Carrinho elétrico mostrou bom potencial em nosso teste
Luiz Forelli Santana/iG
Carrinho elétrico mostrou bom potencial em nosso teste

Com a chegada do BYD Dolphin ao Brasil, o mercado de carros elétricos vem sendo impactado em termos de valores e concorrência. É um trabalho difícil, já que o hatch chinês é o elétrico mais vendido do país. Isso levou a Great Wall Motors (GWM) a entrar na briga com a BYD, colocando o ORA 03 Skin na prateleira entre os hatches elétricos com bom custo-benefício. 

As expectativas da fabricante são altas, especialmente após o sucesso do SUV híbrido Haval , que chegou às lojas em março de 2023. O Modelo alcançou a liderança em alguns meses de 2023 entre os carros híbridos mais vendidos.

Com isso, a GWM está confiante no potencial do ORA 03 Skin , na versão de entrada do modelo, que custa R$ 150.000 , R$ 200 a mais que o BYD Dolphin . O elétrico foi lançado em dezembro, e possui mais equipamentos e potência do que o concorrente, por praticamente o mesmo valor. 

Lembrando que os impostos sobre veículos elétricos ainda não fORAm implementados no ORA nem no Dolphin , o que significa que esse valor irá aumentar em breve.

GWM Ora 03 Skin
Luiz Forelli Santana/iG
GWM Ora 03 Skin

VISUAL DIFERENTE

O visual do ORA 03 é bem peculiar e divide opiniões. Enquanto alguns apreciam, outros não se identificam. A estética, com um toque futurista que lembra um pouco o  Mini Cooper e até o  novo Fusca lançado em 2012, torna a frente do veículo um assunto de debate. 

Na Europa, o ORA 03 é conhecido como ORA Funky Cat, ou Gato Descolado, uma alusão ao seu estilo visual. A ausência de grade frontal dá ao veículo uma aparência única, que pode ser considerada fofo e até um tanto intimidadora com os faróis full-leds. As formas arredondadas contribuem para uma aparência mais encorpada. Já as rodas aro 18 (pneus 215/50 R18) remetem à um  Porsche com rodas Twist. 

As lanternas traseiras em LED, embutidas no vidro, também apresentam um visual diferente, talvez até demais, na minha modesta opinião. Sinto que algo está faltando. Mas poderia dizer que lembra um Fiat 500 . Porém, não posso ignorar as viradas de rosto, com muitas delas questionando se o veículo já foi lançado, tamanho é seu aspecto diferenciado. Isso é inegável. A seta não foi da melhor engenharia, considerando que está posicionada bem abaixo, nos refletores, assim como o Hyundai HB20.

GWM Ora 03 Skin Luiz Forelli Santana/iG
GWM Ora 03 Skin Luiz Forelli Santana/iG
GWM Ora 03 chega para aquecer ainda mais a briga pelos elétricos de entrada Divulgação
Visual traseiro chama atenção por desenho incomum e lanternas posicionadas nos vidros Divulgação

MAS COMO SE COMPORTA?

A estratégia da GWM de manter a mesma potência e torque da versão topo de linha, que custa R$ 184.000 , é interessante, reduzindo apenas a capacidade da bateria para 48 kWh em comparação com os 63,1 kWh da versão GT . Isso faz com que o hatch da GWM entregue 171 cv de potência e 25,5 kgfm de torque. É aqui que o custo-benefício do ORA se torna relevante, considerando que oferece 95 cv a mais que o Dolphin. A velocidade máxima se limita aos 160 km/h. 

O tempo de 0 a 100 km/h foi inferior aos 8,2 segundos divulgados, registrando 7,5 segundos, o que traz uma boa colada no banco e ultrapassagens seguras. Graças ao torque instantâneo, as acelerações são divertidas, especialmente no modo de condução AUTO, que se adapta conforme a pressão no acelerador. O ORA possui também os modos ECO, NORMAL, e até o SPORT, que é mais responsivo e pode resultar em derrapagens nas rodas dianteiras, especialmente em condições de chuva ou superfícies escorregadias.

A suspensão é firme devido ao eixo de torção na traseira, mas não chega a ser desconfortável. Enfrentei os bons e velhos buracos, porém, não senti desconforto dentro da cabine - o veículo lidou bem com os obstáculos. Na dianteira, a suspensão é independente do tipo McPherson.

Nas curvas, o ORA 03 se saiu muito bem e com segurança, sem exigir que tiremos o pé do acelerador. Sua resposta foi direta e precisa, seguindo exatamente onde eu queria levá-lo. Isso ocorre em razão da localização da bateria no assoalho, o que auxilia no centro de gravidade, que é mais baixo. Além da altura de 135 mm de espaço em relação ao solo. 

O conforto ao dirigir também é garantido pela ótima calibragem do volante com assistência elétrica progressiva, que pode ser ajustada em três modos de condução: Confort, para uma direção leve e agradável na cidade; Normal, trazendo um equilíbrio entre leveza e firmeza; e Esportivo, deixando a direção mais pesada para uma sensação de segurança e controle.

Quanto à bateria de 48 kWh , a autonomia divulgada pelo Inmetro é de 232 km , menor que a do Dolphin , que chega perto dos 300 km. Mas na prática é possível ultrapassar essa média. No carregamento de corrente alternada (AC), o ORA pode recuperar a energia de 10% a 80% em cinco horas, enquanto no carregamento de corrente contínua (DC), o modelo pode ser carregado em até 40 minutos. A potência de recarga em AC e DC é de 11 kW e 64 kW respectivamente. Até que são números bons considerando o tamanho da bateria.

Pessoalmente, o hatch elétrico surpreende
Luiz Forelli Santana/iG
Pessoalmente, o hatch elétrico surpreende

DIMENSÕES

Observando nas fotos, o hatch pode não parecer tão imponente, mas pessoalmente, ele realmente impressiona. Com 4,23 metros de comprimento, 1,82 metros de largura (quase equivalente a um Honda Accord , que mede 1,87 metros), 1,60 metros de altura e um entre-eixos de 2,65 metros, o ORA 03 se posiciona com o mesmo entre-eixos do SUV Volkswagen T-Cross ou o sedã Virtus . O porta-malas é pequeno, com capacidade para 228 litros , e em caso de pneu furado, é preciso confiar no kit de reparo, já que não há estepe. O peso do veículo é de 1.586 kg.

No banco traseiro, mesmo com o assento dianteiro ajustado para uma pessoa de 1,88 m (todo para trás), sobra um bom espaço de três dedos. Mesmo assim, o Dolphin o supera com 2,70 m de entre-eixos. Não há saídas de ar para os passageiros traseiros, porém, o tamanho compacto do veículo faz o ar circular bem. Há apenas uma entrada de recarga, e ela, infelizmente, é USB-A, aliás todas as portas USB no veículo são do padrão USB-A, sem a presença da nova e melhor USB-C. Ou seja, nada de “Hello Tomorrow” (Olá amanhã) como diz o slogan do carro. O túnel central é baixo, mas o ângulo de inclinação do banco pode causar um leve enjoo em viagens mais longas.

GWM Ora 03 Skin Luiz Forelli Santana/iG
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GWM Ora 03 Skin Luiz Forelli Santana/iG

INTERIOR E ERGONOMIA

O interior apresenta um visual levemente retrô e atraente. No entanto, pode haver um problema ao escolher as cores do veículo, pois o tom do interior varia de acordo com a cor externa. As cores Vermelho Brava, Branco Ágata e Azul Copacabana refletem em diferentes tonalidades no interior, tornando o interior preto restrito à cor Preta Hematita. Embora o carro seja direcionado a um público mais jovem, uma cor menos chamativa no interior seria bem-vinda.

Os bancos possuem ajustes manuais e oferecem um bom conforto. Todo revestimento é em couro ecológico. Destaque também para as costuras losangulares, que adicionam um toque bonito e distintivo. Essas costuras também estão presentes nas portas, que possuem um toque macio na parte superior e um bom acolchoamento. 

O revestimento em soft-touch se estende até o tabelier, com costuras aparentes, trazendo uma sensação agradável. Na parte inferior, encontramos plástico de boa qualidade e algumas peças em alumínio, como a manopla circular do câmbio. Todas as peças são bem montadas, o que transmite sensação de qualidade.

O volante, embora tenha gostado da cor que combina com o banco, parece desproporcional ao tamanho do veículo, poderia ser um pouco menor. No entanto, a empunhadura é melhor do que a do Haval. Os botões parecem ser sensíveis ao toque, mas são físicos. À esquerda, estão as funções do multimídia, enquanto à direita, as opções de personalização do painel de instrumentos. 

O controle de cruzeiro fica em uma haste à esquerda, juntamente com a regulagem da distância em relação ao veículo à frente. No entanto, a função do piloto automático adaptativo stop & go é mal calibrada no trânsito - em caso de um carro à frente, ele freia bruscamente, e ao parar, o veículo dá um pequeno recuo acompanhado de um barulho forte até parar completamente. Algumas vezes me deu até um susto.

No console central, há dois porta-copos de tamanho médio e um espaço para itens do dia a dia - esse espaço parece ser um carregador por indução, mas é feito para carregar a chave do veículo caso a bateria acabe. Falando em chave presencial, para ligar o carro é bem simples - basta pisar no pedal do freio. Para desligar, basta sair do veículo e trancá-lo ou utilizar um botão no lado esquerdo.

O ORA 03 incorpora duas telas de 10,25 polegadas para o cluster digital e o sistema multimídia. O painel de instrumentos oferece informações necessárias, porém um pouco confusas, e fica restrito ao lado direito, sem possibilidade de personalização no lado esquerdo. 

Já a tela central possui uma boa qualidade de imagem, com espelhamento sem fio para Android Auto e Apple CarPlay, além de uma ótima resposta ao toque. Há também câmeras 360° de ótima resolução com nove opções de visualização que ajudam muito em manobras. 

Porém, apesar das diversas opções de personalização do veículo, estas acabam sendo desafiadoras. Uma das grandes reclamações do Haval é que o sistema de som dele não é dos melhores. E no ORA 03 isso se repete. Mesmo com seis alto-falantes, o som é bem abafado e não ajuda com as personalizações. 

Algumas coisas que atrapalham, mas não tira a qualidade do produto
Divulgação
Algumas coisas que atrapalham, mas não tira a qualidade do produto

INOVAÇÃO ATÉ DEMAIS

As inovações do ORA 03 acabam se tornando mais frustrantes do que úteis. Uma das limitações é o freio regenerativo, que automaticamente retorna ao modo "Alto" ao desligar o carro, mesmo que eu tenha configurado anteriormente para o modo "Baixo", o que resulta em frenagens ao tirar o pé do pedal para recarregar a bateria, e assim, tira a inércia do veículo. 

Essa mudança é bastante incômoda. A própria GWM recomenda deixar o freio regenerativo no modo baixo para otimizar a eficiência aerodinâmica do veículo, que, aliás, é muito boa. Além disso, o modo de condução também altera para "NORMAL" em vez do "ECO" que eu havia selecionado ao desligar o veículo. 

O controle do ar-condicionado é integrado ao sistema multimídia, o que requer sair do emparelhamento com o celular para realizar ajustes. Essa atuação no dia a dia, acaba não sendo prático, já que não há nem uma aba para ir diretamente ao controle de ventilação. Apesar de pretender oferecer mais praticidade, acaba gerando mais inconveniência do que benefícios, especialmente considerando a presença de botões de alumínio de sobra que poderiam ser dedicados aos ajustes do ar-condicionado. 

A operação da seta também deixa muito a desejar. Ao acioná-la, ela não permanece na posição como nos carros convencionais; em vez disso, retorna à posição central, e para desativá-la, é necessário um toque sutil, que muitas vezes resulta em uma nova ativação para o lado oposto. Em resumo, é bem desagradável.

SEGURANÇA: 

O ORA 03 dá aula ao concorrente com a parte de segurança, já que dispõe de sete airbags e sistema ADAS nível 2. Abaixo você vê todos os sistemas de condução autônoma do veículo. 

Os mesmos sistemas de seguranças da versão mais cara também estão presente na versão de entrada
Divulgação/GWM
Os mesmos sistemas de seguranças da versão mais cara também estão presente na versão de entrada


RESUMO DA ÓPERA

Não retiro meu comentário da avaliação rápida do veículo: o ORA 03 Skin é uma boa opção para quem deseja iniciar com um veículo elétrico na faixa dos R$ 150 mil. No entanto, adaptar-se à tecnologia excessiva requer calma e paciência. Isso, no entanto, não diminui a qualidade oferecida pelos chineses. O que torna o ORA ainda mais atraente é a experiência de direção, que é muito bem calibrada e oferece muita mais diversão que o concorrente.

O espaço e o acabamento também agradam, mas o que deixa a desejar é o porta-malas, que poderia ser maior. A autonomia é boa e corresponde ao que é exibido no painel de instrumentos,  o que dá confiança durante a condução. É um bom veículo e cumpre bem seu papel, especialmente por ser dotado dos mais avançados assistentes de condução nessa faixa de preço, além de oferecer conforto e diversão ao dirigir. Eu gostei.

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