Na economia de mercado, quem decide o preço é o consumidor. Se o produto tem pouca
produção e é muito procurado, o preço sobe; se tem muita oferta e é pouco procurado, o
preço cai. Isso na teoria. Porque na prática, pelo menos da indústria automobilística, não
funciona assim. Especialmente no Brasil, os preços parecem não obedecer a nenhuma
lógica de oferta e procura, mas sim de posicionamento decidido entre quatro paredes.
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Antes de ir direto ao ponto, devo dizer também que a política de preços é uma decisão
muito particular de cada fabricante. Num mercado livre, quem produz estipula o preço
que quiser – se o mercado vai comprar ou não, é outra história. Mas, justamente por ser
uma questão estratégica, não cabe uma crítica por “abuso” ou elogio por
“generosidade”. De qualquer forma, gostaria de usar a coluna desta semana para
comentar a estratégia de preços do novo Volkswagen Virtus
. Sempre deixando claro
que a Volks é dona do produto e pode cobrar o preço que quiser, sem dar explicações a
ninguém – muito menos a mim.
Dito isso, e exercendo meu papel de analista da cena automobilística, quero expressar
meu espanto com os preços do Virtus. Não por ser caro ou barato, mas pela distância
entre as versões. O Virtus de entrada custa R$ 59.990. O Virtus intermediário sai por R$
73.490 (uma diferença de R$ 13.500) e o Virtus topo de linha custa R$ 79.990
(diferença de R$ 6.500). Entre o Virtus 1.6 MSI, que tem motor flex aspirado de
110/117 cavalos (gasolina/etanol), e o Virtus 1.0 200 MPI, que tem motor flex
turbinado de 116/128 cavalos, a diferença pode chegar a incríveis R$ 20.000.
Até aí, tudo bem, por causa dos equipamentos de série, apesar de o gap de preços ser
incomum no mercado. O que não dá para entender é porque a escala de preços entre o
Polo 1.6 MSI, o Polo 200 TSI Comfortline e o Polo 200 TSI Higline – que usam os
mesmíssimos equipamentos do irmão Virtus – são muito menores. Vou tentar ser mais
claro.
Os preços do Polo e do Virtus
Nas versões citadas (1.6 MSI, 200 TSI Comfortline e 200 TSI Highline), o Polo e o
Virtus, ambos da Volkswagen, têm exatamente os mesmos equipamentos. Tudo é igual.
A única diferença é a carroceria, maior no Virtus, tanto em comprimento e entre-eixos
quanto na capacidade do porta-malas. Não dá para dizer que o custo de um Virtus
Highline em comparação com um Virtus Comfortline seja maior que o custo de um
Polo Higline em comparação com um Polo Comfortline. Simplesmente não faz sentido.
Até porque, segundo a própria Volkswagen, a grande vantagem da plataforma modular
MQB é poder fazer um carro maior sem aumentar muito os custos. Então, se a diferença
de preço de um Polo 1.6 para um Virtus 1.6 é de R$ 5.000, o que explica os R$ 8.300 de
diferença entre um Polo Comfortline e um Virtus Comfortline? E os R$ 10.800 de
diferença entre um Polo Highline e um Virtus Highline? A resposta? Nada. Não há
justificativa técnica para tais diferenças. A única justificativa está no desejo da
Volkswagen de cobrar muito caro pelo Virtus Highline e posicioná-lo nas barbas do
preço de sedãs superiores. Por que? Não sei. E a Volks já deu mostras de que não quer
falar sobre isso. Ou então, pelo contrário, a empresa está tendo margens reduzidíssimas
no Polo e no Virtus de entrada e quer descontar a diferença no bolso dos clientes que
comprarão o Virtus Comfortline o Virtus Highline.
Outros exemplos de hatches e sedãs
Pesquisei a diferença de preços entre hatches e sedãs da mesma família e não há
nenhum caso como o do Polo e do Virtus. Dentro da própria Volkswagen, os preços do
Gol (hatch) e do Voyage (sedã) mantêm uma faixa de diferença de R$ 5.250 a R$ 5.340
(variação insignificante), com exceção do Gol 1.0 Trendline (R$ 43.840) e do Voyage
1.0 Trendline (R$ 51.200), cuja diferença chega a R$ 7.360 porque o Gol foi
reposicionado como carro de entrada de forma mais intensa.
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Na linha Chevrolet ocorre a mesma coisa. Comparei quatro versões do Onix (hatch) e
do Prisma (sedã) e a variação de diferença entre eles vai de R$ 4.400 a R$ 5.500, sendo
que na maioria dos casos não passa de R$ 100 de variação no comparativo das mesmas
versões de hatch e sedã. Finalmente, na linha Hyundai, o HB20 (hatch) e o HB20S
(sedã) também varia pouquíssimo nas quatro versões analisadas, de R$ 5.480 a R$
5.530. A exceção, como na família Gol/Volks, é o HB20/HB20S de entrada, que chega
a R$ 7.330.
O que a Volkswagen pretende com esses preços estranhos do Virtus Comfortline e
Highline em relação ao Polo Comfortline e Highline? Sinceramente, não sei. Talvez seja uma estratégia para esperar os preços do Fiat Cronos. Segue abaixo uma tabela dos preços dos carros citados e das diferenças entre hatches e sedãs para que você mesmo tire suas conclusões e decida se a Volkswagen está sendo boazinha nas versões de entrada do Polo e do Virtus ou mazinha nas versões superiores do Virtus – ou as duas coisas. Em tempo: os dois carros são ótimos e, como eu disse, a Volks tem o direito de cobrar o quanto quiser.