Por Nicolas Tavares

Era uma noite que não tinha como não ser sensacional. Estava no Autódromo de Interlagos, o templo do automobilismo nacional. O som dos motores vinham dos Audi TTS Coupé e RS3 Sportback , as novidades da marca no Brasil. Tesão, não é? Agora vem a cereja do bolo: o test-drive foi feito à noite. Poucos tiveram esse privilégio, restrito a quem participou das clássicas 24 horas de Interlagos (que aconteceu pela última vez em 1970) e quando as Mil Milhas Brasileiras entravam no começo da noite.

Enquanto o sol caía e a prova de clássicos chegava ao fim, aproveitei para olhar as máquinas de perto. As poucas pessoas na área olhavam o TTS com aquele ar de desejo. Totalmente justificado. A nova geração do cupê mostra que a Audi , quando quer, consegue mudar o design e fazer um belo carro. Uma pena que o RS3 não chame tanta atenção quanto – confira nossas impressões .

Como Lothar Werninghaus, engenheiro da Audi , disse na apresentação: “Olhando por fora, é difícil diferenciar o TT do TTS” . E ele tem razão. Temos rodas aro 19, pinças de freio na cor vermelha, cobertura de alumínio nos espelhos laterais e acabamento exclusivo nas soleiras das portas. Do lado de dentro, o TTS tem bancos de couro com apoios de cabeça integrados e feitos para ajudar o piloto a ficar no lugar enquanto briga com as forças G das curvas.

Não há um painel de instrumentos como em todos os outros carros. Em seu lugar está a tela TFT de 12,3 polegadas, um painel virtual que mostra os dados digitalizados e que pode ser mudado ao gosto do motorista. Quer um conta-giros e um velocímetro? Tudo bem. Prefere que mostre o mapa do GPS e o medidores menores? Beleza.  Para o TTS, há um modo exclusivo que coloca o conta-giros em evidência e, dentro dele, a velocidade em números. A outra novidade é a integração com o GPS, que não pudemos testar por motivos óbvios.

Com a área dos boxes em reforma, saímos para o test-drive da área próxima ao Laranjinha.
Divulgação
Com a área dos boxes em reforma, saímos para o test-drive da área próxima ao Laranjinha.

Fomos separados em grupos de seis jornalistas, cada um iria dar duas voltas na pista com cada carro. Como os boxes estão em reforma, a entrada e saída era da área do Laranjinha. Quando chega minha vez, outra grata surpresa. Vou guiar o TTS ao lado de Maurizio Sala. O piloto venceu as Mil Milhas Brasileiras em 1984, a bordo do Chevrolet Opala Stock Car , chegou em terceiro nas 24 Horas de Le Mans de 1995 na classe GT1 e foi campeão da Fórmula Ford 1600 de 1983.

Capacete colocado, ajusto os bancos seguindo as instruções de Maurizio – mais próximo do volante do que o considerado normal pela maioria dos motoristas. Sigo lentamente pela lateral, sem entrar na pista. A área de escape do Laranjinha estava separada por cones para testar o Controle de Largada (Launch Control). Pé esquerdo no freio, acelero até 4 mil giros e solto o pedal. O tranco é tão forte quanto levar um soco no estômago. O corpo recua e até perdemos a noção por ter passado da inação para mais de 100 km/h em 4,7 segundos. Não consigo evitar e dou risada como uma criança que acabou de ganhar o presente que sempre quis.

Entro na pista e já dou de cara com a curva do Pinheirinho. “Pode acelerar mais que ele aguenta”, diz Maurizio. E ele tem razão. Piso mais forte e o TTS devora a curva com facilidade. A recomendação era não comer as zebras, pois os pneus não foram feitos para isso. Ainda assim, tinha a sensação que isso não seria um problema para o cupê.

Interlagos à noite é uma criatura bem diferente. Havia 12 postes de luz espalhados pela pista, o resto da iluminação vinha dos faróis Full LED do TTS, na posição alta. Em trechos como no Mergulho e na Subida dos Boxes, as luzes se ajustam automaticamente para continuar iluminando a pista. Isso me dá confiança para andar um pouco mais.

Faço o mergulho com o pé direito cravado e começo a subida dos boxes. Tração integral, 38,7 kgfm de torque. O TTS sobe rapidamente como uma aranha na parede. Não tiro o pé do acelerador em momento algum, em preparação para a reta dos boxes, enquanto Maurizio falava “continua assim”.

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Audi TTS Coupé

 O velocímetro sobe sem parar, forçando todos os 286 cv do motor 2.0 turbo . São 56 cv a mais do que o TT normal. Como é noite, prefiro não arriscar perder o ponto de frenagem e não passo dos 200 km/h – Maurizio percebe e diz ia pedir exatamente isso. Se continuasse acelerando, chegaria aos 250 km/h, quando o computador limita a velocidade.

Voando feito um foguete pela reta, começo a frear para o S do Senna. Os freios a disco seguram o cupê enquanto a transmissão de dupla embreagem S tronic reduz as marchas freneticamente, de sexta para terceira. Corto o S com facilidade, enquanto o sistema magnetic ride ajusta a suspensão do TTS automaticamente.

Curva do Sol seguida pela reta oposta, indicando o fim da primeira volta. Agora que sei do que o TTS é capaz, forço ainda mais o cupê dentro do possível, enquanto Maurizio vai fazendo comentários para me ajudar a alcançar o máximo que esse monstro oferece. Poucos minutos depois, acaba a diversão. 

Foi uma experiência incrível. O preço também: R$ 299.990. Fica até difícil falar que vale a pena pagar R$ 76.360 a mais do que o TT convencional. Ainda mais por um carro que não dá para usar decentemente pelas ruas brasileiras. Vai raspar em qualquer buraco, mas a suspensão é ótima na pista, mas dura demais para encarar vias irregulares. Sem falar que é um carro para solteiros e, no máximo, casais (sem filhos). É divertido, mas pouco prático para o brasileiro. Talvez no século em que tivermos ruas bem conservadas, o TTS seja uma escolha racional. Até lá, se você anda em um e não tomar cuidado, ele vai te assombrar por muito tempo do mesmo jeito que não consigo tirá-lo dos meus sonhos desde então.

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