“Tudo pronto? Pode largar” , diz o coordenador de pista através do walkie-talkie no porta-copos. Afundo a sola do meu tênis no acelerador com veemência, desencadeando a fúria de 466 cv de potência contra o chão do Autódromo de Vello Città. O Ford Mustang corta o vento como o disparo de um fuzil na saída dos boxes. Enquanto isso, tomo fôlego para me recuperar da sapatada que esse muscle car dá no sortudo que está sentado no banco do motorista. Há uma curva logo ao fim da descida.
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Parecia a nossa primeira vez juntos, mas não era. Algumas horas antes, parti de Indaiatuba (SP) na direção do Autódromo pela Rodovia Dom Pedro, nas proximidades de Campinas (SP). Um test-drive normal para uns, a realização de um sonho para este que vos escreve. O Ford Mustang , finalmente, será vendido pela Ford aqui no Brasil. A brincadeira pode ser cara, mas continua sendo mais em conta que seu principal rival, o Chevrolet Camaro. Quem quiser desfilar com o muscle car por aí terá que desembolsar R$ 299.900 por ele na pré-venda.
Mas nessa faixa de preço, não há um esportivo mais divertido que o Ford. Todas as impressões a bordo do Mustang são muito sensoriais, dos confortáveis bancos concha ao belo acabamento ao longo de todo o painel. Estamos falando de um legítimo devorador de asfalto que não esqueceu alguns hábitos de etiqueta. Tem até opção de aquecimento e resfriamento dos bancos, regulagens elétricas para o motorista e conectividade Android Auto e Apple CarPlay. Tem também piloto automático adaptativo (que você nem vai usar), assistente de frenagem de emergência, sistema de permanência em faixa e oito airbags espalhados na cabine.
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Andando no trecho urbano de Indaiatuba (SP), fica evidente que o Mustang é um carro muito versátil. Parafraseando o time de engenharia da Ford, este é o esportivo ideal para comprar pão na padaria antes de ir ao autódromo. Coloque isso na conta da suspensão McPherson na dianteira e independente com sistema integral link na traseira. Com o novo arranjo, o Mustang traduz mais confiabilidade em curvas rápidas, bem como um trajeto tranquilo na cidade e na estrada. Os amortecedores, por exemplo, levam um fluido magnético viscoso com ajuste independente nas quatro rodas, melhorando a dinâmica nas pistas e na cidade.
A impressão inicial é de estar andando em um Ford Fusion. No modo “conforto”, o pedal é menos arisco, mas não acaba com aquele gargarejo característico dos motores V8. Ele também surpreende em pisos irregulares. Carros esportivos costumam ser bem mais duros, tomando como exemplo o Audi RS3 e sua suspensão com acerto rígido. Dirigindo os dois carros com intervalo de algumas horas - que semana de sorte! - fica evidente que o cavalo da Ford é mais confortável.
Brutalidade visceral
Nada do que foi mencionado nos quatro parágrafos anteriores estava na minha cabeça enquanto descia os boxes do Vello Città, pronto para abocanhar alguns quilômetros de pista. Aponto o Mustang para a esquerda, colocando duas rodas sobre a zebra ao longo da curva. O cupê parece estar andando sobre trilhos São poucos os carros que passam tanta segurança para acelerar nessas ocasiões. Na última vez em que estive no Vello Città, a bordo de um Nissan GT-R, chovia bastante e a pista estava emborrachada por conta de uma etapa da Stock Car. Nessa ocasião, tenho caminho livre para tentativas mais ousadas.
Retomo a aceleração após a curva com pé embaixo, mas sou obrigado a reduzir a velocidade para desviar da chicane armada com cones no meio da reta. Nesse ponto, nota-se outra característica interessante do Mustang: a sensibilidade dos freios. A Ford utiliza discos de 380mm x 34 mm com pinças de alumínio e seis pistões na dianteira. Basta pincelar o pé no freio para que o carro reduza a velocidade com violência. Faço o contorno com agilidade, e retomo à zebra na lateral para uma curva mais fechada no sentido oposto. Na curva três, é preciso dosar o pé no acelerador. Talvez tenha dosado demais, e exigí um pouco de esforço dos 466 cv de potência para retomar a velocidade. Algo que o Mustang faz com os pés nas costas, ainda mais dando um toque na aleta de redução de marcha atrás do volante.
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Gargarejo
Claro, o mérito de todo o desempenho do Mustang é do motor V8 5.0 de 466 cv de potência e 55,3 kgfm de torque. Mas o que realmente se destaca no pony car é o câmbio automático de dez marchas, com gerenciamento eletrônico. Já imaginou um esportivo assim fazendo 10,5 km/l na estrada? Pois bem, eu também não. Mantendo os 120 km/h permitidos na estrada, o Mustang segura a rotação aos 2.000 rpm na décima marcha. Mas não se engane, ele pode saltar dela diretamente para a terceira marcha se for estimulado. Isso contribui não apenas para economia de combustível e desempenho, mas também para a anulação do efeito chicote. O motorista nem sente as marchas intermediárias (entre a quinta e a oitava velocidade), garantindo um conforto digno de transmissão CVT. Pode parecer uma comparação absurda, mas são seis embreagens para gerenciar todo o sistema.
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Após mais algumas curvas e chicanes espalhadas pelo Vello Città, que foram contornadas como se o Ford Mustang andasse sob um roteiro, chegamos na reta principal. Novamente, afundo o acelerador com força enquanto sinto o corpo grudando nos confortáveis bancos de couro premium. Ao fim de cada volta, um sorriso no canto da boca para ilustrar exatamente a sensação de pilotar um carro deste porte na pista. Mas diferente de qualquer carro com características de pista, como o RS3 mencionando anteriormente, no Mustang eu sinto que poderia muito bem voltar para a casa com total conforto e sem me preocupar com qualquer problema precoce de coluna. Este é, definitivamente, um espotivo que beira a perfeição. O mais legal que você pode comprar por R$ 300 mil.
Preço: a partir de R$ 299.900
Motor: 5.0 V8
Potência: 466 cv
Torque: 55,3 kgfm
Transmissão: Automática, dez velocidades
Suspensão: Independente, McPherson (dianteira)/ multibraço (traseira)
Freios: Quatro freios à disco com quatro discos ventilados.
Dimensões: 4,7 m (comprimento) / 1,9 m (largura) / 1,37 m (altura)
Tanque : 61 litros
Consumo (E/G): 7 km/l / 10,2 km/l (cidade) e 7,4 km/l / 10,8 km/l (estrada)