No dia 1º de junho, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) apresentou aos investidores e à mídia seu plano quadrienal, com a previsão de tudo o que pretende fazer até 2022. O evento ocorreu em Balocco, cidade italiana onde fica um dos principais campos de provas do grupo que tem a Jeep entre as marcas mais rentáveis.
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Foram muitas surpresas e confirmações ao longo do evento, o último comandado pelo chefão Sergio Marchionne, que deve se aposentar na virada do ano. O ítalo-canadense está há 14 anos no comando da Fiat, e foi o responsável por salvar a empresa italiana da falência, e depois pela fusão com a também falimentar Chrysler, dona das marcas Jeep , Ram e Dodge.
Marchionne foi o maestro que transformou e Jeep numa potência global e resgatou a combalida Alfa Romeo. Mas o que será da Fiat um futuro próximo? E a Jeep, o que fará para continuar crescendo? E as outras marcas do grupo? E as possibilidades de fusão? AutoBuzz vai tentar esclarecer, de forma resumida, todos os passos do grupo FCA para os próximos anos.
FIAT, CADA VEZ MAIS BRASILEIRA
A mídia internacional estranhou o fato de a Fiat não ter uma apresentação de planos específica no chamado Investor Day. Só Jeep, Ram, Alfa Romeo e Maserati tiveram essa honraria. Chrysler e Dodge também ficaram de fora, assim como a italiana Lancia, já condenada à extinção. As duas marcas americanas realmente vão encolher. A Fiat também, na Europa, mas não no Brasil.
A sinalização na Europa foi a de que apenas os compactos 500 e Panda terão continuidade. A família 500 terá, inclusive, versões híbridas e elétricas. Já o Punto sairá de linha, e o Tipo não deve durar muito. Também não há planos para a Fiat nos EUA. Em outros continentes, apenas a divisão Fiat Professional (modelos de trabalho) terá atuação, sobretudo na África, Oceania e leste europeu.
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Mas, e no Brasil? Aqui, os fãs da Fiat (e os concessionários) podem respirar aliviados, pois haverá investimentos, com foco em utilitários mais urbanos e acessíveis que os da Jeep. Serão quatro novidades:
1) Aventureiro urbano derivado do Jeep Renegade, feito em Pernambuco.
2) Mini aventureiro derivado da plataforma do Argo, feito em Minas Gerais.
3) Modelo familiar de sete lugares, espécie de SUV da Toro, para ocupar a lacuna deixada pelo Freemont.
4) Picape média de origem Ram, mas com logo Fiat aqui no Brasil, para enfrentar Hilux, S10 e cia. Ela poderá ser feita em Pernambuco.
Aliás, está sendo usada de chamariz para obter algum tipo de incentivo fiscal para a fábrica a partir de 2020, quando se encerra o programa de isenções que atraiu para a região a mais moderna das fábricas do grupo. Caso não receba incentivo local, a picape poderá ser importada do México
Sim, a Fiat, que nas palavras de Marchionne já era mais brasileira do que italiana, agora será mais brasileira do que nunca, dado o encolhimento em outros mercados, inclusive em seu berço. O Brasil continuará sendo fundamental no desenvolvimento dos compactos, em especial da linha Argo/Cronos, e também de utilitários como Doblò e Uno Furgão. Esses modelos, assim como as picapes leves, são vendidos na América Latina com o logo da Ram.
JEEP, CADA VEZ MAIS GLOBAL
Se no plano de quatro anos atrás a Jeep já ganhava importância, agora ela é assumidamente a carro-chefe da estratégia global da FCA, a joia da coroa. Ganhará novas fábricas no mundo, além de invadir velhas fábricas da Fiat, Dodge e Chrysler. Ganhará modelos inéditos na base do mercado e também no topo, com dois jipões de alto luxo acima do Grand Cherokee (se chamarão Wagoneer e Grand Wagoneer), além de uma versão alongada de sete lugares do próprio Grand Cherokee. E também uma picape derivada do Wrangler. A meta assumida é a de representar 20% do mercado global de SUVs, segmento que mais cresce no mundo.
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E o Brasil é peça-chave neste projeto. Por isso, teremos dois novos modelos da Jeep feitos aqui até 2022. Um mini-Renegade, do porte do Suzuki Jimny, será produzido em Betim, com opção de tração 4x4 (a Fiat terá um modelo parecido, mas um pouco menor, e só 4x2). A outra novidade será uma versão alongada do Compass, com sete lugares, para ocupar um segmento que já foi dominado pelo Dodge Journey. Também com versões 4x4.
AS LACUNAS NA APRESENTAÇÃO
Ao contrário da apresentação feita há quatro anos, que mostrava as datas de cada lançamento, desta vez a FCA foi vaga nesse sentido. Todas as novidades chegarão em algum momento até 2022. No caso das novidades Fiat e Jeep reservadas para o Brasil, dá para cravar que nenhuma delas chega antes de 2020. Os planos não mostraram a sucessora da Strada, que pelo jeito continua no freezer.
A ausência de apresentações das marcas Dodge e Chrysler também deixou dúvidas em relação ao futuro das duas tradicionais marcas americanas. Fontes da FCA garantem que elas continuarão, mas apenas ocupando nichos. A Dodge perderá as variações vans e SUVs, ficando apenas com os muscle cars Challenger e Charger.
Já a Chrysler perderá o sedã de luxo 300, focando apenas na minivan Pacifica, que por sinal será o laboratório de testes de autonomia e eletrificação nos EUA (a parceria com a startup Waymo foi ampliada). Alfa Romeo no Brasil? Nada no horizonte, apesar dos seis lançamentos globais anunciados para o próximo quadriênio.
ERA PÓS-MARCHIONNE: INDEPENDÊNCIA OU FUSÃO À VISTA?
Analistas e consultores internacionais receberam com bons olhos os planos da FCA para os quatro anos. Além de todos os novos produtos, com foco nos rentáveis SUVs e veículos premium, o Grupo fez um gol ao destacar os planos ousados de eletrificação, automação e conectividade, por meio de sólidas parcerias. E também com a volta de um braço financeiro, tarefa que estava terceirizada ao Santander, e recheada de críticas. Outra surpresa positiva foi o programa Jeep Wave, que irá oferecer modelos da marca por assinatura a partir de 2019.
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O diagnóstico é que a FCA está saudável o suficiente para continuar independente, ou ao menos valorizar muito o passe em caso de uma eventual fusão com grupos asiáticos ou europeus. O saneamento financeiro foi tão bem-sucedido que o CFO global (diretor financeiro), Richard Palmer, é o mais cotado para ocupar a cadeira de Marchionne no próximo ano. Corre por fora na bolsa de apostas Mike Manley, chefão das duas marcas mais lucrativas do grupo, a Jeep e a Ram.
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