
As tensões em torno da governança da Volkswagen voltaram ao centro do debate entre acionistas durante uma assembleia geral anual da montadora realizada na sexta-fera (16).
Investidores expressaram preocupações crescentes sobre a falta de independência no conselho e sobre a concentração de poder nas mãos das famílias controladoras Porsche e Piech. As informações são da agência de notícias Reuters.
A principal crítica recai sobre o presidente-executivo Oliver Blume, que ocupa simultaneamente os cargos de CEO da Volkswagen e da Porsche AG.
O acúmulo de funções é alvo de questionamentos desde que a Porsche passou a ser negociada em bolsa, em setembro de 2022.
Um dos investidores, Ingo Speich, da Deka Investment, chegou a fazer um "apelo urgente" para que Blume desista de um dos cargos.
Para ele, há uma série de conflitos de interesse na estrutura da empresa que gera "graves danos à reputação e enormes perdas financeiras".
No último ano, as ações da Volkswagen recuaram aproximadamente 25%, de 140,40 euros para 105,60 euros — equivalente a R$ 891,43 e 670,48, respectivamente, na cotação atual.
Com isso, o desempenho é inferior tanto ao índice automotivo europeu quanto ao DAX, principal indicador da bolsa de Frankfurt, conforme dados da Bolsa de Valores de Londres.
O cenário financeiro também se deteriora. Em abril, a companhia sinalizou que poderia atingir apenas o limite inferior da margem de lucro anual projetada.
A montadora enfrenta desafios simultâneos em mercados estratégicos: tarifas mais rígidas nos Estados Unidos, concorrência agressiva na China e elevação dos custos operacionais na Europa.
Concentração de poder
As famílias Porsche e Piech exercem controle efetivo sobre a Volkswagen por meio da holding Porsche SE, que detém a maioria dos direitos de voto da empresa com sede em Wolfsburg.
Wolfgang Porsche, presidente dos conselhos de supervisão da Porsche SE e da Porsche AG, refutou a tese de que falhas na governança estejam por trás do mau desempenho da montadora.
Para ele, a queda no valor das ações se deve ao alto custo operacional e à performance fraca da companhia.
Ainda assim, ao menos quatro investidores importantes alertaram para lacunas graves na composição do conselho, especialmente no que diz respeito a competências estratégicas como eletrificação e digitalização.
Blume e Hans Dieter Poetsch, presidente do conselho fiscal, defenderam a permanência da dupla função como estratégica, e alegam sinergias nos programas de corte de custos conduzidos pelas duas empresas. A declaração não convenceu parte dos acionistas.