A Ford anuncia a saída de seu CEO, Mark Fields. O executivo que substituiu Alan Mulally vinha sofrendo muita pressão pela queda no lucro e dos valores das ações da empresa – segundo a Forbes, a fabricante perdeu quase 40% de seu valor desde que Fields assumiu o comando. Em seu lugar entra Jim Hackett, ex-Steelcase e que estava no comando da divisão de autônomos da Ford.
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Fields estava na Ford há 28 anos, onde atuou em diversas posições de comando, incluindo chefe de operações da Ford das Américas, comandou a Ford Argentina, foi CEO da Mazda (na época que era da marca americana) e da Premier, unidade de luxo que incluía Lincoln, Aston Martin, Jaguar, Land Rover e Volvo. Subiu para o comando das operações da Ford global em 2012. Teve a difícil tarefa de substituir Alan Mulally, executivo que recebeu prêmios por sua liderança e fez com que a Ford aguentasse a crise econômica de 2008.
Segundo a revista Forbes, a situação de Fields era insustentável. Os acionistas viram que o executivo não tinha a mesma capacidade de liderança que Mulally, sem conseguir tomar decisões críticas ou conduzir os funcionários. “Sem Alan, voltamos a ter loucos comandando o hospício”, disse uma fonte da publicação.
O problema, de acordo com a Forbes, estava na estratégia de Mark Fields , que investia em tecnologia para o futuro, mas deixou de lado o presente. A marca já projeta um lucro bruto de US$ 9 bilhões, contra US$ 10,4 bilhões do ano passado. As vendas de carros de passeio, como Fusion Focus e Mustang, caíram 22,1% em abril, o dobro do que o resto da indústria. Mesmo seus SUVs, como Escape e Explorer, cresceram pouco comparado aos rivais. O único modelo que ainda tem sucesso é a linha F-Series de picapes.
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Problemas no Brasil
Esse erro de estratégia também afeta o mercado nacional. A Ford perdeu muito espaço em 2016, quando fechou o ano como a quinta marca que mais vendeu carros, ultrapassada pela Hyundai. Se somar comerciais leves, a situação piora, pois cai para a sexta colocação, abaixo da Toyota. Seu alívio em 2017 está na queda da Fiat, que está se dando mal com a falta de um carro competitivo de maior volume.
A reação da Ford está lenta. Seu carro mais vendido é o Ka, o terceiro mais emplacado do Brasil, mas muito abaixo dos líderes Chevrolet Onix e Hyundai HB20, além da ameaça do Volkswagen Gol, que está subindo. Ainda não dá sinais de que irá realizar sua mudança de meio de vida. Outros modelos, como Fiesta e Focus, perderam apelo – o hatch médio já foi líder do segmento, agora é o terceiro e sem pique para alcançar os rivais.
Quem poderia ajudar a situação da marca é o novo EcoSport, a versão renovada do SUV compacto. Ex-líder do segmento, vê suas chances de voltar a brilhar cada vez mais longe, culpa de seu atraso para chegar às lojas – a Ford deu prioridade para o lançamento nos EUA. E acabou dando tempo para que o segmento ficasse lotado de concorrentes de peso.
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O Honda HR-V continua vendendo bem, só que é limitado pela produção da fábrica paulista em Sumaré (que também faz City, Civic, Fit e WR-V); o Jeep Renegade perdeu um pouco de apelo com a chegada do irmão maior Compass; o Nissan Kicks teve uma queda na transição entre o modelo mexicano e brasileiro; o Hyundai Creta está subindo cada vez mais e já é o terceiro SUV compacto mais vendido. Mesmo o Duster, antigo rival, está sempre na cola do Eco nas vendas.