Tesla iniciou oficialmente no último fim de semana a operação de seus primeiros robotaxis comerciais
Reprodução/Reuters/Joel Angel Juarez
Tesla iniciou oficialmente no último fim de semana a operação de seus primeiros robotaxis comerciais

A Tesla iniciou oficialmente a operação de seus primeiros robotaxis comerciais, veículos autônomos sem motorista que transportam passageiros pagantes em uma zona controlada da cidade de Austin, nos Estados Unidos.

O lançamento — limitado a cerca de 10 a 20 unidades modificadas do modelo Model Y — marcou o início de uma nova fase da montadora na corrida pelo domínio da mobilidade urbana do futuro.

Cada viagem custa US$ 4,20 (cerca de R$ 23) e pode ser solicitada por meio de um aplicativo próprio. Os veículos não têm motorista de segurança, e as rotas são predefinidas por georreferenciamento.

A proposta, segundo o CEO Elon Musk, é revolucionar o transporte urbano com um serviço de mobilidade sob demanda completamente autônomo.

A notícia impulsionou as ações da Tesla na bolsa. Os papéis subiram quase 10%, fechando a segunda-feira (23) em US$ 354,19 (R$ 1.948), e aumentaram significativamente o valor de mercado da empresa em apenas algumas horas.

Oportunidade bilionária ou promessa prematura?

Analistas e investidores rapidamente reagiram ao anúncio. Para Dan Ives, da Wedbush Securities, ao The Economic Times, trata-se de um "momento histórico", com potencial de inaugurar "uma era de ouro" para a Tesla.

Ives elevou o preço-alvo das ações da companhia para US$ 500 (R$ 2.750). Já Joseph Spak, do UBS, adotou uma visão mais cautelosa. Apesar de ter ajustado seu preço-alvo para US$ 215 (R$ 1.182), manteve a recomendação de venda, apontando que boa parte da euforia já estaria precificada no mercado.

Um robotáxi da Tesla circula pela South Congress Avenue em Austin
Reprodução/Reuters/Joel Angel Juarez
Um robotáxi da Tesla circula pela South Congress Avenue em Austin

Para os especialistas, o sucesso do projeto poderia redefinir o modelo de negócios da Tesla, que deixaria de focar apenas na venda de automóveis para atuar fortemente como prestadora de serviços de mobilidade.

Elon Musk já declarou que pretende ter "centenas de milhares" de robotaxis em circulação até 2026, além de permitir que donos de Tesla integrem seus carros à frota para geração de receita passiva.

Contudo, há obstáculos significativos no caminho. Especialistas como Philip Koopman, da Universidade Carnegie Mellon, alertam à Reuters que treinar algoritmos para lidar com "casos extremos" — situações imprevisíveis no trânsito — pode levar anos.

“Isso é o fim do começo, não o começo do fim”, afirmou o professor, que acompanha há décadas o avanço da direção autônoma.

Tecnologia exclusiva e regulação à vista

O diferencial da Tesla está na arquitetura do sistema. Enquanto concorrentes como Waymo e Cruise utilizam sensores a laser (lidar), radares e monitoramento remoto, a Tesla aposta exclusivamente em câmeras e inteligência artificial, por meio do software proprietário Full Self-Driving (FSD).

Essa abordagem reduz custos e segue a filosofia de priorização do software, mas também acende alertas sobre segurança.

Ações da Tesla subiram após anúncio
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Ações da Tesla subiram após anúncio

A Administração Nacional de Segurança no Trânsito dos EUA (NHTSA) já iniciou a revisão do programa de Austin. Além disso, o Texas implantará, a partir de setembro, uma nova legislação que exige permissões específicas para serviços de veículos autônomos — o que pode afetar a operação da Tesla e atrasar a expansão para outras cidades, como Los Angeles, Miami e São Francisco.

Outra limitação está nas condições de operação. As corridas são realizadas apenas com tempo estável, evitam cruzamentos complexos e proíbem passageiros menores de idade. Segundo a própria empresa, a prioridade é segurança total — algo que Musk chamou de “super paranoica”.

O histórico da Tesla com promessas nesse campo também é controverso. Desde 2016, o CEO anuncia publicamente que a empresa estaria próxima de lançar carros completamente autônomos, o que nunca se concretizou.

A comparação com rivais reforça esse contraste: a Waymo, pertencente à Alphabet, já opera com cerca de 1.500 robotaxis em cidades norte-americanas e planeja duplicar a frota até 2026.

Futuro em disputa

A estreia dos robotaxis em Austin pode representar um divisor de águas na mobilidade urbana, mas também expõe os riscos associados à pressa em escalar soluções tecnológicas complexas.

Um robotáxi da Tesla circula pela South Congress Avenue em Austin
Reprodução/Reuters/Joel Angel Juarez

Um robotáxi da Tesla circula pela South Congress Avenue em Austin

A Tesla tem a vantagem da produção em massa e da popularidade global, mas enfrenta um caminho estreito entre inovação e responsabilidade.

A principal questão agora é se a empresa conseguirá manter o ritmo de crescimento sem comprometer a segurança, a confiança do público e o escrutínio regulatório.

Como afirmou Bryant Walker Smith, professor de direito especializado em tecnologia autônoma: “É como anunciar que vai para Marte e, na verdade, chegar a Cleveland”.

Se a Tesla conseguirá concluir essa viagem ou não, dependerá menos de promessas e mais da capacidade de entregar resultados sustentáveis em um mercado ainda em formação.

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