Quem gosta de carro sempre tem aquela vontade de participar de uma corrida de automóvel para sentir e entender melhor as emoções que um piloto tem na pista. Porém, quando você assiste um GP de Fórmula 1 ou uma prova de Stock Car, onde estou competindo há três anos seguidos, não tem ideia da dificuldade de ser tornar um profissional de automobilismo.
Ainda se destacar no meio deles, como um verdadeiro fora-de-série do volante, é um caminho muito longo, que começa no kart , alguns até com menos de 10 anos de idade. Eu até já entrei meio atrasado, com 13! Pois bem, a partir de agora vou mostrar aqui as muitas e principais diferenças que existem entre andar na rua e pilotar numa pista.
Para início de conversa, se eu já comecei a correr um pouco tarde, imagine você que passou dos 18 anos. Mas não desanime porque no automobilismo atual existem muitas categorias de amadores, que chegam a fazer duplas com profissionais, justamente para deixar essa diferença de maior ou menos experiência fora de uma disputa direta, ao contrário do que ocorria antigamente quando meu pai começou a correr.
Existem vários cursos de escolas de pilotagem para você receber mais rapidamente um certificado que o torna apto a participar de qualquer categoria automobilística no Brasil, com exceção da própria Stock Car e da Fórmula Truck, que requerem exames mais específicos.
Se você nunca andou numa pista, poderia te convidar a dar uma volta comigo, em Interlagos, por exemplo, num carro semelhante ao meu próprio Toyota Corolla de Stock Car , adaptado com um banco de passageiro para ir te explicando, inicialmente, como você deve fazer para dar uma volta rápida, mostrando as marchas que você deve entrar em cada uma das curvas, os melhores pontos de frenagens e de tangências, entre outras diversas dicas.
Com certeza, você já teria uma ideia do que fazer, mas quando eu colocar em prática tudo aquilo que te expliquei, fazendo uma volta rápida do meu lado, é quase certo que sairá do carro pensando ser impossível chegar ao meu nível de pilotagem. A sua vontade imediata será a de desistir porque, além do medo, o que você aprendeu a dirigir na rua não tem quase nada a ver com a realidade de uma pista.
A começar pelo próprio carro de corrida que tem todas as suas características desenvolvidas para andar velozmente na pista, ao contrário de um carro de rua que é feito para proporcionar mais conforto com as restrições cada vez maiores de velocidades nas ruas e nas estradas.
Só comparando o motor gasolina/etanol de um T oyota Corolla
de rua com o do meu Stock de pista você vê claramente a diferença de desempenho. Equipado com motor 2 litros aspirado, de quatro cilindros, 177 cv de potência e 21.4 kgmf de torque, o carro japonês acelera de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos.
Já o meu Stock, confesso que não sei nem quanto faz de aceleração, mas posso lhe garantir que é muito, mas muito mais rápido principalmente entre as saídas de curvas e a chegada nelas com seu motor V8 6.8 movido a etanol , capaz de render 460 cv de potência e torque de 61,2 kgfm em utilização normal e até 550 cv e torque de 71,4 kgfm com o “push to pass” (botão de ultrapassagem acionado).
Você viu?
O Stock de corrida tem também freios, suspensão e diversas outras características especiais para garantir total segurança e confiança para o piloto aproveitar todo esse motor de muito mais força e potência.
Mas o que pretendo mostrar agora é que as situações de pista e rua são completamente diferentes. No trânsito, você tem que ter uma visão ampla para se preocupar com seu carro, os dos demais, os pedestres, os semáforos, os imprevistos, entre outros fatores. Você usa velocidades cada vez mais baixas e freia levemente o carro quando o trânsito vai parando.
Já numa pista, a situação é totalmente diferente porque você tem que ser o mais rápido possível nas retas, curvas e frear o mais próximo possível do limite, sempre com a preocupação de não deixar o carro escapar. Ou seja, só se consegue isso treinando, de preferência, mais do que os seus adversários.
Para fazer uma curva do jeito mais rápido possível, é preciso entender a sua melhor tangência por intuição, o que só se consegue por diversas passagens. Da mesma forma, você entende qual deve ser o ponto de frenagem dela, qual a trajetória melhor, qual o momento em que você para de acelerar e começa a pisar fundo novamente e ainda qual a melhor maneira de sair dela rumo ao próximo objetivo.
Algumas escapadas também fazem parte dos treinos e nem preciso dizer que se isso acontece com você, numa estrada, vai se complicar e pode prejudicar até outro motorista. Os pneus também fazem muita diferença . Sem as ranhuras de escoamento de água que os tipos convencionais de ruas necessitam, os slicks de competição têm uma área de contato bem maior, proporcionando mais aderência e confiança muito acima do que você está acostumado.
Os freios de um carro de corrida são superdimensionados justamente para suportar freadas mais fortes e constantes durante todas as voltas de uma corrida. Se você fizer o mesmo tipo de uso com seu carro de rua, numa serra, em cada curva por exemplo, com certeza, irá sobreaquecer os discos e ele irá perder eficiência.
Outro ponto importante que muitas pessoas nem percebem quando dirigem nas ruas, mas que na pista passa a ser obrigatório fazer é a de encontrar rapidamente a posição ideal de dirigir. Eu vejo muitas pessoas no trânsito que seguram o volante com os braços esticados, como se quisessem afastá-lo do corpo. Nessa posição, os braços ficam tensos, sem folga. Os movimentos ficam mais difíceis e limitados. O ideal é que fiquem flexionados, com boa folga, com o tórax próximo do volante.
Assim, imagino que passei um pouco dos meus conhecimentos de pilotar na pista, o que você ainda não está acostumado a fazer, pedindo, é claro, para sempre tomar o máximo de cuidado quando dirige nas ruas . Mesmo porque eu quero que você sempre leia essa minha coluna. Até a semana que vem. Acompanhe no meu Instagram @brubap. Tamo junto!