Para jornalistas radiciais não é “a” Ferrari, mas sim “o” Ferrari, contrariando a “Lei Carsughi” ao se referir ao carro
Wolfang
Para jornalistas radiciais não é “a” Ferrari, mas sim “o” Ferrari, contrariando a “Lei Carsughi” ao se referir ao carro


Sabe aquele seu amigo que vive chamando alguns carros pelo gênero feminino? Então. Ele está errado! Ofende a gramática e vai contra a convenção adotada por quase toda a mídia automotiva. Parece estranho, mas alguns carros sempre aparecem com artigos ou pronomes no feminino não apenas na voz, mas também em posts nas redes sociais. Normalmente, eles aparecem vinculados a carros de maior potência, mas não necessariamente.

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 Alguns exemplos comuns são: “a” Porsche, “uma” BMW, “aquela Pajero”, “minha” Land Rover”. Mas os artigos e pronomes femininos aparecem também em carros mais simples, como “a” EcoSport, “aquela” Brasília, “minha” Tracker etc. Pois bem. Mesmo em carros como Brasília e Mercedes, que são nomes femininos, usar o artigo ou pronome feminino está errado quando estamos falando de carro. Por uma simples razão: respeito às regras do português.

 Afinal, o carro é um substantivo masculino. O automóvel também. E o veículo idem! Por que, então, algumas pessoas insistem em se referir aos carros no gênero feminino? É difícil saber a origem, mas a Itália e a França são duas boas pistas. Na Itália, o carro também é masculino, “il auto”, mas popularmente as pessoas se referem a eles como “a máquina”, “la machinna”. Na França é a mesma coisa. O automóvel é masculino, “l’automobile”, porém é muito usada a palavra viatura, que é feminina, portanto “la voiture”.

Nada mais estranho do que falar “a” Mustang, mas se a regra vale para o EcoSport, por que não?
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Nada mais estranho do que falar “a” Mustang, mas se a regra vale para o EcoSport, por que não?


 Isso encerra a questão? Não! Na França, também se diz “la Seine” para o rio Sena. Ou seja, eles não dizem “o” Sena, mas “a” Sena. Mas aqui no Brasil, convenhamos, não tem sentido dizer “a” rio Amazonas ou naveguei “pela” rio São Francisco. Tampouco dizemos “a” Tietê ou “a” Paraná quando nos referimos a esses rios. Cada língua é uma língua e a nossa tem origem em Portugal, onde o carro e o automóvel são substantivos masculinos.

 Não faz o menor sentido dizer “a” Ford Edge, “a” Porsche Boxster, “a” Mitsubishi Pajero se não podemos dizer “a” Ford Mustang, “a” Chevrolet Camaro ou “a” Volkswagen Up. Já pensou: “Comprei uma Up. Dei minha Monza de entrada, mas tenho saudade mesmo da minha Corcel”. É feio. É errado. É possível também que muitos tenham adquirido esse hábito por causa das corridas de Fórmula 1, onde se fala muito “a” Lotus, “a” McLaren e, claro, “a” Ferrari.

Você viu?

 Certa ocasião, na revista Quatro Rodas, muitos anos atrás, o jornalista Claudio Carsughi, um italiano que vive no Brasil há mais de 70 anos, adotou uma regra: “Todos os carros são masculinos, mas abrimos uma exceção para a Ferrari”. No meio automotivo, essa regra curiosa ficou conhecida como “ Lei Carsughi ” e até hoje é usada pela maioria dos jornalistas especializados.

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Pode reparar nas reportagens escritas (ou mesmo faladas) que o carro tem gênero e ele é masculino, mesmo quando tratamos de palavras femininas, portanto é correto dizer “o” Mercedes Classe C, “o” BMW Série 3, “o” Maserati Quattroporte, “o” Lotus Elise.

Os carros e a "Lei Carsughi"

Você diria que “aquela” Opala deixou saudades? Bem, se falam “a” Corvette, por que não?
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Você diria que “aquela” Opala deixou saudades? Bem, se falam “a” Corvette, por que não?

Muitos jornalistas especializados ignoram a “Lei Carsughi” e se referem ao carro no masculino até mesmo no consagrado caso da Ferrari. Portanto, é “o” Ferrari La Ferrari, “o” Ferrari F40 e por aí vai. Faz sentido. Normalmente, esses jornalistas são também engenheiros e não abrem mão desses mínimos detalhes. Agora, toda regra, tem exceção.

 Além da Ferrari, costuma-se abrir exceção para as picapes. Exemplos: “a” Montana, “a” Courier, “a” Frontier, “a” S10. Isso não agride os ouvidos. Antes também havia exceções para peruas e minivans, mas elas quase não existem mais, pois os carros agora quase sempre têm o mesmo nome em sua família. Ou seja: é estranho dizer “o” Palio e em seguida falar “a” Palio Weekend. Por isso, se vocês repararem, a Fiat refere-se até à picape Toro como “o” Toro.

 Bem, no final, o que tudo isso significa? Nada, a não ser um pouquinho de cultura e de respeito gramatical num tempo em que a ignorância tem sido vista como virtude. Se até mesmo em meios oficiais encontramos quem despreze o estudo e a Ciência, por que os cidadãos vão ter que falar “o” Edge e não “a” Edge?

Afinal, como disse uma amiga, “o carro é meu e eu chamo do jeito que eu quiser”. Sim, é fato. Mas isso também dá a todo mundo o direito de falar “a” Fusca, “a” Monza, “aquela” Mustang, “minha” Up e isso é uma agressão à nossa língua, tão bela como nenhuma outra no mundo.

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 À espera dos comentários furibundos de quem não gosta de respeito às regras gramaticais, fico por aqui, porque tenho que escrever uma avaliação “da” Kwid, a viatura que dirijo atualmente, mas logo estarei a bordo de “uma” Civic e depois de “uma” Golf.

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