Qualquer pequeno comerciante sabe que depender demais de um certo produto é um risco enorme para o futuro financeiro da loja. É sempre preferível ter um leque de itens com boa procura. E no caso de lojas de carros? A regra é basicamente a mesma. É muito bom ter os volumes turbinados por um modelo de muito sucesso (como o Jeep Compass), mas o que acontece quando ele deixa de ser um dos preferidos do público? Problemas, na certa.
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A VW foi líder enquanto o Fusca e o Gol saíam das lojas como “pão quentinho”. Depois do declínio deste segundo, ela amarga mais de uma década longe da liderança. A Fiat surfou na onda Palio por muitos anos, e caiu para terceira no ranking após o ocaso do seu hatch compacto. Hoje é a GM quem se beneficia (e como!) do sucesso do Onix. Já são três anos de liderança da marca no país, e boas chances de chegar ao tetra em 2019, ano da reestilização do seu campeão. E a entre os SUVs, o Jeep Compass é um dos grandes destaques.
Confira no ranking abaixo, elaborado por AutoBuzz, qual o grau de dependência de cada marca em relação ao seu modelo mais vendido. Levando em consideração as vendas de janeiro a novembro, das 10 marcas líderes de mercado:
RANKING DE PARTICIPAÇÃO NAS VENDAS DA MARCA
1) Jeep Compass (57,4%)
2) Hyundai HB20 hatch (51,1%)
3) Chevrolet Onix (48,6%)
4) Nissan Kicks (47,9%)
5) Ford Ka hatch (45,6%)
6) Honda HR-V (36,6%)
7) Renault Kwid (30,7%)
8) Toyota Corolla (29,9%)
9) VW Gol (21%)
10) Fiat Strada (20,6%)
Jeep Compass puxa vendas da marca
A Jeep é que mais depende do seu carro-chefe. Mas isso não é tão complicado para ela, pelo fato de ter apenas dois carros feitos no Brasil (o Renegade representa mais de 40% das vendas). Não é tão mau depender de um modelo que domina seu segmento e que tem uma margem de lucro bem interessante. Por outro lado, é notório que o Compass receberá uma série de novos concorrentes a partir do ano que vem. A Jeep sabe que não pode ficar refém apenas de sua dupla dinâmica.
A Hyundai já dependeu até mais da linha HB20. Desde a chegada do SUV Creta, vem melhorando seu mix de vendas, mas ainda precisa depender menos do seu compacto. Afinal, se considerarmos a soma das versões hatch e sedã, a participação no mix sobe para 66,7%, a maior do mercado nacional. Vale lembrar que esse segmento, por ser muito concorrido, oferece as menores margens de lucro por unidade.
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A líder GM padece de um mal parecido. O Onix é um fenômeno. Se fosse uma marca isolada dentro da General Motors, seria a sexta maior do país. Mas a soma dele com o Prisma, sua versão sedã, representa 65% das vendas da Chevrolet. A exemplo do HB20, o Onix é um modelo de pouco valor agregado. Garante mais ganhos em volume do que margem unitária.
Certamente a montadora adoraria estar vendendo mais unidades do Cruze e de suas picapes e SUVs, relativamente. Além disso, uma fadiga do modelo pode ameaçar a atual hegemonia da GM no mercado. A vantagem, por outro lado, é que ele faz sozinho o que a VW (Gol, Fox, Polo e Up) e a Fiat (Uno, Mobi e Argo) precisam fazer com vários modelos juntos, o que traz economias na linha de montagem.
A Ford vive uma realidade semelhante à da GM, num patamar de vendas mais baixo. O Ka, somadas as configurações hatch e sedã, responde por quase 63% dos emplacamentos da marca. O Focus vai sair de linha, e talvez o Fiesta siga esse caminho. A esperança da marca do oval azul é reforçar as vendas do EcoSport e da Ranger, além do SUV médio Territory, que chega da China no ano que vem.
Na Nissan, o caso é oposto ao de Ford e GM. Ela depende muito do SUV Kicks , e vai mal com seus modelos de entrada (March e Versa). O Kicks entrega mais resultados financeiros para a marca. Mesmo assim, ele briga num segmento muito acirrado, o que força a Nissan a buscar um outro modelo de sucesso.
Honda, Renault e Toyota já apresentam maior equilíbrio entre as vendas em suas gamas. Na Renault, o foco ainda é em modelos mais baratos como Kwid e Sandero, por isso a tentativa de melhorar o desempenho entre os SUVs e crossovers nos próximos anos. Honda e Toyota estão entre as operações mais lucrativas do Brasil. Principalmente a Toyota, que vende melhor os modelos de maior valor agregado, como Corolla e Hilux.
Finalmente, Fiat e VW dão exemplo de gamas bem diversas e com boa distribuição de vendas. Por isso são as menos dependentes de um único modelo. A Fiat se sai muito bem com as picapes Strada e Toro, e não faz feio com seus modelos de passeio compactos, embora não tenha mais um blockbuster como foi o Palio. Para melhorar a rentabilidade, vai apostar em crossovers nos próximos anos, além de renovar a Strada, seu modelo mais vendido. O segmento de picapes é bem lucrativo, mas a Fiat não pode ficar calcada apenas nele para fazer caixa.
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Ao contrário da FCA, com o Jeep Compass , a VW tem, além do líder Gol, tem vários modelos vendendo bem. Polo, Virtus, Voyage, Fox e Saveiro apresentam resultados consistentes, ao contrário dos fracos Up e Golf. E ainda há os importados Amarok, Jetta e Tiguan, em importantes nichos de mercado. Mas o pulo do gato, que poderá render o retorno à liderança na virada da década, será o ingresso no segmento de SUVs, começando com o compacto T-Cross.
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