Elon Musk é CEO da fabricante Tesla
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Elon Musk é CEO da fabricante Tesla

A Tesla interrompeu a exportação para a China de seus modelos de luxo — o sedã Model S e o SUV Model X .

No site da fabricante, não há o botão de "pedido" para esses modelos desde a manhã desta sexta-feira (11). A comercialização segue restrita às unidades em estoque já presentes no território chinês.

As versões continuam a ser produzidas na fábrica de Fremont, na Califórnia, mas o envio de novos pedidos para a China está suspenso até segunda ordem.

A decisão ocorre horas depois de o governo chinês elevar para 125% as tarifas sobre produtos norte-americanos, em resposta direta ao aumento para 145% imposto pelos Estados Unidos - confirmado pela Casa Branca na quinta-feira (10).

As novas tarifas entram em vigor oficialmente no sábado (12), e intensificam a tensão entre as duas maiores economias do planeta, cada vez mais travadas numa escalada tarifária sem sinais de trégua.

Guerra tributária e risco sistêmico

Esse é mais um efeito direto da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que agora atinge o setor automotivo. 

Embora a montadora liderada por Elon Musk não tenha comentado oficialmente a suspensão, analistas ouvidos pela reportagem apontam que a medida reflete uma reação estratégica à instabilidade tributária e logística que afeta todo o comércio marítimo entre os dois países.

Mesmo com enormes perdas recentes, Musk segue sendo o mais rico do mundo
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Mesmo com enormes perdas recentes, Musk segue sendo o mais rico do mundo

Em entrevista ao Portal iG Carros, o especialista em Relações Internacionais e Comércio Exterior, professor Vladimir Feijó, do Centro Universitário Uniarnaldo (MG), explica que a escalada tarifária escancara a vulnerabilidade das cadeias globais.

Atualmente, um navio pode sair hoje dos EUA com custo estimado, e chegar à China dias depois com tarifas totalmente diferentes, sem que haja tempo para qualquer reação.

Segundo ele, esse cenário de instabilidade transforma decisões rotineiras de importação em apostas de alto risco.

“O exportador e o importador estão num dilema constante: arcam com impostos inesperados ou bancam o custo de devolução da carga?”, afirma.

Montadoras como a Tesla, que operam com montagem descentralizada e estoques enxutos, são particularmente sensíveis a esse tipo de oscilação.

“A determinação de não enviar mais nada entre os dois países tem a ver com um cálculo econômico razoável, imaginável, diante toda essa imprevisibilidade do custo, ou mesmo do fluxo necessário, para a forma como as indústrias produzem hoje”, completa Feijó.

Gigafactory e a concorrência local

Tesla Model 3 é um dos veículos fabricados na China
Divulgação
Tesla Model 3 é um dos veículos fabricados na China


Mesmo com as barreiras comerciais, a Tesla mantém produção na China. A empresa opera uma Gigafactory em Xangai desde 2020 — sua primeira fábrica fora dos Estados Unidos — onde produz o sedã médio Model 3 e o SUV Model Y, voltados tanto para o mercado interno quanto para exportação.

Apesar disso, os resultados locais têm sofrido impacto. De acordo com a Associação Chinesa de Carros de Passageiros, as vendas da Tesla caíram 11,5% em março na comparação anual. 

A concorrência local, liderada pela BYD, avança rapidamente: a marca chinesa registrou um aumento de 23% nas vendas no mesmo período.

Também ouvido pelo iG Carros, o advogado especializado em Direito Internacional, Daniel Toledo, destaca que a situação se agrava pela ausência de canais jurídicos eficazes de contestação da guerra tarifária.

“A Organização Mundial de Comércio tem meramente um papel de orientação, então ela não tem um papel de veto, de intervenção real, ela tem mais um papel moral. Então, efetivamente, as tarifas devem ser negociadas entre os países”, pontua. 

Daniel diz que a Tesla já enfrentava dificuldades no mercado chinês antes das tarifas:

“A venda de carros da Tesla na China é muito pequena, principalmente porque lá a concorrência é de altíssimo nível e com qualidade superior à Tesla”, afirma.

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