Desde que a Harley-Davidson mudou toda a sua linha, no fim do ano passado, todos que experimentaram os novos modelos os têm elogiado muito, principalmente quanto à dirigibilidade. Sei até de alguns casos perdidos que simplesmente descartavam a ideia de, um dia, ter uma H-D, mas que agora estão revendo os seus conceitos.
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A Harley-Davidson Heritage Classic é um bom exemplo de mudança polêmica, já que não apenas incorporou as boas novidades tecnológicas de toda a linha softail, mas também radicalizou na metamorfose visual.
Para aqueles que sempre tiveram a Heritage Classic como uma referência de elegância atemporal, graças à grande quantidade de cromados, a nova Heritage pode ser um choque. Praticamente toda preta, ela não ficou feia, apenas mudou da água para o vinho. Ou melhor: de um vinho Cabernet para um Merlot.
Com exceção dos escapamentos, tudo que era cromado passa a ser preto brilhante, incluindo o guidão, as rodas raiadas e o garfo dianteiro. Os pneus de faixas brancas também sumiram, esse item nostálgico ficando agora apenas para a ainda bela DeLuxe e para a Road King.
Os próprios criadores da pesada alteração brincam com esse fato no site da marca, chamando a nova Heritage Classic de “ovelha negra da família” e “o clássico sombrio da era moderna”, explicando que, se a antiga Heritage era uma homenagem à nostalgia dos cromados dos anos 50, a nova mudará isso. E mudou.
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Eu diria que a nova H-D Heritage Classic é agora uma homenagem à nostalgia das motos dark dos anos 40. Até o para-brisa removível tem agora a parte inferior pintada de preto. Aqui para mim, “se eu fosse a Harley” continuaria com a Heritage Classic cheia de cromados e “criaria” a nova com outro nome, por exemplo, Heritage Dark. Opções são sempre bem-vindas.
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A Harley-Davidson Heritage Classic pertence à família Softail, sendo que é a única desse grupo que vem com alforjes, aquelas malas laterais de couro. Os alforjes também são novos na Heritage, perderam as franjinhas e os botões cromados, ganharam fechaduras com chave e ficaram muito mais práticos de serem manuseados.
Pé na estrada com a Harley
Eu já havia viajado com essa mesma Heritage no fim do ano passado mas ela voltou com uma boa novidade, o kit Tour-Pak. Trata-se da mala traseira, aquela que chamamos de baú, um acessório tão fácil de por e tirar quanto os alforjes e o para-brisa. Assim o volume de bagagem aumentou de 43 litros, nos dois alforjes, para 85 litros, no total. A vantagem é que o acessório já vem com encosto para o garupa (a Heritage anterior tinha sissy-bar). A desvantagem é que precisa trocar a posição da placa traseira, de cima da lanterna para baixo. A vantagem é que assim a moto fica mais bonita.
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Por falar no garupa, com o encosto do Tour-Pak seu conforto é nota dez na Heritage, já que o seu banco não o joga para trás, como em alguns modelos Harley. E é claro que não vamos comparar esse posto com a “poltrona” que existe nas enormes Ultra.
Com esse baú, arriscaremos uma comparação da nova Heritage Classic com as estradeiras da família Touring, mais especificamente a Road King Classic, que tem alforjes maiores, e a Road Glide Ultra, que tem malas laterais e porta-malas rígidos. A King tem para-brisa igual ao da Heritage e leva 64 litros de bagagem. A Glide tem um enorme carenagem e leva 132 litros de bagagem.
Os motores são os mesmos, o Milwaukee-Eight 107 de 1.753 cm3, com torque de 15 kgfm (a Ultra tem refrigeração auxiliar a água e por isso seu torque chega a 15,6 kgfm). As relações de câmbio da Heritage são mais longas que nas outras duas, de forma que em velocidade de cruzeiro o motor pode virar menos. Em algumas situações, a Heritage nos obriga a usar marchas mais baixas. A geometria de direção/suspensão dianteira é mais fechada na Heritage, o que a torna muito mais ágil em curvas mais fechadas. A Heritage é bem mais baixa do que as outras duas. E, por fim, o peso: 330 kg para a Heritage, 376 kg para a King e 425 kg para a Glide. Com essa comparação, podemos concluir que a Harley-Davidson Heritage Classic com o kit Tour-Pak encara de frente as motocicletas estradeiras da família Touring.
Além dessas radicais mudanças estéticas, a nova Heritage Classic passou a ter também todos os aprimoramentos técnicos e tecnológicos da linha Softail para 2018. Isso significa que seu quadro ficou mais leve, as suspensões melhoraram “uma barbaridade”, resultando em um comportamento dinâmico sem comparação com a versão cromada de 2017. A nova motocicleta continua grande e pesada, porém faz curvas que seriam impossíveis com a versão anterior.
A nova Heritage Classic tem farol principal, faróis auxiliares e lanterna traseira de leds, tem um ponto USB no painel para o celular ou navegador e tem também controlador de velocidade de cruzeiro, o que alguns incautos chamam de piloto automático. O preço dessa motocicleta é de R$ 73.980.
Agora um momento nostalgia: alguém lembra das antigas Harley-Davidson H-D Heritage Springer, que tinham um maravilhoso conjunto cromado de suspensão dianteira de molas externas? Ruim para pilotar, ruim para manter, mas excelente para se admirar.