Existem muitas discussões sobre como o mundo foi construído de homens para homens. Caso contrário, os banheiros femininos teriam o dobro de capacidade do que vemos nos dias de hoje. Enquanto homens vão aos práticos mictórios para fazerem o “trabalho rápido”, moças agonizam em uma longa e extenuante fila por levarem - em média - mais que o dobro do tempo no toalete. Sem falar nos riscos e infecções.
As teclas do piano, a altura de uma estante e até mesmo a tela de um celular foram projetados levando em conta a envergadura média do corpo masculino. O tamanho médio das telas de celulares é bem maior que a própria mão de uma mulher . O mais interessante é que elas compram mais celulares que eles, de acordo com uma pesquisa publicada pela Huawei. Não faria mais sentido financeiro ter uma amplitude baseada em mãos femininas?
Também sabemos que o mundo automotivo é essencialmente masculino. Poucas mulheres ocupam cargos altos entre as fabricantes, com a exceção de Mary Barra, na General Motors e Ana Theresa Borsari da Peugeot-Citroën do Brasil.
No automobilismo, os garotos se esforçaram mais para tirar Bia Figueiredo da pista que vencer a corrida, e Danica Patrick não ganhou sua tão sonhada oportunidade na Fórmula 1 . Mas isso pode ir muito além das moças que trabalham na indústria. Também pode afetar você e as pessoas ao seu redor.
Pode não fazer muito sentido de início, mas os carros não foram projetados para bater com uma mulher dentro. Confira o vídeo de crash-test que separamos mais abaixo e veja se qualquer um dos dummies - apelido dos manequins utilizados nas medições - representa o seu corpo.
Você viu?
Prazer, dummy!
Dummies são complexos. As informações coletadas nos crash tests incluem diversas variáveis, como a medição da velocidade de impacto, força G, torção e desaceleração. Eles também podem medir o impacto nas costelas, espinha dorsal e pélvica. Por outro lado, retratam o corpo médio de um homem, considerando sua posição de dirigir.
Por mais que mulheres estejam envolvidas em menos acidentes que homens, a chance de terem ferimentos graves são 47% maiores, conforme publicado pelo artigo Gendered Innovations. Da mesma forma, o risco de morte também é 17% maior.
Isso pode ser explicado pela posição de dirigir. Por conta da altura média e tamanho dos braços, mulheres costumam ficar mais próximas ao volante . A distância dos pedais também é um empecilho, uma vez que o ângulo dos joelhos e quadril também deixam as moças mais vulneráveis em colisões frontais. E basicamente, carros não são testados considerando estas posições.
No caso de colisões traseiras, a chance de lesão também é maior para mulheres. Por serem mais leves, elas são projetadas para trás com mais velocidade, considerando também que possuem menos músculos no pescoço.
Um dos testes na homologação de carros para a União Europeia aponta a obrigatoriedade de colisões utilizando dummies que representem a população feminina. E mesmo assim, existem muitas lacunas. Para começar, estes manequins são testados apenas no banco do passageiro, sem considerar a posição diferenciada que as mulheres utilizam para dirigir. Além disso, os dummies não são necessariamente femininos . Tratam-se apenas de manequins masculinos em escala reduzida.
Caroline Perez, autora do livro Invisible Women: Exposing Data Bias in a World Designed for Men (ou Mulheres Invisíveis: expondo dados de um mundo projetado para homens), ainda se aprofunda nos crash tests para mulheres grávidas.
Mulheres grávidas
Por mais os que dummies que representem moças em gestação tenham sido criados em 1996, os testes ainda não são obrigatórios nos Estados Unidos. Vale dizer que acidentes de carro são as principais causas de morte de fetos em desenvolvimento no país. Uma pesquisa realizada em 2004 também sugere que o cinto de segurança convencional não é adequado para 62% das mulheres em gestação, a partir do oitavo mês.
Alguns institutos de pesquisa já trabalham com dummies que representam fielmente o corpo de uma mulher - não apenas o manequim encolhido de um homem. Apesar de ser apenas um protótipo, a União Europeia já está encaminhando testes para homologação. Resta saber se este é um começo.