
A montadora chinesa Neta Auto enfrenta um processo de revisão de falência aberto contra sua controladora, a Hozon New Energy Automobile Co., Ltd. Segundo registros judiciais de 13 de maio de 2025, o caso foi movido pela Shanghai Yuxing Advertising Co., Ltd. e está sendo analisado pelo Tribunal Popular Intermediário de Jiaxing.
A crise da Neta vem após meses de dificuldades financeiras. Em março, fornecedores se reuniram na sede da empresa em Xangai exigindo pagamentos atrasados, o que levou a montadora a anunciar acordos de conversão de dívida em participação acionária com 134 fornecedores, totalizando mais de US$ 285 milhões (R$ 1,6 bilhão).
Paralelamente, a empresa tentava levantar entre US$ 570 e 640 milhões (R$ 3,21 a R$ 3,61 bilhões) em uma rodada de financiamento Série E. O aporte principal de US$ 430 milhões (R$ 2,42 bilhões), prometido para abril, ainda não foi liberado até meados de maio, segundo fontes internas.
Apesar das dificuldades na China, a subsidiária tailandesa da Neta afirma que continuará com produção e vendas normalmente. Sun Baolong, gerente-geral da operação tailandesa, declarou que a empresa está em negociações com um novo grupo de investidores estrangeiros para reestruturar a companhia.
Sintoma de um problema maior
O caso da Neta Auto representa apenas um sintoma de um fenômeno maior no mercado chinês de veículos elétricos, conforme indicam dados compilados por diversas fontes do setor.
Segundo relatórios setoriais citados pela Bloomberg, o mercado chinês de EVs atraiu aproximadamente US$ 100 bilhões (R$ 564 bilhões) em investimentos entre 2020 e 2025, incluindo US$ 11,8 bilhões (R$ 66,55 bilhões) apenas da Volkswagen, conforme divulgado pela própria montadora alemã.
A Neta Auto não é a primeira a enfrentar dificuldades severas. Registros públicos mostram que a Byton, após receber investimentos de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,77 bilhões), declarou falência em 2023. A Bordrin encerrou operações em 2021, conforme documentado em relatórios da indústria automotiva chinesa.
Somente em 2023, 15 startups chinesas de veículos elétricos encerraram suas atividades, de acordo com levantamento da Bloomberg. Este número evidencia a fragilidade de um modelo de negócios que dependia fortemente de capital especulativo e subsídios governamentais.
O fim da era dos subsídios
Dados da China Passenger Car Association mostram que o governo chinês reduziu os subsídios federais para veículos elétricos em 50% desde 2020. Esta política afetou principalmente as startups menores, que perderam acesso a incentivos significativos.
Documentos oficiais do governo de Hainan revelam que algumas províncias mantiveram subsídios locais que podem chegar a 40% do preço do veículo. No entanto, análises da Bloomberg indicam que essa dependência de apoio regional limita a capacidade de expansão nacional das empresas.
Um relatório da Goldman Sachs, citado pela Bloomberg, prevê que 70% das startups de veículos elétricos na China fecharão até 2030 devido à guerra de preços e aos custos elevados das baterias. A consultoria McKinsey, em análise própria, destaca a sobrecapacidade produtiva no setor.
O Morgan Stanley, em documento aos investidores também citado pela Bloomberg, aponta a dependência excessiva de subsídios como um risco macroeconômico para o setor. Estas análises convergem para um cenário de consolidação acelerada no mercado chinês de EVs.
Concentração de mercado
Estatísticas da China Passenger Car Association, reproduzidas pelo portal Valor Econômico, mostram uma concentração crescente no setor. A BYD, que detinha 28% do mercado em 2022, aumentou sua participação para 34% em 2025, com crescimento de 56,2% nas vendas.
A Tesla China também ampliou sua fatia de 12% para 15% no mesmo período, segundo os mesmos dados. Enquanto isso, marcas como NIO perderam espaço, caindo de 7% para 6%, conforme registrado nos relatórios trimestrais da própria empresa.
Os indicadores financeiros publicados pela BYD revelam um lucro líquido de 12,8% em 2025, enquanto a Li Auto reportou uma margem bruta de 21,3% em seus documentos oficiais, demonstrando que modelos de negócios sustentáveis são possíveis no setor.
Por outro lado, relatórios financeiros da NIO apresentam uma relação dívida/PIB de 180% e queda de 31% nas vendas de veículos elétricos a bateria. A Xiaomi, em comunicados oficiais, confirmou investimentos de US$ 10 bilhões (R$ 56,4 bilhões) em EVs sem ter modelos em produção até 2025.