A notícia de que a Ford
estava fechando suas fábricas no Brasil após 101 anos produzindo veículos caiu como uma bomba na indústria automotiva no começo de 2021. Cerca de 5 mil trabalhadores perderam seus empregos, levando as cidades de Camaçari (BA) e Horizonte (CE) ao desespero. Neste cenário, milhões proprietários de veículos nacionais da Ford
também ficaram assustados.
Afinal, o que donos de Ka , Ka Sedan ou EcoSport devem fazer agora que a fabricante descontinuou os modelos no Brasil? A reportagem do iG Carros consultou especialistas do mercado automotivo para entender qual é a melhor iniciativa a ser tomada nos próximos meses.
Paciência
O consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive, afirmou que no primeiro momento, é natural que proprietários de carros nacionais da Ford fiquem assustados, mas ressalta que o mercado irá se ajustar em breve .
“Se o proprietário vender o carro agora, no calor do momento, pode perder dinheiro. Se esperar alguns meses, vai ver que continua inserido no mesmo mercado de antes”, afirma Garbossa à reportagem do iG.
“É preciso ter paciência para não tomar atitudes precipitadas. Você comprou o carro porque gostou. Ele te atende, e isso é o que importa”, continua o especialista. “Use o carro. Na hora que for vender, você vai se encontrar no mesmo mercado de sempre”.
Paulo Garbossa também ressalta que Ka, Ka Sedan e EcoSport continuam bem servidos de peças de reposição , independentemente de terem saído de linha. “Tome o Celta como exemplo. Ele foi descontinuado pela GM há muitos anos, mas a demanda por ele nunca caiu. No mercado, não faltam peças do Celta. Isso também acontecerá com os seminovos da Ford”, finaliza.
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Desequilíbrio entre oferta e demanda
A KBB Brasil, analista de preços de carros novos e usados, ressalta que apesar da provável diminuição da rede de pós-venda da Ford , a companhia não vai deixar de atender seus clientes com as concessionárias que permanecerem.
“Já para quem está querendo trocar de carro, o ideal seria esperar o impacto da notícia arrefecer para mitigar os possíveis efeitos de maior desvalorização que estes modelos estariam sofrendo atualmente, já que pode haver um desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Quanto maior for o volume de pessoas querendo vender seus carros , maior pode ser o efeito de desvalorização”, informa a KBB.
Reserva financeira
A InstaCarro, plataforma que faz intermediação de vendas de carros seminovos, avalia que o proprietário deve levar em conta o momento peculiar do Brasil em 2021, com crise econômica e pandemia fora de controle . “Pensando racionalmente, o ideal seria manter o veículo ou vendê-lo para ter uma reserva financeira. Comprar outro ainda não. Isso vale para donos de Ford ou de qualquer outra marca”, diz a plataforma.
Os analistas de mercado da InstaCarro avaliam que o primeiro ano sem fábricas no Brasil será determinante para o andamento das operações da Ford ao longo da década . “Mesmo que tudo funcione perfeitamente e ninguém fique desamparado, os veículos usados da marca certamente cairão de preço. Não há o que fazer. Por caírem de preço, acreditamos que eles serão ainda mais procurados.”
Comportamento do mercado
Para Luiz Cipolli, analista de valor de revenda da Agência AutoInforme, a tendência é que consumidores que estejam com medo do mercado vendam seus veículos por preços entre 10% e 20% abaixo da Tabela Fipe , mas até o momento, isso não está acontecendo com proprietários de modelos Ford.
“Observando o comportamento de donos de Ka, Ka Sedan e EcoSport nos classificados online, vemos que os modelos não sofreram desvalorização além da esperada desde que a montadora saiu do Brasil ”, diz o especialista, que lembra que a depreciação do valor de modelos da Ford já era maior que a da concorrência mesmo antes da fabricante optar por deixar o país.
Sem pânico
Luck Lima, especialista comercial da Carupi, plataforma online de venda de veículos, diz que a Ford continua sendo referência no mercado independentemente de ter fechado suas fábricas. Vender o veículo agora pode transparecer pânico , e o consumidor pode ser passado para trás na negociação.
“A Ford continua presente e comprometida por meio de suas concessionárias e pontos de serviço a realizar as manutenções, fornecimento de peças, honrando as garantias e quaisquer outros serviços relacionados aos veículos no Brasil”, avalia o executivo.
“A Ford foi bem clara a respeito da razão estratégica de sua decisão. Se os produtos colocados no mercado, pela marca, forem consistentes com a tecnologia e performance de seus concorrentes, não há razão para uma queda na confiabilidade ou no posicionamento de marca da empresa ”, finaliza.