A construção de imagem de marca é complexa e leva tempo. É um caminho cheio de obstáculos e requer grande capacidade estratégia para enfrentar as adversidades. E é assim que a Renault está conquistando seu espaço entre os maiores fabricantes de carros do Brasil.
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Em abril, a Renault teve um desempenho espetacular. Ocupou o quarto lugar no ranking de automóveis de passeio, com 10,3% de participação, atrás apenas da Chevrolet, da Volkswagen e da Ford. Terminou em quinto nas vendas de comerciais leves, com 6%. E subiu para a quarta posição na soma dos veículos leves, com mais de 20 mil carros emplacados e 9,6% de participação.
Atrás apenas da Chevrolet, da Volkswagen e da Fiat, mas à frente da Ford, da Hyundai e da Toyota (que permanecem à sua frente no ranking anual), a Renault é a marca a ser observada. Se fosse na Argentina, onde sua história começou em 1956, portanto há mais de 70 anos, seria normal. Mas estamos falando do Brasil, um país que sempre olhou com desconfiança para os carros da Renault, por um duplo motivo: primeiro, eram franceses; segundo, eram “argentinos”.
Aos poucos, a Renault vai caindo no gosto do consumidor brasileiro – e podemos destacar pelo menos cinco razões para isso.
1: Kwid, o ousado
O Kwid é a cara da nova Renault. Sem se abalar com os problemas enfrentados no início da produção de seu subcompacto construído à semelhança de um SUV, a Renault agora comemora seus números. O Kwid já é o terceiro carro de entrada mais vendido do Brasil, com 20.303 emplacamentos. Está muito próximo do Volkswagen Gol (21.705) e já abre boa distância para seus rivais diretos: Fiat Mobi (16.539) e VW Up (6.558).
Se contarmos só as vendas nas concessionárias, o chamado varejo, um Kwid sozinho emplaca mais do que a soma do Mobi e do Up. Em abril, foram 5.647 Kwid contra 3.962 Mobi-Up, uma diferença de 1.685 carros. Nos primeiros quatro meses do ano, foram 17.571 Kwid contra 15.848 Mobi-Up, uma vantagem de 1.723 carros.
Essa diferença vai aumentar com o passar dos meses, apesar da recente majoração de preços do carro francês. Para além do da proposta de se parecer com um SUV compacto, o Renault Kwid é o primeiro carro do Brasil a oferecer um sistema de venda 100% online. Por meio da plataforma K-Commerce, você pode comprar um Kwid inteiramente pelo seu celular e só vai na concessionária para retirar o carro.
2: Beleza do Captur
O Captur ganhou quase todos os prêmios de design no Brasil desde que foi lançado. E isso conta muito para o consumidor brasileiro. Depois do preço, a beleza do carro é o segundo item decisivo de compra. É verdade que o Captur ainda tem vendas muito abaixo de seus principais concorrentes, mas somente nos últimos meses ele começou a ser vendido com câmbio automático (CVT) nas versões mais baratas. A tendência é que o carro suba gradativamente nas vendas.
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Junto com a beleza do Captur, a Renault tem na figura da atriz Marina Ruy Barbosa uma excelente garota-propaganda. Marina é atualmente a “namoradinha do Brasil”, aquela atriz que faz sucesso nas novelas e que todas as famílias olham com admiração. Para se ter uma ideia, a recente publicidade com Marina Ruy Barbosa, na qual ela é uma sereia que foge com o carro do humano encantado por sua beleza, fez as vendas do Captur vermelho dobrarem e atingirem 30% do mix – um feito num país que só consome carro preto, prata e cinza. O filme é tão bom que pela primeira vez uma publicidade da Renault brasileira é exibida na Argentina.
3: Racionalidade do Sandero
Já faz alguns anos que o Sandero se transformou no motor que puxa as vendas da Renault para cima no mercado brasileiro. Esse carro, na verdade, foi o transformador da imagem da marca no Brasil. Nascido no Brasil como Renault e na Romênia sob a marca Dacia (uma das muitas que pertencem à Aliança Renault Nissan Mitsubishi), o Sandero trouxe para a Renault um forte tripé: robustez, economia e espaço interno. Não demorou muito para os brasileiros perceberem que o Sandero era o carro mais racional da categoria.
Recentemente, com a chegada da nova geração, além de oferecer um porta-malas digno de modelos maiores e mais caros, o Sandero ganhou simpatia também por ser bonito. Um acréscimo nada desprezível num carro que já era admirado por sua configuração familiar. Para completar a gama do Sandero, a Renault ainda acrescentou um elemento abandonado por todas as outras montadoras presentes no Brasil: a esportividade. Assim, o Sandero R.S. passou a ser a única opção de carro realmente esportivo com preço acessível.
Enquanto outras marcas apostam nos enfeites dos carros “esportivados”, sem nenhum atrativo mecânico, o Sandero tem a rigorosa chancela da Renault Sport, no que diz respeito à motorização e às suspensões, além do visual arrojado.
4: Presença nas competições
O automobilismo é ignorado pela maioria das marcas. Mas não pela Renault. Das marcas que competem diretamente com a Renault no mercado brasileiro (Chevrolet, Volkswagen, Fiat, Ford, Hyundai e Toyota), nenhuma tem um reconhecimento nas competições como a Renault.
Para se ter uma ideia, a Chevrolet usou a Stock Car para vender a esportividade do Equinox, um SUV que emplaca cerca de 400 unidades/mês. E a Toyota tem no distante Mundial de Endurance da FIA (o WEC), uma participação como única montadora que restou na categoria dos supercarros protótipos. Quanto às outras marcas, se fazem alguma coisa nas competições, ninguém sabe, ninguém viu.
Já a Renault está presente onde existe passado, presente e futuro. Ou seja: na Fórmula 1 e na Fórmula E. Não faz muitos anos, a Renault foi campeã mundial de construtores na F1. Foi a primeira marca a correr com motores turbo, nos anos 1970. E foi fornecedora de motores de equipes de primeira linha, como Lotus e Williams. Hoje fornece motores e tem uma equipe própria.
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Já na Fórmula E, que é o mundial de carros elétricos, a Renault foi a primeira marca a participar ativamente, fornecendo motores para todas as equipes. Hoje a Fórmula E atrai atenção de marcas como Nissan e Porsche e outras também irão para lá.
Além disso, a Renault é uma das patrocinadoras da Fórmula 1 na TV Globo. Por mais que as corridas tenham perdido o charme para os viúvos de Ayrton Senna, o fato de ser cotista da F1 na Globo coloca a Renault nos mais importantes noticiários da rede. Só o espaço que ela ganha em mídia no Jornal Nacional, por exemplo, já compensa o investimento. Assim, a Renault está em evidência o tempo todo nos noticiários da televisão.
5: Apoio à cultura
Pergunte a qualquer fã de teatro do Brasil inteiro onde são exibidas as melhores peças, os grandes musicais que fazem sucesso na Broadway. A resposta será: Teatro Renault. Montagens como “O Fantasma da Ópera”, “Les Miserables” e a atual “A Noviça Rebelde” estão sempre ligadas à marca Renault. E não é só isso.
Segundo o site da montadora, “há três anos a Renault patrocina uma das maiores mostras teatrais da América Latina, o Festival de Teatro de Curitiba. Em 2016 foram mais de 340 atrações divididas em 13 dias de espetáculo. A promessa era um evento que integrasse as mais diversas manifestações artísticas em um único Festival, levando uma nova visão para a capital paranaense”. Assim, a Renault está presente também na cultura e chamou para si um espaçoi que durante muitos anos foi ocupado pela Chevrolet.
No final das contas, nenhuma dessas cinco razões transformará a Renault em líder do mercado. Entretanto, a somatória dessas razões, com boas estratégias quando surgem os imprevistos, ao longo dos anos vai fortalecendo a marca no país. Fiquem de olho na Renault !