Amigo do iG Carros, hoje eu vou começar essa minha terceira coluna semanal falando sobre um esportivo de dar água na boca: o Mercedes-AMG GT . Imagino que esteja estranhando que um piloto jovem da Stock Car, que corre de Toyota Corolla na principal categoria do automobilismo brasileiro, inicie esse bate-papo com seus novos leitores adiantando que o seu assunto principal será um carro caríssimo que pouquíssimos têm condições de comprar.
Mas a nossa vida de piloto é também cheia de surpresas. Imagine que morria de vontade de voltar a correr novamente também na Europa, mas não tinha a menor ideia de que agora estaria carimbando o meu passaporte de piloto para participar do Fanatec GT World Challenge Europe Endurance Cup (antigo Blancpain GT Series), competição de 5 etapas com provas de longa duração, sendo a principal delas a tradicional “24 Horas de Spa”, na Bélgica, em fins de julho.
O carro é o incrível superesportivo da Mercedes que deixa qualquer um alucinado quando tem a chance de vê-lo de perto. Afinal, na realidade, o AMG GT-R é um carro de pista homologado para as ruas.
Antes do teste que fiz com o legítimo de corridas no circuito de Paul Ricard , na França, na última semana do mês passado, já até tinha lido numa reportagem, sobre ele, que o seu comportamento de tão brutal fazia o Audi R8 parecer um carro de passeio.
Deixando esse exagero de lado, mesmo porque o esportivo da Audi também tem a sua versão de pista, é importante destacar que a categoria onde vou competir é muito equilibrada em relação ao desempenho dos carros. E cada esportivo é deixar qualquer um sonhando acordado.
Vou fazer a lista, por ordem alfabética, para não cometer injustiça: Aston Martin Vantage AMR GT3, Audi R8 LMS GT3, Bentley Continental GT3, BMW M6 GT3, Ferrari 488 GT3, Honda NSX GT3, Lamborghini Huracan GT3 EVO, Lexus RC F GT3, McLaren 720 S GT3 e Mercedes-AMG GT3.
Gostou? Bem, o meu Mercedes ficou em último lugar, mas espero que os últimos sejam os primeiros no campeonato deste ano, que irá começar no sagrado Autódromo de Monza, na Itália, entre os dias 16 e 18 de abril.
Você viu?
Olha só os locais e as corridas, são de sonho maluco também: 2ª etapa – 1000 Km de Paul Ricard (França), em fins de maio; 3ª etapa – 24 Horas de Spa (Bélgica), em fins de julho; 4ª etapa – Nürburgring (Alemanha), 1ª semana de setembro; e 5ª e última etapa – Barcelona (Espanha), de 8 a 10 de outubro.
Acho melhor não acordarmos de repente porque esse sonho de campeonato eu vou dividi-lo com você sempre por aqui, como também todas as minhas participações nas 10 corridas do Brasileiro de Stock, pois nenhuma delas coincide em datas.
Assim, que tal voltarmos para o começo de nossa conversa sobre aquele Mercedes-AMG GT-R de rua, que impressiona qualquer um inicialmente pela sua frente enorme que dá a impressão de deixar a visibilidade de quem dirige meio restrita. Guiando a versão GT 3 de pista, no início, isso acontece um pouco, mas logo você se acostuma. Quanto à largura senti que se andasse com o carro, no trânsito de São Paulo, por exemplo, o motorista tem que se adaptar também aos mais de 2 metros de largura dele.
Mas como só fiz um teste do Mercedes-AMG GT3
de corrida no circuito de Paul Ricard e ainda vamos ter muito tempo para sentir e falar sobre diversos detalhes desse magnífico carro de pista e de rua, prefiro agora fazer um comparativo mais direto do comportamento dele em relação ao meu atual Toyota Corolla de Stock, até para não se entender muito em texto.
Para começar, em relação ao modelo de rua, com motor de 4 litros, V8, com potência de 585 hp e torque de 71,4 mkgf, o Mercedes
de pista não tem quase diferença de potência porque todos os carros da categoria GT3 de provas de Endurance
necessitam ter entre 500 a 600 cv de potência e peso entre 1.200 a 1.300 kg, sempre definidos a dar aos carros uma relação peso-potência parecida.
Assim, a diferença maior entre os dois Mercedes é que o modelo de rua tem peso original próximo dos 1.650 kg. Mesmo assim, para você ter uma ideia do que é rápido é só ver em sua ficha técnica, que acelera de 0 a 100 km/h em apenas 3,6 segundos. Imagina então, agora, o nosso de pista bem mais levinho.
Já o motor do Toyota Corolla
de 2 litros e quatro cilindros, é bem menos potente (177 cv e torque de 21,4 mkgf de torque) do que o de Stock, V8 6.8 movido a etanol, capaz de render 460 cv de potência e torque de 61,2 kgfm em utilização normal e até 550 cv e torque de 71,4 kgfm com o “push to pass” (botão de ultrapassagem acionado).
Assim, de antemão, em termos de comparação de performance entre o meu Stock de pista com o do Mercedes-AMG GT3 que pilotei, agora, na Europa, pelos próprios números, é quase imperceptível. Na pista, a base de como pilotar o Stock e o Mercedes é a mesma em relação ao jeito e a técnica.
Mas o problema é que cada carro de corrida tem os seus truques e o piloto, depois de muito treino, fica com as suas melhores cartinhas escondidas na manga para usar, principalmente, nas tomadas oficiais de tempos e nas corridas.
Sobre o Mercedes AMG-GT
, com apenas um treino, eu posso garantir que ainda não estou tão bem de cartas e não iria arriscar apostas altas num cassino. Mas o que eu pude perceber muito bem é que a diferença dele para o Corolla de Stock
começa no seu maior down-force de aerodinâmica, que faz o carro ficar mais preso no chão nas curvas.
O Mercedes oferece ainda uma vantagem em termos de tecnologia por utilizar controle de tração e ABS. Ninguém tem dúvida de que esses recursos proporcionam mais facilidade para pilotar, porém, muitas vezes, principalmente nas saídas de curvas, atrapalha quando está tracionado.
Eu pude notar que quando você consegue sair de uma curva com ele desligado de sua função, a potência e o torque mais cheios do motor chegam mais rápido às rodas e dá para ganhar alguns milésimos, centésimos ou décimos de segundo preciosos numa volta de treino ou corrida.
Assim, posso adiantar que terei que treinar muito ainda com ele para descobrir as melhores manhas de ganhar tempo nas freadas e saídas de curvas porque entre o conjunto controle de tração e o ABS, o Mercedes-AMG GT3
oferece 10 regulagens diferentes. Se você tá mesmo junto comigo neste difícil e equilibrado campeonato, com provas de longa duração, tamo frito neste começo com tanta regulagem assim.
Nossa, eu ia terminando a minha coluna sem dizer o nome da equipe que me contratou para correr no Fanatec GT World Challenge Europe Endurance Cup
. É a alemã Get Speed Performance, sediada em Munique, na Alemanha, que você pode acompanhar mais de perto seguindo o seu Instagram @getspeed.
Felizmente, eles gostaram do meu primeiro treino e estão acreditando no meu potencial para tentar o título do campeonato especial e de muita projeção de pilotos da categoria Silver, que fica entre os participantes de nível ouro e bronze registrados na FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Se você também confia no meu trabalho, continue lendo essa minha coluna semanalmente e me siga diariamente no meu Instagram @Brubap. Agora tamo junto nos sonhos e nas pistas.