
Aos olhos de muita gente, pode ser apenas um carro antigo. Mas para Gilberto Mateus, morador de Juiz de Fora, sua DKW-Vemag Vemaguet 1964 representa bem mais: é a ponte entre infância, identidade e legado familiar.
O veículo, que passou anos empoeirado em um galpão, foi resgatado e ganhou uma nova vida. Hoje, ele é mais do que um meio de transporte: virou companhia inseparável nos passeios e uma herança afetiva para a pequena Alice, de apenas 9 anos, neta do dono.
Encontro marcado
“Foi o primeiro carro em que andei na vida”, relembra. “Era um táxi do meu vizinho, o Cardoso, lá em 1978. Era o único carro do bairro.” Desde então, a imagem da Vemaguete ficou marcada na memória de Gilberto.
O reencontro aconteceu muitos anos depois, em 2017, quando ele viu uma unidade parada no galpão de um amigo. "Assim que vi, fiquei louco. Estava comigo em espírito há décadas."
A restauração começou com um objetivo claro: manter ao máximo a originalidade. O motor permanece o mesmo da fábrica. Os componentes mecânicos também.
O interior foi refeito com atenção especial, pelas mãos de profissionais que compraram o sonho com Gilberto: “Foi uma equipe nota mil. Sem eles, não seria possível.”

Entre os detalhes únicos, Gilberto destaca o taxímetro “capelinha” que instalou no painel. Outro charme é a clássica fumaça azul do motor dois tempos, que vira atração por onde ele passa.
“Costumo sair com ela pelo menos duas vezes por semana. Às vezes só para passear, outras vezes para encontros de carros antigos"
Colecionando momentos
Mas não se trata apenas de rodar pelas ruas com o carro. A Vemaguete também fez parte de momentos especiais de outras pessoas. Gilberto já levou noivas ao casamento e dá voltas com quem sonha em reviver lembranças. “Não cobro nada. Faço por prazer. Ver a felicidade no rosto das pessoas é impagável”, conta orgulhoso.

Para Gilberto, dirigir o carro além de prazeroso é também uma experiência sensorial: “A direção é pesada, o câmbio é em cima, os freios exigem atenção. Mas é isso que faz dela uma máquina com alma", explica.
Nas ruas, o veículo chama atenção por onde passa. “Sempre tem alguém que para conversar. Já teve gente que chorou ao ver o carro, dizendo que o pai teve uma igual. Uma moça, de Hilux, até me ofereceu o valor que eu pedisse. Só consegui responder: 'Infelizmente, não vendo.'”
E de fato, vender está fora de cogitação. A Vemaguete já tem dona: sua neta Alice.
“Dei de herança para a minha neta. Quando alguém pergunta se vou vender, e ela ouve, logo grita: ‘Eu não vendo! É minha, meu avô me deu de presente!’"
Mais do que um automóvel antigo, a Vemaguete se tornou um símbolo afetivo que liga gerações — e reafirma que, para alguns, dirigir é também uma forma de manter a memória viva.