Depois de quase uma semana dirigindo o Renault Captur topo de linha, com motor 2.0 e câmbio automático de quatro marchas, fica a impressão de que o SUV vai entrar para a lista dos carros que valem a pena somente em determinadas versões. No caso, é melhor esperar pela Intense 1.6 CVT, que estará disponível daqui a três meses. Vem com o mesmo belo visual do 2.0, tanto por dentro quanto por fora, mas com a grande diferença do conjunto mecânico mais eficiente.
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Bem que tentamos ter boa vontade com a já antiquada caixa de quatro marchas. Acionamos a tecla Eco, que prioriza a redução do consumo de combustível em até 10%, alterando o tempo de resposta do acelerador, entre outros parâmetros. E procuramos pisar de leve no pedal da direita. Na estrada, até que não houve problemas. Vindo a 120 km/h, o contagiros marca civilizados 3.000 rpm, bom patamar para viajar em silêncio e sem consumir demais.
Para ajudar a monitorar o apetite do carro por combustível colocaram uma faixa luminosa bem no centro dos instrumentos do painel, que muda de cor. Quando está verde, o motorista está dirigindo de acordo com o que se deseja para ser o mais econômico possível. Mas, conforme vai passando para um tom amarelo, deve-se aliviar a pressão no acelerador se quiser continuar economizando.
O problema é rodar na cidade, em que há variações bem maiores, já que é preciso enfrentar o anda e para, além de situações de ultrapassagem, retomada, entre outras. Então, os maiores degraus entre uma marcha e outra do câmbio de quatro acabam prejudicando o consumo e a agilidade do carro. Com 85% do tanque com gasolina e o restante de etanol, pelo computador de bordo, rodando na cidade, não passamos dos 6,8 km/l de média, ante 8,8 km/l do Inmetro, que considera 100% de gasolina e outros parâmetros.
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De qualquer forma, com a caixa de quatro marchas o Captur perde um pouco do seu brilho. O isolamento acústico é caprichado, bem como o desenho que segue as linhas da versão vendida na Europa, com a possibilidade de escolher por pintura de dois tons, rodas de aro 17 diamantadas, luz diurna embutidas nos para-choques dianteiros. Além disso,o espaço interno leva cinco ocupantes com conforto e o porta-malas de 437 litros é de animar qualquer família.
Robustez herdada do Duster
A visibilidade proporcionada pela área envidradaçada e pelo retrovisores também agrada, bem como os equipamentos de segurança, com controles eletrônicos de estabilidade e tração em todas s versões, além de quatro airbags e ancoragem ISOFIX para cadeiras infantis. O revestimento de couro dos bancos (opcional) causa boa impressão, mas nessa versão topo de linha o painel e as laterais das portas poderiam ter menos plástico duro e rugoso.
Na lista de equipamentos da versão Intense 2.0 também valem destacar alguns itens como a câmera de ré, a luz que ilumina as curvas (para o lado em que o volante estiver girando) e os sensores que acionam os faróis e o limpador de para-brisa automaticamente, mas há apoio de braço dianteiro apenas para o motorista e a central multimídia Media NAV é a mesma do Duster e de qualquer Logan ou Sandero. Para um carro que custa quase R$ 90 mil, merecia algum detalhe diferenciado, como uma tela de maior resolução.
O que também faz falta é um sistema de direção com mais assistência, já que as manobras para estacionar o Captur exigem mais força que o ideal. O carro conta com sistema eletro-hidráulico, não tão eficiente quanto o elétrico, que existe, por exemplo, no Hyundai Creta, que na versão 2.0 custa em torno de R$ 10 mil a mais que o Captur. Isso mostra que a ideia da Renault foi oferecer um carro estiloso, robusto, mas não tão sofisticado, por um preço relativamente atraente. A questão é que não poderia deixar de oferecer alguns itens que fazem falta num SUV na faixa dos R$ 90 mil, como direção elétrica e um câmbio moderno.
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Como foi fabricado sobre a base do Duster, o Captur enfrenta bem os buracos do asfalto mal conservado e passa por obstáculos urbanos, como valetas e lombadas, com desenvoltura. Nas curvas o carro também de sai bem, com respaldo do controle eletrônico de estabilidade, mas com desempenho apenas satisfatório. A aceleração de 0 a 100 km/h também não é nada surpreendente, com o tempo de 10,9 segundos, de acordo com a fabricante, que também diz que o carro pode atingir 179 km/h, outro número considerado razoável.
Bem que a Renault poderia ir além do que conseguiu chegar com o conjunto do Captur 2.0 Intense, que tem entre os principais pontos positivos o desenho, o espaço interno e a robustez (vinda do Duster), mas que fica devendo um conjunto mecânico mais eficiente e, pelo menos na versão topo de linha, um sistema de direção com assistência elétrica para brigar com mais força com rivais como Honda HR-V, Jeep Renegade, Hyundai Creta e Chevrolet Tracker.
Ficha Técnica
Preço: R$ 88.490
Motor: 2.0, quatro cilindros, flex
Potência: 148 cv a 5.750 rpm
Torque: 20,9 kgfm a partir de 4.000 rpm
Transmissão: Automático, quatro marchas, tração dianteira
Suspensão:Independente (dianteira) / eixo de torção (traseira)
Freios: Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus: 215/60 R17
Dimensões: 4,33 m (comprimento) / 1,81 m (largura) / 1,62 m (altura), 2,67 m (entre-eixos)
Tanque : 50 litros
Consumo: 8,8 km/l (cidade) /10,8 km/l (estrada) com gasolina
0 a 100 km/h: 10,9 segundos
Vel. Max: 179 km/h