Nos anos 60, quando as motocicletas japonesas começaram a dominar os mercados de vários países, as “cinquentinhas” tiveram importante papel na sua popularização, não apenas por serem baratas e fáceis de serem pilotadas, mas também por terem um espírito essencialmente jovem. Nos Estados Unidos, por exemplo, essas motocicletas foram largamente divulgadas pelos conjuntos de surf-rock que surgiam um atrás do outro, incluindo o mais famoso deles todos, os Beach Boys. No cinema, Anette Funicello, Frankie Avalon e sua turma também circulavam pelas praias em cima de motocicletas japonesas de 50 cm3 de cilindrada.
De concepção bastante simples, a aparência dessas cinquentinhas dos anos 60 eram, da mesma forma, sem grandes atrativos, quando analisadas em um outro contexto. Mas algumas delas, já na década seguinte, começaram a se embelezar, como é o caso desta Yamaha YB 50 de 1974. Mesmo mantendo a concepção original das motocicletas de pequena cilindrada, como o típico quadro de aço estampado, a YB 50 já tinha “toques” de motos maiores, como o tanque de combustível grande e arredondado, suspensão dianteira por garfo telescópico um conjunto ótico de visual bastante agradável. Tinha também uma boa quantidade de cromados, o que lhe confere um ar um tanto clássico.
A Yamaha YB 50 começou a ser vendida no Brasil no início dos anos 70 e tinha uma série de “rivais”, que brigavam pela preferência dos jovens da época. Foi nessa ocasião, no entanto, que as cinquentinhas começaram a mudar, adotando soluções mecânicas e estéticas parecidas com as de motocicletas maiores, como o quadro tubular de duplo berço e o tanque de combustível de linhas mais retas.
Dessa forma, a YB 50 não se tornou muito popular, apesar de ter sido cogitada para ser a primeira motocicleta nacional. É que a YB era uma evolução da F5, que ainda tinha o tanque em forma de gota e com protetores de borracha nas laterais, e esse monte de letras levou a uma interpretação apressada do futuro da marca por aqui.
Como as motocicletas de 50 cm3 da Yamaha começavam com a letra F, o YB parecia significar “ Yamaha Brasil ”, de forma que esta poderia ser produzida no Brasil. Mas o YB já existia em vários outros países e o modelo continuou mesmo depois que a Yamaha resolveu fabricar a RD 50 por aqui. A F5 YB 50 foi a última Yamaha cinquentinha a ser importada antes da inauguração da fábrica de Guarulhos, em São Paulo.
É interessante traçar algumas comparações entre a Yamaha YB 50, a última cinquentinha de concepção antiga por aqui, na época, e a sua substituta RD 50. O quadro de aço estampado da YB, que era comum a muitos outros modelos da marca, inclusive as G (de 80 cm3) e as L (de 100 cm3), tinha na simplicidade sua maior virtude, porém era pesado e de limitados recursos. A balança da suspensão traseira também era de aço estampado, inclusive pintada na mesma cor do quadro e do tanque.
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O motor dois tempos de 49 cm3 da YB, que ainda tinha o único cilindro inclinado para a frente, era o mesmo da Yamaha Mini Enduro FT-1, com o carburador embutido no bloco. A Yamaha RD 50 já tinha o motor dois tempos de cilindro único vertical, como o da Yamaha Mini Enduro GT 50, mais moderno. Na RD, esse motor e o quadro tubular de berço duplo realmente indicavam uma grande evolução. O mesmo valia para o câmbio: na YB, as quatro marchas eram todas para baixo, enquanto que na RD o câmbio de cinco marchas tinha posição universal, isto é, a primeira para baixo e o resto para cima.
Como nas versões mais antigas da linha F da Yamaha, a F5 YB 50 contava com o sistema Autolube de lubrificação automática de óleo dois tempos, bastando manter cheio o reservatório do lado direito da moto. Esse reservatório tinha um visor para verificação do nível e, para completá-lo, era necessário soltá-lo do quadro, desatarraxando uma rosca, para que o bocal ficasse acessível, saindo debaixo da linha do banco. Do outro lado da motocicleta havia um porta-ferramentas com a mesma rosca.
A chave de ignição ficava no centro do guidão, porém sem a trava, como nas motocicletas modernas. Esta era ainda na mesa inferior da suspensão dianteira. Do lado direito da moto, fixado ao quadro, havia uma trava de capacete com chave. A primeira posição liga a ignição e a segunda posição liga o farol. No punho esquerdo do guidão uma chave alterna os fachos alto e baixo do farol, que é alimentado diretamente do magneto do motor. No mesmo punho há o botão da buzina e a alavanca do afogador, acionado por cabo. Nas motos posteriores convencionou-se acionar o afogador diretamente no carburador. No punho direito do guidão há o acionamento do pisca, alimentado pela bateria de 6 volts.
O painel de instrumentos resumia-se em um único relógio, o velocímetro, que dava lugar às luzes verde, do neutro do câmbio (ponto-morto) e laranja, do pisca. Bastante otimista, o velocímetro indica até 140 km/h de velocidade, o que é difícil de atingir, mesmo em uma longo declive. Outra comodidade que a RD 50 perdeu e que existe na YB 50 é o descanso lateral.
Até mesmo na pilotagem se nota uma grande diferença entre a Yamaha YB 50 e a RD 50 : a primeira tem um motor de menor rotação máxima, porém com melhor facilidade de uso em rotações mais baixas devido ao posicionamento do torque. Na RD, devido à maior potência do motor, era necessário estar sempre em rotações muito altas para o melhor funcionamento. Nesse caso o câmbio de 5 marchas era imprescindível.
Em relação ao estilo, no entanto, a Yamaha YB 50 tem vantagem sobre a RD 50, pois mantém o visual retrô do fim dos anos 60, com algumas pitadas da modernidade da década seguinte. E é justamente o que atrai os olhares para esta Yamaha YB 50 1974, inteiramente restaurada com extremo capricho. O contraste da pintura metálica com os cromados ressaltam suas belas linhas clássicas, aumentando a satisfação de quem a admira.