A Honda CB 450 remete, mais uma vez, às minhas lembranças de infância que conduzem histórias sobre motocicletas. Uma cena tão corriqueira quanto inesquecível ocorreu aos oito anos de idade, no quintal da minha casa, em 1968. A mesma casa em que moro atualmente.
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Depois de me fazer conhecer em detalhes todos os automóveis nacionais, que chegavam para teste na revista Quatro Rodas, meu pai voltou ao mundo das motocicletas e passou a trazer também todas as novas representantes da indústria japonesa, que já estava dominando o mercado mundial. Grande novidade para mim, mesmo que só pudesse rodar em suas garupas. E eis que chega aquela enorme Honda CB 450 , com seu tanque cromado e com os apliques de borracha nas laterais, para proteção dos joelhos. A motocicleta era linda.
Lançada em 1965, a Honda CB 450 era a maior motocicleta da marca até então, com um motor bicilíndrico de 44 cv cheio de novidades tecnológicas. Um delas era o duplo comando de válvulas no cabeçote, sistema de admissão de alta eficiência normalmente só encontrados em motocicletas de competição.
Isso resultou em um dos apelidos do modelo, utilizado até os dias atuais: “doc”. Só que, diferentemente do que poderia parecer, nada tinha a ver com “doutor”, mas sim da sigla DOHC, que significa duplo comando de válvulas no cabeçote (Double OverHead Camshaft). O câmbio da Honda CB 450 K0 tinha apenas quatro marchas.
Outro forte apelido da Honda CB 450 DOHC era Black Bomber , ou bombardeiro negro, devido à cor mais comum da moto nos primeiros anos e pelo fato de ela ter funcionado como uma “bomba” para a concorrência, na época. Realmente, essa motocicleta passou a ser a preferida pelos novos motociclistas, até a chegada, três anos depois, da Honda CB 750 Four.
A Honda CB 450 DOHC 1968 que eu acelerava no meu quintal (parada, logicamente) não era preta e era uma K1, pois já havia passado pela primeira reestilização, quando ganhou um tanque de combustível maior e mais bonito, mantendo os protetores laterais de borracha. Apesar do sucesso da primeira versão K0, o público não gostava muito do seu tanque alongado. A K1 passou a ter também câmbio de cinco marchas.
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Lembro bem que meu pai elogiava bastante essa motocicleta, que era superior às europeias de cilindrada equivalente, principalmente pelo moderno sistema elétrico de 12 volts e com partida elétrica. Realmente suas rivais eram fracas nesse aspecto.
A Honda CB 450 DOHC K1 passou a ter também os dois relógios independentes no painel de instrumentos, mais eficientes do que o único relógio circular incorporado à carcaça do farol, que unia velocímetro, conta-giros e algumas luzes indicadoras.
Quis o destino que meu pai comprasse uma Honda CB 450 DOHC, e que eu a mantivesse até hoje. É a dourada das fotos. Essa motocicleta tem uma história especial, pois apesar de ter a aparência de uma K3, de 1971, é na verdade uma K1 de 1968. Só que original.
O que acontecia naqueles anos 60 era que as versões mudavam mais rapidamente do que os importadores brasileiros podiam vender, então uma leva de Black Bomber 1968 encalhou no depósito. Para atualizá-la, foram trocados o tanque de combustível e as tampas laterais e a carcaça e os suportes do farol foram pintados na cor do tanque. Foram mantidos, no entanto, o freio dianteiro a tambor com duplo acionamento e a lanterna traseira oval.
Era comum esse tipo de atualização pelos importadores, que podiam vender uma motocicleta zero km igual à dos catálogos, e isso causou uma considerável confusão entre os “conhecedores” de motocicletas clássicas, pois alguns detalhes que vinham nas motocicletas novas não eram realmente daquele modelo.
Para complicar ainda mais a história, naquela época o documento expedido pelos departamentos de transito indicavam o ano em que a motocicleta era faturada e não o ano de produção. Por isso hoje eu tenho uma Honda CB 450 DOHC 1971 dourada e comprada zero km que era, na origem, uma Black Bomber 1968 azul.
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Poucos lembram da Honda CB 450 , pois quando as japonesas realmente emplacaram no Brail, era a mais que cultuada Honda CB 75º Four, com motor de quatro cilindros, que dominada a mente dos nossos motociclistas da época. Até hoje.