
Enquanto as montadoras tradicionais ainda hesitam em trazer elétricos acessíveis ao Brasil, a BYD ataca este segmento com força total. O Dolphin Mini chega com proposta clara: oferecer mobilidade elétrica a um preço comparável ao de hatches compactos a combustão. Fomos conhecer de perto este pequeno "amplificador" da eletrificação no mercado brasileiro.
Com 3,78 metros de comprimento, o Dolphin Mini lembra bastante o primeiro Honda Fit em suas proporções. A carroceria é alta com dianteira curta e inclinada, aproveitando bem o espaço interno.
O visual é moderno e distintivo, diferenciando-se do irmão maior Dolphin com identidade própria. As rodas aro 16 e os faróis em LED completam o conjunto, dando um ar contemporâneo ao compacto chinês.

Primeiras impressões
Ao entrar no veículo, nos deparamos com um interior surpreendentemente bem acabado para a categoria. O painel combina plásticos rígidos com superfícies acolchoadas em tom azul-escuro, criando um ambiente agradável e moderno.
A central multimídia de 10,1 polegadas é um dos destaques, com tela giratória que pode ser usada na horizontal ou vertical. O sistema é compatível com Android Auto (sem fio) e Apple CarPlay (por cabo), além de contar com comandos de voz bem funcionais - basta dizer "Hi, BYD" para ativar o assistente.

O ar-condicionado tem controles digitais, mas não oferece função automática ou regulagem por temperatura predeterminada. Seus comandos ficam em parte na tela e parte em botões físicos abaixo dela, onde também encontramos os seletores de marchas e modos de condução.
Espaço interno
Uma das limitações do modelo que testamos é a configuração para apenas 4 passageiros, o que impede seu uso como carro de aplicativo. A Dolphin Mini tem também uma versão de 5 lugares, que custa R$ 122.800.
Mesmo com esta limitação, o espaço interno surpreende. Os bancos dianteiros oferecem bom conforto, com ajuste elétrico para o motorista. No banco traseiro, há espaço adequado para as pernas, mas três adultos ficariam apertados nos ombros - o que explica a opção inicial pela configuração 2+2.

O porta-malas é um ponto fraco, com apenas 230 litros de capacidade, mas ainda regula com concorrentes do segmento. O GWM Ora 03, tem 228 litros de capacidade no porta-malas. Os dois têm espaço comparável ao do Fiat Mobi, em um exemplo de compacto a combustão.

Uma reclamação frequente quanto ao BYD Dolphin Mini é a falta de limpador de para-brisa traseiro. Em dias muito chuvosos, o artigo poderia melhorar a visibilidade, mas não de forma muito relevante.

Desempenho e condução
O motor elétrico de 75 cv e 13,8 kgfm de torque pode parecer modesto no papel, mas na prática entrega um desempenho equivalente a um motor 1.3 aspirado. Considerando o peso de 1.239 kg (mais pesado que concorrentes a combustão devido às baterias), a relação peso/potência de 16,5 kg/cv resulta em um desempenho adequado para o uso urbano.
Em nossos testes, o Dolphin Mini levou 14,5 segundos para ir de 0 a 100 km/h, com velocidade máxima limitada a 130 km/h. O torque instantâneo característico dos elétricos garante boas arrancadas no trânsito, embora não tenha a "patada" de modelos elétricos mais potentes.
A direção é leve e precisa, ideal para manobras urbanas. O carro oferece três modos de condução: Eco, Normal e Sport, além de dois níveis de regeneração de energia. Mesmo no nível mais intenso de regeneração, é necessário acionar os freios em desacelerações mais bruscas. Mesmo assim, a regeneração intensa ajuda a gastar menos freio e gerar mais energia, além do conforto de mover menos os pés entre pedais.
O único ponto que realmente incomodou foi a suspensão. O acerto parece subdimensionado para as ruas brasileiras – em São Paulo, são muitas ruas em que o carro balança bastante. A carroceria também apresenta oscilação lateral acima do desejável em curvas mais fechadas, prejudicando o conforto especialmente dos passageiros.
Autonomia e recarga
Um dos grandes destaques do Dolphin Mini é sua autonomia. Com bateria de 38 kWh, o carro é homologado pelo Inmetro para percorrer 280 km com carga completa - 50% a mais que o Renault Kwid E-Tech, seu principal concorrente.
Em nossos testes, percebemos que o gerenciamento de energia é um dos pontos fortes do modelo. É fácil superar os 300 km de autonomia real. Isso coloca o Dolphin Mini em posição confortável para uso urbano e até mesmo para viagens curtas entre cidades.
A recarga completa em carregador residencial (7 kW) leva cerca de 6 horas. Em carregadores rápidos de 40 kW, é possível ir de 30% a 80% da bateria em aproximadamente 30 minutos. O custo para uma recarga completa em casa fica em torno de R$ 34, considerando a média das tarifas de energia.
Tecnologia e equipamentos
Apesar do preço acessível para a categoria, o Dolphin Mini vem bem equipado. A lista inclui:
- Faróis de LED com acendimento automático
- Acesso e partida por chave presencial
- Rodas aro 16
- Freio de estacionamento eletrônico
- Airbags laterais e de cortina
- Controle de cruzeiro
- Câmera e sensores de estacionamento traseiros
- Freios a disco nas quatro rodas
- Navegação embarcada
- Assistente pessoal por comando de voz
- Carregador por indução para smartphones
- Banco do motorista com ajuste elétrico
Há algumas simplificações, como apenas um limpador de para-brisa dianteiro, alto-falantes apenas na frente e fechamento com um toque só para o vidro do motorista. O painel não é totalmente digital, combinando uma tela colorida de 7 polegadas no centro com visores de cristal líquido nas extremidades.
Valores
O BYD Dolphin Mini está disponível em duas configurações:
Versão 4 lugares: R$ 118.800
Versão 5 lugares: R$ 122.800
Estes valores colocam o modelo em competição direta com hatches compactos a combustão como Chevrolet Onix LTZ, Volkswagen Polo Comfortline 170TSi e Hyundai HB20 Limited Safety, todos na faixa dos R$ 115 mil.
Conclusão
Com preço competitivo, boa autonomia e lista de equipamentos generosa, o compacto chinês entrega uma proposta de valor difícil de ignorar.
Suas limitações - suspensão com acerto questionável, porta-malas pequeno e configuração para apenas 4 passageiros na versão testada - são compensadas pela economia de uso, tecnologia embarcada e custo de aquisição acessível para um elétrico.
Para quem busca entrar no universo da eletrificação sem gastar uma fortuna, o Dolphin Mini é uma opção extremamente interessante, capaz de atender bem às necessidades de mobilidade urbana com o benefício adicional de zero emissões.