O ano era 1984. As marcas de motocicletas dominantes eram praticamente duas, Honda e Yamaha, que tinham como carros chefes a CB 450, a XL 250R e a DT 180, além, é claro, dos modelos de menor cilindrada. Outras marcas brigavam por uma fatia mínima do mercado, como a Amazonas, a FBM e a Montesa. Até que fui ao sul do país conhecer uma nova fábrica de motocicletas, que chegou de mansinho.
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A Agrale , empresa familiar situada em Caxias do Sul, RS, já era conhecida pela produção de máquinas agrícolas, até que comprou o maquinário para continuar a fabricação de ciclomotores, para “conhecer o mercado de duas rodas”, como eles mesmo contaram. E daí, em meados de 1984, chamaram a imprensa especializada para conhecer sua nova motocicleta.
Lá chegando, o suspense era enorme. O que veríamos lá? Uma utilitária para roubar uma parte do mercado da CG? Ou uma esportiva de maior cilindrada? No já dentro da fábrica, partes de uma motocicleta foram estrategicamente espalhadas pelo nosso caminho, passando pelas linhas de montagem de tratores e produtos agrícolas.
Ôpa! Um radiador! Então a novidade era refrigerada a água. Nenhuma motocicleta nacional contava com essa “modernidade”. Mais à frente, um disco de freio. Legal, já estávamos cansados de motocicletas com ineficientes freios a tambor. E no final, uma balança traseira monoamortecida. As suspensões monochoque eram o supra-sumo das motocicletas naquele longínquo ano de 1984. Então a nova motocicleta seria bem moderna, parecida com aquelas que só víamos em revistas importadas.
A curiosidade estava no máximo quando conhecemos a nova Agrale SXT 16.5. Uma trail de visual arrojado – para a época – e, ao que tudo indicava, bastante competente. Daí para diante foi uma sucessão de testes e conhecimento da nova motocicleta, com a qual me identifiquei imediatamente. Um ano depois, após rodar mais de 10.000 km com a motocicleta, levei-a à oficina do Renato Gaeta e a desmontei inteirinha, analisando todos os componentes e seus desgastes.
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Como com o destino não se negocia, então, diferentemente das outras motocicletas que eu costumava desmontar e me mandar, deixando o trabalho maior para o mecânico, ajudei a montar a valente Agrale SXT 16.5 e... a comprei. E ela virou minha grande companheira.
A Agrale havia adquirido a tecnologia da marca italiana Cagiva, que já era expert em modelos off road com motores dois tempos, e a nova SXT 16.5 tinha todas as suas características. O 16.5 do nome da moto não era a cilindrada de 165 cm 3 , como muitos pensavam, mas sim a potência do valente motor 125 refrigerado a água. E em pouco tempo a Agrale estava peitando a Yamaha DT 180 nas trilhas, um ambiente em que a robusta porém pesada Honda XL 250R não dominava.
Você viu?
Após mais de trinta anos, poucos lembram da Agrale, alguns sequer a conhecem, mas há algumas sobreviventes por aí para contar a história. Logicamente o tempo passou para ela também, que já foi inovadora, mas rodar por aí ouvindo o ronco característico dos motores dois tempos e sentindo o cheiro do óleo queimado nos leva a uma viagem no tempo.
A Agrale SXT 16.5 cedida pelo meu amigo Billy foi finamente restaurada, ficando quase 100% original. E, acreditem, é uma motocicleta totalmente apta para o uso diário, logicamente sem as conveniências que as motocicletas modernas oferecem. Com a vantagem de se diferenciar das motocicletas corriqueiras e chamar a atenção por onde passa.
Para ficar idêntica à original, a Agrale SXT 16.5 restaurada precisaria apenas do banco vermelho, com os dizeres “16.5”, e com os number-plates pretos. O resto estava perfeito, conforme podemos observar comparando as fotografias.
O painel de instrumentos era diferente do que estávamos acostumados, com dois relógios quadrados com cantos arredondados e fundo quadriculado. Mas proporcionava uma boa leitura, apesar de os ponteiros oscilarem mais do que o desejado. A faixa vermelha do conta-giros começava “as 7.500 rpm, com uma faixa amarela a partir das 6.500 rpm indicando a faixa útil de funcionamento do motor.
Na lateral esquerda da motocicleta, montado sobre o anteparo do motor, um providencial marcador de temperatura da água do motor nos indicava a quantas ia a sua refrigeração. Do outro lado da motocicleta, o radiador de água montado verticalmente. Essa era uma das grandes sacadas visuais dessa não tão pequena 125.
Era muito bom pilotar a primeira das Agrale, que depois ganhou as irmãs Elefant, com tanque maior, e um motor maior, de 190 cm 3 , nos modelos que levavam o nome de 27.5 e 30.0, relativos à sua potência. Como toda dois tempos, a 16.5 exigia manter alta rotação, para não perder torque, sendo necessário utilizar a todo momento todas as seis marcas do seu câmbio.
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Quanto àquela minha Agrale , foi a primeira, antes de passar por toda a linha nos anos posteriores. E seu fim nas minhas mãos foi interessante: rodava com ela em um domingo de manhã quando vi um rapaz circulando com um belíssimo Chevrolet Opala, com uma placa de vende-se. Ao parar ao seu lado, notei seu interesse pela motocicleta, e ele o meu, em relação ao seu carro. Trocamos na hora, pau-a-pau, e cada um foi para sua casa com seu novo veículo. Naquela época, documentos só na segunda-feira!