
Comprar um carro elétrico ou híbrido deixou de ser apenas uma curiosidade tecnológica. Para muita gente, se tornou uma decisão prática: entender custos reais, autonomia, infraestrutura e o que muda na rotina.
A dúvida, porém, é a mesma para quase todo mundo: como saber qual tecnologia faz sentido para o seu uso?
Para responder a essas questões, conversamos com Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), que detalhou o impacto dos impostos, a evolução da rede de recarga e as diferenças de operação entre elétricos e híbridos.
A partir das respostas, este guia do Portal iG reúne orientações práticas e dados de contexto para ajudar motoristas a comparar opções e evitar equívocos comuns na hora de eletrificar a garagem.
Programas, preços e impacto da eletrificação
As novas regras do IPI alteraram a tributação de todos os segmentos, com tratamento mais favorável aos veículos elétricos puros. Bastos explica que o híbrido que opera com gasolina ficou penalizado.
“No caso dos híbridos que ainda usam gasolina com 30%, houve aumento de até três pontos percentuais no IPI”, disse.
O especialista explica que o consumidor não precisa cumprir nenhum requisito especial para ter acesso aos benefícios aplicados ao IPI. A tabela já está vigente na concessionária.
Ele acrescenta que a parcela do programa chamada Carro Sustentável não contempla modelos eletrificados.
“Não existe nenhum veículo híbrido ou elétrico enquadrado nessa parte do programa. Foi uma decisão do governo, embora a ABVE já tenha pleiteado a inclusão.”
Sobre preços, Bastos reforça que a concorrência estrangeira mudou o cenário recente. Ele afirma que a entrada das marcas eletrificadas trouxe redução não apenas para os carros elétricos e híbridos, mas também para veículos a combustão.
O especialista explica que os SUVs médios e médios-grandes tiveram recuo de até R$ 60 mil entre 2023 e 2024, e ainda observa que o segmento de entrada ficou mais acessível.
“Hoje você tem vários carros elétricos próximos de R$ 100 mil. É um movimento que ampliou o acesso e estimulou inclusive frotas, locação e assinatura.”
Infraestrutura de recarga e uso na prática
A expansão da infraestrutura acompanha o ritmo das vendas e, segundo Bastos, ocorre exclusivamente por investimento privado. Não há dinheiro público nesse processo. A rede cresce porque acompanha a venda de veículos elétricos e híbridos plug-in.
O avanço começou no Sul, Sudeste e Distrito Federal e agora se estende para outras regiões. Brasília é considerada uma "ilha" importante para puxar a eletrificação no Centro-Oeste.
Quanto ao carregamento doméstico, Bastos lembra que as montadoras costumam fornecer o carregador.
“O consumidor não precisa investir no equipamento, apenas na instalação, que normalmente custa de R$ 3 mil a R$ 4 mil.”
Em tomadas convencionais, recargas completas podem levar até cinco horas; em carregadores rápidos, o tempo pode cair para menos de 30 minutos, dependendo da potência.

Para quem recarrega majoritariamente em casa, o tempo efetivo resume-se ao ato de conectar o cabo, como explicou Clemente Gauer ao Portal iG neste ano:
“Para cerca de 80% dos brasileiros, o tempo de recarga são apenas três ou quatro segundos: o tempo de conectar o cabo e ir dormir.”
A escolha entre híbrido e elétrico depende do deslocamento. Bastos explica que o híbrido tende a ser mais vantajoso para quem percorre longas distâncias, onde a infraestrutura de recarga ainda não está presente.
O elétrico, por outro lado, é ideal para uso urbano e rotinas com carregamento diário. Ele também detalha a diferença prática entre as tecnologias.
“No elétrico puro, você depende da infraestrutura em viagens longas. O híbrido oferece a experiência elétrica, mas tem a segurança do motor a combustão, que está disponível em qualquer lugar do Brasil.”
Custos, manutenção e vida útil das baterias
No pós-compra, a redução de custos é um dos principais atrativos dos elétricos. Bastos explica que vários sistemas deixam de existir.
“Freios, óleos, fluidos… tudo isso pertence ao universo do motor a combustão. No elétrico, esses gastos desaparecem.”
Além da economia em revisões, ele destaca que até mesmo o uso e abastecimento são mais vantajosos: "O carro elétrico exige menos intervenção e simplifica a rotina"Sobre baterias, Bastos afirma que o padrão de garantia no país gira em torno de oito anos e que a vida útil acompanha a do carro.
“É uma máquina: se você usa muito, desgasta mais rápido; se usa moderadamente, desgasta menos.”
Segundo Gauer, “a ‘saúde’ de um elétrico resume-se basicamente ao estado de saúde da bateria”, e scanners verificam a degradação, que costuma ficar entre 6% e 8% a cada 100 mil km.
A ABVE também lembra que já existem empresas especializadas em reciclagem, e que os componentes seguem padrões internacionais de vedação e isolamento contra água.
Mudanças no comportamento do consumidor
A popularização dos elétricos estimulou novos modelos de posse. Assinatura, locação e carsharing se tornaram caminhos para experimentar a tecnologia antes da compra.
Segundo Bastos, esse comportamento tem crescido rapidamente.
“Muitos consumidores querem testar o elétrico por algum tempo antes de decidir pela compra. Essa possibilidade ajuda a derrubar mitos e acelerar a adoção.”
Grandes locadoras já oferecem modelos de entrada e premium, enquanto seguradoras ampliaram serviços de assinatura.
Empresas de compartilhamento permitem usar o carro por hora ou minuto.
Essa variedade abriu espaço para motoristas de aplicativo e pequenas empresas que buscam custos operacionais mais baixos.
Segurança, desempenho e mitos ainda presentes
A ABVE reforça que carros elétricos seguem padrões rigorosos de segurança, inclusive em situações de chuva ou enchentes.
Em entrevista ao iG, Gauer afirmou: “Os componentes elétricos dos veículos elétricos são protegidos por rigorosos padrões internacionais de isolação e vedação contra a entrada de água.”
O desempenho também chama atenção. Modelos como o BYD Seal aceleram na mesma faixa de superesportivos de mais de R$ 1 milhão, e testes internacionais mostram superioridade de torque e resposta imediata.
Episódios virais envolvendo incêndios alimentam receios, mas a associação diz que não refletem a realidade estatística.
Gauer afirma que elétricos podem ser até 62 vezes mais seguros que modelos a combustão da mesma idade.
O que observar antes de escolher elétrico ou híbrido
Tipo de uso:
Elétricos favorecem rotinas urbanas e recarga diária. Híbridos plug-in ou convencionais atendem melhor deslocamentos longos.
Custos reais:
Elétricos reduzem manutenção e eliminam gastos com fluidos de motor. A instalação residencial varia conforme o prédio.
Infraestrutura disponível:
Sudeste, Sul e Brasília concentram a maior rede pública. Expansão segue para Norte e Nordeste.
Garantia e bateria:
Garantias de oito anos são padrão, e a vida útil tende a acompanhar a do veículo.
Alternativas de uso:
Locação, assinatura e carsharing permitem testar modelos sem investimento inicial elevado.