Yamaha RD 350 é uma das motos mais cobiçadas até hoje e conta com algumas siglas interessantes
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Yamaha RD 350 é uma das motos mais cobiçadas até hoje e conta com algumas siglas interessantes

Lá vem alguém, mais uma vez, com esse jargão velho e cansado, chamado “sopa de letrinhas”. Essa expressão era bacana nos anos 80, quando alguém usou pela primeira vez, em referência àquela sopa que nossa vó nos abrigava a tomar, quando pequenos. Já viu uma criança gostar de sopa? Eu já vi, mas é raro acontecer.

A sopa de letrinha é ainda mais antiga e, por causa disso, aposto que muitos de vocês, bem jovens, nem experimentaram tal iguaria. Por isso o termo, além de velho, só faz efeito para nós, mais velhos. O segredo da sopa de letrinhas é que a vítima ficava entretida com as minúsculas letras de macarrão mergulhadas na sopa que acabava tomando tudo.

Voltemos aos anos 80. Depois da simplicidade das motocicletas dos anos 70, elas vieram com tudo na década seguinte, esbanjando uma tecnologia atualmente bem ultrapassada.

E cada um desses sistema ganhava um belo e longo nome, bem tecnológico, que ninguém decorava. Por isso surgiram as siglas , às vezes algum acrônimo. Muitas vezes o nome da motocicleta ficava pomposo, com a adição de uma dessas siglas.

Vamos lembrar de algumas. A que me vem à mente em primeiro lugar é a famosa sigla RFVC , que acompanhava a Honda XLX 250R , aquela que tinha dois carburadores. Lançada em 1982, a Honda XL 250R já tinha quatro válvulas em seu monocilindro, mas, para incorporar tecnologia, em 1984 ela ganhou dois carburadores e uma câmara de combustão hemisférica.

A Yamaha é uma das marcas com mais siglas

Essas quatro letrinhas faziam os motociclistas sonharem com a Yamaha RD 350R
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Essas quatro letrinhas faziam os motociclistas sonharem com a Yamaha RD 350R

O sistema de dois carburadores , que trabalhavam cada um em um regime diferente de rotações, não deu certo, e logo as versões seguintes voltaram ao carburador único, dessa vez com um diâmetro um pouco maior.

Mas o cabeçote com câmara de combustão hemisférica continuou e ganhou o nome de RFVC – Radial Four Valve Chamber (câmara de quatro válvulas radiais). Eu costumava dizer que deveria ser RFVCC, um “C” a mais para “câmara de combustão”. Vale ressaltar que a câmara era hemisférica e as válvulas eram dispostas radialmente (não paralelas).

Da mesma época, a Yamaha veio com essa história de YPVS, por ocasião do lançamento da RD 350R nacional. Para alguns amantes de motocicleta dois tempos, a simples menção dessa sigla já faz seus corações passarem de giro. O significado de YPVS é Yamaha Power Valve Sistem, ou, logicamente, sistema de válvula de força da Yamaha.

Muitos ainda acham que é uma espécie de turbo , ou injeção de óxido nitroso, ou balela parecida. Mas não. É uma válvula que fecha parcialmente a saída dos gases queimados na combustão, para aumentar o torque em baixas rotações. Um motor dois tempos geralmente sofre de pouco torque nesses regimes, o que é melhorado fechando o escape para aumentar a pressão. Em altas rotações, quando é a potência que se deseja e não o torque, o YPVS abre totalmente e libera o fluxo de saída dos gases.

O bacana na Yamaha RD 350R nacional era ouvir o “abre e fecha” da válvula YPVS quando se ligava a ignição, em um ciclo de teste. o “fiiiin-fiiiiin” era um dos pontos altos da pilotagem, para aqueles que não tinham coragem suficiente para abrir o gás montado nessa viúva negra.

Aí veio a motocicleta que abalou corações e mentes dos motociclistas brasileiros. E os seus bolsos. A Honda CBX 750F de 1986 chegou com muitas novidades, entre elas uma suspensão dianteira anti-mergulhante.

TRAC tem haver com a tração?

O botão na frente da bengala esquerda controla os quatro níveis do sistema Trac
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O botão na frente da bengala esquerda controla os quatro níveis do sistema Trac

Explico: quando se freia uma motocicleta, o garfo dianteiro recebe maior parcela de carga do peso total da moto, afundando e comprometendo a estabilidade. Para amenizar esse fenômeno, a CBX 750F vinha com o sistema Trac, uma válvula que, acionada pelo freio dianteiro, fechava parte da passagem de óleo dos amortecedores dianteiros, tornando-os mais firmes.

Um botão giratório na base de uma das bengalas controlava a intensidade do  anti-mergulho em quatro posições. A outra bengala tinha regulagem de pré- carga da mola. Trac , que escrevo assim com letras minúsculas, não era mencionado como uma sigla, mas sim como um acrônimo, ou seja, uma sigla que virou palavra.

O significado era Torque Reactive Anti-Dive Control , ou seja, controle de anti- mergulho reativo ao torque. Apenas a primeira Honda CBX 750F, a de 1986, que veio montada do Japão, tinha esse sistema, pois em 1987, já produzida em Manaus, ela passou a ter suspensão dianteira convencional.

Já nos anos 90, a Suzuki nos trouxe uma estirpe de motocicletas que mexeu bastante com o mercado das superesportivas. A linha GSX-R ganhou, em 1996, um sistema de admissão de ar para o motor que o captava na frente da motocicleta, direcionando-o para a caixa do filtro de ar.

O que acontecia era que, em altas velocidades , a pressão do ar que entrava era tanta que a potência do motor aumentava consideravelmente. Era como se um pequeno compressor estivesse instalado.

Ram air não é sigla só dos carros

Foi a Suzuki GT 250 de 1971 que introduziu o termo Ram Air System
Arquivo pessoal
Foi a Suzuki GT 250 de 1971 que introduziu o termo Ram Air System

O nome do sistema era Suzuki Ram Air Direct (sistema de ar forçado), mas a sua sigla Srad, também um acrônimo, praticamente foi incorporada ao nome da motocicleta. O sistema não era novidade, alguns aviões nos anos 40 já o usavam, e atualmente outras marcas de motocicletas também usam (com outro nome, logicamente).

O interessante é que o termo Ram Air já havia sido usado pela própria Suzuki, nos anos 70, para designar seus modelos que tinham uma passagem de ar sobre os cabeçotes, nesse caso não para aumentar a potência, mas sim para auxiliar no arrefecimento dos motores dois tempos refrigerados a ar.

Alguém já deve estar se perguntando “mas o que significa CG?”, ou “o que quer dizer RD?”, ou questionando sobre qualquer letra ou conjunto delas que nomeiam uma motocicleta . É claro que esse é um assunto pra lá de interessante, mas essas letras fazem parte do nome da moto e não de um sistema. Está bem, vamos falar sobre isso oportunamente.

Praticamente todos os sistemas de uma motocicleta têm um nome e, com isso, uma sigla, desde os tempos mais remotos até hoje. Quando o platinado foi abolido das motos, nos anos 70, o sistema de descarga capacitiva CDI (Capacitive Discherge Ignition) ficou bastante conhecido. Mas não nomeou nenhum modelo.

DOC? Mas a moto pode ter título de doutor?

A sigla do cabeçote acabou apelidando a motocicleta
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A sigla do cabeçote acabou apelidando a motocicleta

Já a sigla ABS , que significa Antilocking Brake System, vira e mexe faz parte do nome de motocicletas atuais, principalmente as mais populares, para indicar que elas têm esse sistema. Apenas como exemplos, a Honda tem, em suas motocicletas mais recentes, o complicado sistema

SDBV (Showa Dual Bending Valve) na suspensão dianteira , o tecnológico HSVCS (Honda Smartphone Voice Control System) e o conhecido sistema HSTC de controle de tração. Entre muitos outros.

Então, para terminar, voltando no tempo, não poderíamos deixar de mencionar a sigla DOHC , que significa Double Over Head Camshaft, ou seja, duplo comando de válvulas no cabeçote.

Não se trata do nome de um sistema, mas sim de uma sigla que caracteriza uma arquitetura no sistema de admissão dos motores quatro tempos. Diferentemente de um DOHC, podemos citar os motores OHC, ou SOHC (Single Over Head Camshaft), ou seja, comando simples, ou único, no cabeçote, ou ainda os motores OHV (Over Head Valves), que têm o comando de válvulas no bloco e as válvulas no cabeçote, acionadas por varetas.

Mais simples ainda seriam os motores Flat Head, ou “cabeça plana”, que têm as válvulas laterais, dentro do bloco, acionadas diretamente pelo comando também no bloco. Nesse caso, o cabeçote não passa de uma tampa. O caso do DOHC foi citado porque, além de designar o que seria a tecnologia mais avançada para a sua época, acabou batizando, mesmo que extra-oficialmente, uma motocicleta da Honda, a CB 450 japonesa dos anos 60.

Era a única na família CB com motor DOHC, todas as outras eram SOHC. Por isso essa motocicleta ficou conhecida por Honda CB 450 “Doc”. E olha que ela nem tinha título de doutor…

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