A chegada às lojas do Fiat Cronos, a partir de março, agita de vez o segmento dos sedãs compactos, que já vinha se alterando bastante desde o recente lançamento do Volkswagen Virtus. Ambos chegam com a ambição de ocupar um lugar no pódio dos três modelos mais vendidos da categoria, vagas ocupadas no ano passado por Chevrolet Prisma, VW Voyage e Hyundai HB20S. A avaliação do carro você já leu aqui em iG Carros.
Portanto, a proposta deste post é responder algumas questões que devem estar na cabeça de leitores inteligentes como você. Vamos a elas!
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1 – A quem se destina o Fiat Cronos?
Segundo a Fiat, o público-alvo é majoritariamente masculino (67%), casado (80%), com filhos (67%), na faixa entre 35 e 50 anos (50%). E 60% dos compradores dessa categoria têm um único carro. O carro de ir para o trabalho, levar filhos na escola, fazer compras, viajar, dividir com a esposa... Curioso é comparar com o público-alvo declarado no evento do VW Virtus: homem (60%), casado (57%), média etária de 43 anos, 77% com ensino superior, renda média mensal entre R$ 8 mil e R$ 10 mil.
Portanto, na comparação com o Fiat Cronos , o Virtus terá mais mulheres e solteiros entre seus compradores. A Fiat não falou em faixa de renda mensal, mas certamente fica na média de R$ 8 mil, um pouco abaixo do Virtus, até por ser mais barato.
2 – Ele substitui o Grand Siena?
Não. O Grand Siena será mantido em duas versões de entrada, para brigar na base da categoria. O 1.0 custa R$ 45 mil, enquanto o 1.4 teve o preço reduzido de R$ 55 mil para R$ 51 mil. No caso dos hatches, o Palio não durou muito após a chegada do Fiat Argo. Mas a Fiat já tinha outros dois modelos de entrada, o Mobi e o Uno, espremendo o veterano campeão de vendas. No caso dos sedãs, não há nada abaixo do Siena, por isso ele deve formar uma dupla com o Cronos por algum tempo.
3 – Com quem o Cronos concorre?
Obviamente, pela proximidade dos lançamentos, todos apostam da disputa acirrada entre Cronos e Virtus. Mas a Fiat elegeu como seus maiores rivais a trinca Prisma, HB20S e Toyota Etios, enquanto o Virtus mira mais em Cobalt e City. Se pensarmos nas faixas de preço e no porte, faz sentido. Mas todos ficarão de olho nos números de venda da dupla estreante, com certeza.
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Como já ocorre com a progressão de vendas das variações hatches desses sedãs, o Fiat Argo e o VW Polo. O Polo vem ganhando a disputa nos últimos meses, mas o Argo promete reagir agora que o Palio saiu de linha, abrindo espaço para versões mais acessíveis.
4 – Quais serão as principais razões de compra do Cronos?
Segundo as pesquisas com clientes, as cinco principais são design, porta-malas, espaço na cabine, conforto e tecnologia. As cinco mais do Virtus são design, inovação, conforto, preço e experiência anterior com a marca. Bem diferente, não? Claramente a Fiat aposta num consumidor que precisa de espaço, por ter apenas um carro, mas não abre mão de um estilo arrojado. Mesmo mais curto que o Virtus, o Fiat tem o maior porta-malas da categoria (525 litros). A VW também coloca o desenho como maior apelo, mas busca um cliente mais exigente em termos de tecnologia, conforto e status, afinal, tem o porte da atual geração do Jetta.
5 – A Fiat esperou a VW dizer os valores do Virtus para estabelecer seus preços?
Certamente. Mas não dá para afirmar que a Fiat marcou o lançamento para depois da VW por conta disso. Questões industriais estavam envolvidas, sobretudo porque o Cronos vem da Argentina, enquanto o Argo é feito em Betim (MG). Já Polo e Virtus saem da mesma fábrica no ABC paulista, um facilitador logístico. Porém, todos os preços do Cronos miraram no Virtus, inclusive a decisão de criar uma versão de R$ 54 mil (1.3 manual sem tela multimídia e sem start-stop), R$ 6 mil mais barata que o Virtus de entrada (MSI 1.6 manual). A segunda versão, 1.3 Drive manual, custa R$ 56 mil (R$ 4 mim a menos). A versão mais cara do Cronos (1.8 automática) foi cravada a R$ 70 mil, R$ 10 mil a menos que o Virtus topo de gama (1.0 turbo automática). E a Fiat ainda preenche o gap com duas versões, uma de R$ 61 mil (Drive 1.3 GSRautomatizado), outra de R$ 63 mil (Precision 1.8 manual). O Virtus só tem uma versão intermediária, a 200 TSI Comfortline, de R$ 73,5 mil.
6- Esses preços do Cronos podem forçar a VW a reduzir a tabela do Virtus?
Não aposte nisso. Pense dessa maneira: vale mais a pena atender 10 pessoas num restaurante, cobrando em média R$ 100 pela conta, ou atender 20 cobrando R$ 50? O resultado financeiro é o mesmo, mas dá bem menos trabalho (e custo) atender 10 do que 20. É uma forma simplificada de explicar o conceito de Pricing Power, a capacidade de esticar o preço sem perder resultado (e sem jogar clientes para a concorrência). No Brasil, a Honda é mestre em fazer isso. A VW segue por esse caminho em um grau um pouco inferior, mas abandonou a fama de preços amigáveis dos tempos de Fusca e dos primeiros Gol. A Fiat tenta fazer um movimento para abandonar a pecha de fabricante de carros baratos. Mas no caso do Cronos, foi mais conservadora para agradar a rede e evitar a demora que o Mobi e o Argo tiveram para embalar em vendas – coisa que não ocorreu com o Polo, em alta desde o início. A Fiat se empolgou com o sucesso instantâneo da picape Toro, mas esta não tinha rivais fortes. Não funcionou com Mobi e Argo, mas deve dar certo com o Cronos, graças à política agressiva de preços.
7- Quais serão as versões mais vendidas?
A Fiat aposta nas versões com motor 1.3, que deverão responder por 70% das vendas. Em especial a Drive 1.3 manual, com preço cravado na faixa onde mais se vendem sedãs compactos (R$ 55 mil). A segunda faixa em volume de vendas é a de R$ 61 mil, onde está o 1.3 GSR. E a terceira é de R$ 69 mil, preço da 1.8 automática, que também atende ao público PCD (portadores de limitações de mobilidade). Ou seja, está clara a opção da marca pela faixa de preço entre R$ 50 e R$ 60 mil, enquanto a VW espera vender mais o Virtus intermediário, de R$ 74 mil.
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8 – Qual a importância estratégica do segmento de sedãs compactos?
Pode não ser dos mais lucrativos, mas é crucial para garantir bons volumes e servir de ponte entre os carros de entrada e modelos de maior valor agregado (os mais lucrativos). No ano passado foram emplacados quase 316 mil sedãs compactos, o que faz dele o segundo maior segmento em volume do mercado nacional, com 17% do bolo. Só perde para os hatches compactos, e é seguido cada vez mais de perto pelos SUVs compactos. Aliás, a categoria dos sedãs pequenos foi uma das que mais sofreu com a chegada de HR-V, Renegade, Kicks, Creta e cia. Agora quer recuperar terreno.
9- Como vai ficar a disputa dos sedãs pequenos com esses dois novos modelos?
Vai mudar radicalmente, pode apostar. Veja como foi o Top 10 do segmento em 2017:
1- Prisma: 68.988 (21,8%)
2- Voyage: 40.822 (12,9%)
3- HB20S: 32.232 (10,2%)
4- Etios Sedan: 31.395 (9,9%)
5- Ka Sedan: 27.647 (8,7%)
6- Logan: 26.010 (8,2%)
7- Siena: 24.955 (7,9%)
8- Versa: 23.370 (7,4%)
9- Cobalt: 22.949 (7,3%)
10- City: 15.974 (5,1%)
A GM, com dois modelos, tem quase um terço do segmento. O líder Prisma deve sofrer um pouco com o Cronos, mas dificilmente perde a liderança, enquanto o Cobalt deve perder muito para o Virtus. O Voyage perdeu as versões mais caras e já não figura entre os cinco mais vendidos neste começo de ano. Com as duplas Siena/Cronos e Voyage/Virtus, Fiat e VW querem equilibrar a briga com a dupla da Chevrolet e abocanhar cada uma 20% deste mercado. Se Cronos e Virtus venderem o que deles se espera (algo em torno de 4 mil/mês cada um), devem fechar o ano perto de 50 mil unidades vendidas, encostando no líder Prisma.
10 – O que os rivais podem fazer para reagir?
Pouca coisa, apenas algumas ações para mitigar as perdas, tais como promoções e séries especiais mais equipadas. A Honda está lançando o City com as mesmas mudanças (leves) pelas quais passou recentemente o Fit. A Ford promete novidades visuais, mecânicas e de equipamentos para o Ka na metade do ano. A GM vai revigorar Prisma e Cobalt, mas só no ano que vem, a exemplo de Hyundai, Renault e Nissan com seus modelos.
A mais agressiva será a Toyota, que terá um modelo inédito, o Yaris Sedan, mas só na virada do ano. Ou seja, Fiat Cronos e Virtus devem surfar este ano.
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