Espero que vocês, leitores, me perdoem, pois vou começar esta história com uma cena que já descrevi várias vezes, mas que foi muito importante para minha trajetória motociclística pessoal. O ano era 1974 e eu fui até a Fórmula G, concessionária Honda na Praça Panamericana, em São Paulo (hoje é um McDonalds), trocar minha alemãzinha Zündapp KS 100 de 1969 por uma das novas Honda que acabavam de chegar ao Brasil.
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Deixei minha feiosa motocicleta na oficina, aos cuidados de Milton Benite, e fui ao salão da loja escolher uma nova. Eu estava determinado a levar uma Honda CB 125 K5, a bela bicilíndrica que sempre desejei e que, pelo porte avantajado, vista de longe poderia se passar por uma CB 350, a motocicleta de média cilindrada mais popular da marca até aquele momento.
O Milton, no entanto, tentava me convencer da “caretice” daquela motocicleta para um moleque de 14 anos como eu, mostrando-me da a nova linha para 1974, como a CB 200, a XL 250 Motorsport ou mesmo a moderna CB 360. E, entre as motocicletas de safras anteriores, já saindo de linha, ele me mostrou uma estranha Honda CL 350 Scrambler.
A CL Scrambler era a motocicleta que Milton Benite queria me vender, mas aqueles dois escapamentos “misturados” saindo apenas de um lado, realmente não combinaram com o meu gosto. Acabei levando para casa uma Honda CB 125S monocilíndrica, mas aquela CL 350 Scrambler ficou marcada para sempre na minha mente.
Desde então, pude ver rodando por aí poucas Honda CL 350 Scrambler, já que se tratava da adaptação original de uma CB 350, apenas com os dois escapamentos saindo para o alto e do mesmo lado, “misturados” – daí o nome “scrambler” –, para não raspar na terra, ao transpor obstáculos, e com uma barra transversal no guidão, para maior rigidez.
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De resto, a CL 350 era igual à sua irmã comportada, a CB 350, inclusive com o mesmo quadro tubular pouco adequado às trilhas e o motor bicilíndrico SOHC de 33 cv. A primeira Scrambler da Honda foi a CL 305, de 1967, substituída pela CL 350 em 1968 e ficando em linha até o seu último ano, 1973.
Com a popularização das motocicletas projetadas especificamente para o fora de estrada, como a Honda XL 250 Motorsport de 1974, as scrambler perderam o sentido, voltando à “moda” só agora, com alguns modelos retrô da concorrência.
Bom para as poucas representantes que sobreviveram, como esta rara Honda CL 350 Scrambler de 1968, que provavelmente nunca sentiu o gosto da terra em sua vida. É uma K0, do primeiro da série, ainda com o tanque em duas cores como a CB 350, mas sem os protetores de borracha nas laterais.
A CL 350 K1, de 1969, apenas ganhou um friso horizontal no tanque e a lanterna traseira passou a ser retangular. A Scrambler K2, de 1970, ganhou novas ponteiras de escapamento cromadas e o bocal de abastecimento passou para o lado direito do tanque, que perdeu a asa da marca nas laterais. A K4 teve o tanque aumentado e ganhou lanterna traseira grande, enquanto a última
Scrambler, a K5 de 1973, teve os instrumentos do painel inclinados para melhor visualização, assim como aconteceu com a irmã CB 350 K5 do mesmo ano.
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Pilotar uma Honda CL 350 K0 Scrambler de 1968 é um privilégio, em especial esta, em perfeito estado de conservação e originalidade. Goza do mesmo conforto da CB 350, na época sempre superior às concorrentes de motores dois tempos. Como adicional a isso, o som dos escapamentos “de trilha” e a relação secundária mais curta, que resulta em maior força em rotações mais baixas, complementam a forte personalidade da motocicleta.