que não se tratava da Ranch e seus pneus de uso misto. Ainda sobre fora de estrada, a picape tem 18,5 cm de altura do solo e 23 graus de ângulo de entrada, 29 de ventrais e 22 de saída. Na ficha técnica da Ranch 1.3 antiga, a altura mínima do solo era de 19,6 cm.

Quanto ao espaço, me posicionei no banco traseiro para ter uma impressão de tamanho. Não tem jeito, a Chevrolet Montana  é maior e mais espaçosa. Na Strada, duas pessoas de menos de 1,80 m vão com menos conforto e a verticalidade do encosto não é melhor do que a da rival. 

A caçamba continua a ser um ponto alto; uso de eixo rígido atrás impede a intrusão das caixas de rodas
Julio Cabral
A caçamba continua a ser um ponto alto; uso de eixo rígido atrás impede a intrusão das caixas de rodas

Quando o assunto é carga, a Strada carrega até 650 kg (incluindo pessoas e afins) e sua caçamba tem 844 litros, contra 600 kg e 874 l da rival maior. 

Após o final do contato, fica claro que a estratégia da Fiat continua ser precisa, não foi por acaso que a Strada se tornou o carro mais vendido do Brasil. Segundo a marca, o mercado de 2020 (logo quando a nova geração chegou) comprava 95% dos modelos para trabalho e apenas 5% para lazer. No ano passado, a proporção passou a ser de 55% e 45%. Alguém duvida que a nova motorização 1.0 turbo 200 vai aumentar ainda mais esses 45% dos compradores que buscam a picapinha para o lazer?

Equipamentos de série

Ar-condicionado digital, central multimídia de sete polegadas (com Android Auto e Apple CarPlay sem fio), direção elétrica, bancos de couro, carregador de celular sem fio, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré com guias dinâmicas, além de airbags laterais e dianteiros, controles eletrônicos de tração e de estabilidade. O problema é que ela deve coisas que estão no Pulse Impetus de R$ 131.990, exemplo da frenagem autônoma de emergência e alerta de mudança involuntária de faixa, afora uma coisa que é primordial: chave de abertura remota e partida por botão. Ambos devem ainda airbags do tipo cortina.

Entretanto, o que pega realmente é a proximidade de preços com a Montana LTZ 1.2 turbo. Vendida por R$ 140.890, a picape da Chevrolet é maior, tem bom nível de equipamentos e, para bagunçar, tem motor 1.2 turbo de 133/132 cv e 21,4/19,4 kgfm de torque, um pouco mais potente e "torcudo". Segundo a Chevrolet, a aceleração de zero a 100 km/h leva 10,1 s, embora o consumo seja um pouco pior. A prova do líder contra o desafiante ficou mais turbinada. 


Ficha técnica

Motor: 999 cm3, dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, turbo, injeção direta, 130/125 cv a 5.750 rpm, 20,4 kgfm de torque a 1.750 rpm

Câmbio: automático do tipo CVT, tração dianteira

Direção: elétrica, com diâmetro de giro de 10,7 metros

Suspensão: McPherson na dianteira e eixo rígido na traseira

Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira

Pneus: 205/55 R16

Peso: 1.251 kg

Dimensões: 4,49 metros de comprimento; 1,73 m de largura (sem espelhos); 1,60 m de altura; 2,73 m de distância entre-eixos; tanque de combustível de 55 litros; caçamba de 844 litros, capacidade de carga de 650 kg

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