Toyota Corolla: o sedã japonês pode ser chamado de carro pós-moderno porque está sempre se renovando, porém sem romper totalmente com o passado
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Toyota Corolla: o sedã japonês pode ser chamado de carro pós-moderno porque está sempre se renovando, porém sem romper totalmente com o passado

Quando fui convidado para fazer uma coluna no iG, o diretor do portal, André Jalonetsky, me pediu que na medida do possível trouxesse para o público da internet algumas visões que tenho na Academia, frequentando aulas de Mestrado e Doutorado na Cásper Líbero e na USP. Por isso, esta semana quero abordar a questão dos carros modernos e dos carros contemporâneos, entre os quais o Corolla.

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Estamos todos sempre acostumados a chamar lançamentos recentes de “modernos”. Mas isso não é de todo correto. Eu poderia considerar como “modernos” o Ford T, o Fusca e o Jeep Renegade. E poderia chamar de “contemporâneos” carros como Honda Civic , Fiat Mobi, Chevrolet Prisma e Mercedes Classe A. E ainda de pós-modernos carros como Volkswagen Gol, Porsche 911, Ford Mustang e Toyota Corolla. Mas qual a razão disso? Por que o Corolla seria pós-moderno e o Civic contemporâneo?

Evidentemente que ninguém vai fiscalizar os jornalistas sobre o uso da palavra moderno em tudo que é lançado. Até porque a definição de modernidade é muito complexa, sem contar suas vertentes, como modernidade líquida ou modernidade tardia. Mas vale a pena aplicar os conceitos de modernidade e contemporaneidade ao mundinho dos carros, pelo menos como curiosidade. Desde já aviso que isso não tem qualquer sentido prático; é só uma pensata mesmo, dentro da linha solicitada pelo diretor do iG para sair um pouco da linguagem convencional dos textos automotivos.

Os carros modernos

Ford T: o primeiro modelo produzido em série no mundo pode ser chamado de carro moderno, pois seu único foco foi o que representaria no futuro.O Corolla não se encaixa nesse caso.
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Ford T: o primeiro modelo produzido em série no mundo pode ser chamado de carro moderno, pois seu único foco foi o que representaria no futuro.O Corolla não se encaixa nesse caso.

Parafraseando o filósofo colombiano Jesús Martín-Barbero, podemos dizer que carros modernos são aqueles em que a dinâmica e o peso da história estavam inteiramente focados no futuro, em detrimento do passado. Podemos encaixar nessa classe carros como o Ford T (que revolucionou a indústria automobilística) e o Volkswagen Fusca (que nasceu para ser o “carro do povo” no regime nazista). Para muitos sociólogos, a era moderna começou na época das grandes navegações (portanto, ainda no século XV), teve seu marco com a filosofia de Descartes e se estendeu até o fim da Segunda Guerra Mundial (1945). Mas há autores que preferem dizer que a era moderna acabou na década de 1930.

Se fôssemos nos basear por essas datas, nenhum carro atual poderia ser chamado de moderno, certo? Mas não é bem assim. O Jeep Renegade, por exemplo, rompeu com o passado do Ford EcoSport ao impor um novo padrão para os SUVs compactos, com um olhar para o futuro. O mesmo podemos dizer do Fiat Uno, ao criar uma categoria de carros populares com vistas a um grande mercado consumidor.

Os carros pós-modernos

Não existe uma ruptura completa entre um novo e o antigo Porsche 911. O mesmo acontece com o Toyota Corolla
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Não existe uma ruptura completa entre um novo e o antigo Porsche 911. O mesmo acontece com o Toyota Corolla

 Segundo o filósofo italiano Gianni Vattimo, uma das características da pós-modernidade (ou modernidade tardia) é a do progresso transformado em rotina, pois a renovação permanente e incessante das coisas é necessária para garantir a sobrevivência do sistema. “A novidade agora não tem nada de perturbador”, afirma Vattimo. Nesse caso, podemos classificar como carros pós-modernos o Volkswagen Gol, o Porsche 911, o Ford Mustang e o Toyota Corolla.

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Por mais que esses carros tenham sido inovadores quando lançados, ao longo do tempo eles foram se modificando sem “perturbar” seus fãs, sem quebrar toda a tradição com o passado. Não existe uma ruptura completa entre um novo Porsche 911 e um antigo Porsche 911 – ao contrário do que aconteceu com o Ford T e com o Fusca, o passado é preservado quando se busca um aprimoramento técnico para o futuro de um 911.

Os carros contemporâneos

Honda Civic: o rival do Corolla mudou totalmente sua “personalidade” na atual geração e com isso pode ser chamado de carro contemporâneo, pois se assemelhou a outros projetos descartáveis
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Honda Civic: o rival do Corolla mudou totalmente sua “personalidade” na atual geração e com isso pode ser chamado de carro contemporâneo, pois se assemelhou a outros projetos descartáveis


Há quem classifique como contemporâneo tudo que é atual. Mas já vimos que nem todos os carros podem ser considerados assim. Martín-Barbero afirma que vivemos em uma sociedade cujos objetos duram cada vez menos; eles são concebidos para durar pouco tempo. “Diante da antiga lembrança acumulada em objetos e casas, por meio da qual várias gerações conversavam, hoje muitos dos objetos que convivemos diariamente são descartáveis.” (Martín-Barbero)

Quais são os carros que chegaram sem nenhum compromisso com o passado? Fiat Mobi, Volkswagen Fox, Chevrolet Prisma (antes era sedã do Celta, hoje é sedã do Onix), Fiat Cronos (aposentou os sedãs Siena e Linea) e até o novo Honda Civic . Ao mudar totalmente seu estilo de carro conservador para carro de nicho, o Civic rompeu com o passado e nada garante que seu futuro será o mesmo.

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Assim também ocorreu com o Fiat Palio e com o Mercedes Classe A. São carros que mudam radicalmente de uma hora para outra, que transformam suas características ou simplesmente saem de cena. Essa contemporaneidade faz um culto ao presente, “um presente concebido sob a forma de golpes sucessivos sem relação histórica entre eles”, afirma Lechner.

Reconheço que estou pisando em terreno minado ao trazer esse assunto para discussão. Na realidade, precisaríamos nos aprofundar muito mais na história e na representação imagética de cada carro. E também recorrer a especialistas no tema das temporalidades para tentar identificar as sutis diferentes que pode haver em cada carro. Principalmente porque a separação do que é pós-moderno e contemporâneo é ainda mais delicado.

Digamos que esse texto seja uma espécie de rascunho publicado. Porém, acredito que da próxima vez que você ler que um carro é “moderno”, vai pensar: será que é moderno mesmo ou seria contemporâneo?

P.S.: se você quer ler um texto mais convencional sobre o sedã Corolla, o hatch Gol e outros carros citados nesse artigo, procure no histórico de minha coluna.

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