Muitas pessoas têm interesse em fazer a transição para os carros elétricos, mas a incerteza sobre o futuro desse mercado ainda gera medo. Há preocupações sobre a infraestrutura de carregamento nas estradas e o risco de ficar parado em longos trajetos.
Mas e se eu te falar que é possível deixar essas preocupações de lado e juntar muita potência, tecnologia e espaço em um único veículo. O GWM Haval H6 , em suas versões PHEV (híbrido plug-in) e GT , promete, e faz, justamente isso. Este SUV de porte médio já está gerando bastante dor de cabeça para outras montadoras por sua capacidade de rodar, segundo a GWM até 170 km em modo elétrico, reduzindo a necessidade de parar em um posto de gasolina.
Disponível a partir de R$ 279.000 na PHEV , o Haval H6 também pode ser encontrado na versão topo de linha chamado de GT , essa que testamos. Ele traz um visual mais agressivo e ainda mais tecnologia e custa R$ 319.000.
VISUAL E DIMENSÕES
A sigla GT não é por acaso, e sim para trazer um visual mais esportivo e agressivo que os irmãos mais baratos. Por isso ele é considerado um SUV médio cupê. E de cara notamos que a dianteira é bem diferente, e um pouco mais larga. A grade lembra um trapézio isósceles, dando uma cara mais agressiva. Mais em cima, já no para- choque largo, fica a sigla da marca “HAVAL”. Os faróis em LED possuem formatos afilados e mostram imponência.
Nas laterais o destaque são as rodas pintadas em preto com pinças vermelhas, acentuando o visual mais esportivo. Outro destaque é a recaída no teto a partir da coluna C, ajudando no arrasto aerodinâmico e também no charme, juntamente com o spoiler. À traseira, em vez de ter as lanternas interligadas, uma peça que imita carbono liga elas.
Em termos de dimensões, o Haval apresenta ótimas medidas para o segmento e muito espaço. Porém, essa versão GT tem algumas diferenças com a configuração PHEV, mais barata. Ele mede 4,72 m de comprimento (PHEV tem 4,68 m), 1,94 m de largura (PHEV tem 1,88 m), 1,73 m de altura e ótimos 2,74 m de distância de entre-eixos.
Na parte traseira eu de 1,88 m fiquei super acomodado com quase um palmo de distância entre meu joelho e o banco da frente. Há conforto de sobra, e minha cabeça não raspou. A movimentação dos pés é bem generosa.
Para melhorar, o túnel é baixo, acomodando bem quem vai no meio e ainda tem saídas de ar e duas saídas para carregar o celular, mas infelizmente são USB-A, que carregam mais lentamente, e não as novas USB-C. Porém, tirando esse detalhe é difícil de achar alguma crítica no conforto traseiro.
O que acaba sendo um empecilho atrás é o vidro traseiro, que é angulado mais para cima, prejudicando a visão de quem está atrás e mais perto do carro em uma estrada, por exemplo, omitindo a visão traseira. Pelo preço do veículo e a quantidade de câmeras que ele apresenta, poderiam seguir a mesma engenharia da Renault com o Megane E-Tech , colocando uma câmera que transmite para o retrovisor interno.
O H6 GT ainda apresenta bons ângulos de ataque de 19,8º e de saída de 24,8º. O tanque de combustível suporta razoáveis 55 litros.
Outras medições da parte traseira incluem o porta-malas, que acomoda excelentes 515 litros, o melhor disparado entre seus rivais e um dos melhores da categoria. Além disso, há compartimentos para evitar que objetos rolem durante o trajeto e também uma tomada de 12 volts. Infelizmente, não há estepe na traseira; é apenas um kit de reparo, o que não é a melhor solução caso o pneu rasgue.
Há ainda um carregador portátil que pode ser ligado em tomadas de 220 volts, transferindo uma potência de 2.8 kW para o carro.
Falando em seus concorrentes, a GWM deixou claro em seu lançamento quais são seus alvos, e os concorrentes não são fáceis. Os SUVs médios que a marca chinesa aponta são o Volvo XC60 em sua versão Plus (R$ 449.950), o Audi Q5 Performance (R$ 462.990) e o BMW X3 xDrive30e (R$ 433.950), que aliás ganhou um novo visual na Europa e deverá vir ao Brasil.
Lembrando que o Haval H6 custa R$ 319.000 e quer entregar o melhor benefício sobre o custo que vale entre seus rivais que passam da casa dos R$ 430 mil.
MOTORIZAÇÃO, AUTONOMIA E CONSUMO
O GWM Haval H6 GT utiliza a mesma motorização oferecida na versão PHEV. Ou seja, seu motor é um 1.5 turbo a gasolina de quatro cilindros com injeção direta, trabalhando em conjunto com dois motores elétricos: um localizado no cofre e outro ligado ao eixo traseiro. O conjunto completo entrega impressionantes 393 cv e 77,7 kgfm de torque.
O câmbio do Haval H6 tem duas marchas com embreagem. Em velocidade constante ou desaceleração suave na cidade, ele usa a primeira marcha para ligar o motor a combustão diretamente às rodas. Na estrada, faz o mesmo com a segunda marcha. Em acelerações ou desacelerações fortes, o motor a combustão atua como gerador, carregando o sistema elétrico que movimenta o carro.
O motor a combustão, embora funcione principalmente como gerador, fornece potência máxima em acelerações rápidas e mantém altas velocidades. A transmissão aproveita o motor elétrico para eliminar a necessidade de uma marcha curta inicial, utilizando a eficiência do motor a combustão quando for preciso.
Porém, no dia a dia, isso passa despercebido. O que observei é que o Haval H6 sempre prioriza o motor elétrico, independentemente da situação. Na cidade ou na estrada, ele utilizou exclusivamente o motor elétrico, mesmo em condições onde o motor a combustão seria o mais eficiente, o que contraria o esperado na teoria e acaba por descarregar a bateria mais rapidamente.
O motor a combustão só foi acionado quando pisei fundo no pedal do acelerador. Assim, seja na cidade ou na estrada, ele se comporta como um carro elétrico até que a bateria se esgote.
Consegui percorrer 105 km apenas no modo elétrico, sem recarregar, às vezes acelerando um pouco mais e também transitando pela Marginal Pinheiros e um pouco na estrada. Acredito que seja possível alcançar até 120 km ou até 130 km, pelas minhas estimativas. No entanto, a marca divulga que é possível andar 170 km apenas no modo elétrico, enquanto o Inmetro divulga 116 km.
Mesmo assim, é suficiente para o dia a dia de quem faz trajetos curtos, utilizando principalmente o motor elétrico com a bateria de 34 kWh, e o motor a combustão 1.5 turbo quando necessário, como em viagens. Isso já ajuda muito a reduzir as idas ao posto de combustível.
Quanto ao consumo, segundo o Inmetro, é de 27,4 km/l na cidade e 25,2 km/l na estrada, mas esses números podem variar devido à presença das baterias. Por exemplo, comigo, utilizando o veículo principalmente na cidade e um pouco na estrada, percorri os já citados 105 km até a bateria se esgotar, e assim o odômetro marcou 200 km/l. Por isso, é difícil obter uma estimativa precisa devido ao sistema automático do carro que decide qual motor utilizar em cada momento.
No entanto, todos esses números caem drasticamente quando acaba a energia da bateria e o motor a combustão entra em ação. Segundo o Inmetro, apenas com o motor a combustão o Haval H6 GT faz 11,4 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada. Minhas médias foram de 12 km/l na cidade e 10 km/l na estrada, somente com a propulsão 1.5 turbo em funcionamento.
Mas para preservar a carga da bateria, há uma opção no sistema multimídia que, a partir de 80% ou 70% de carga, automaticamente aciona o motor a combustão para conservar a energia. Alternativamente, é possível ativar manualmente o "modo alagamento", que é o tipo de uma “gambiarra” que mantém o motor a combustão ligado indefinidamente.
E COMO ANDA?
Na cidade, o Haval H6 é bastante confortável, especialmente em nosso país, onde as ruas são frequentemente irregulares. A suspensão é macia e absorve bem os buracos, evitando impactos secos dentro da cabine. As suspensões são multilink na traseira e McPherson na frente, o que gerou tranquilidade em diversos terrenos.
Porém, um dos pontos negativos é em relação aos freios, o Haval H6 poderia ter uma sensibilidade melhor, o que exige pisadas mais firmes para uma frenagem melhor. Não quer dizer que o SUV de 2.050 kg não freie bem, porém faltou um ajuste mais preciso na sensibilidade.
Na estrada, o Haval H6 acelera facilmente e de forma ágil. No meu 0 a 100 km/h, ele alcançou em 4,9 segundos (GWM diz 4,8 segundos), ou seja, muito rápido. O SUV também é estável mesmo em altas velocidades, sem ser bambo ou demonstrar fragilidade, o que mostra o ótimo alinhamento preciso do veículo. O que contribui também é que o SUV não é tão alto em relação ao solo, são menos de 200 mm, apenas 172 mm. Isso gera segurança ao motorista ao dirigir.
O volante é bem responsivo com o carro em geral e facilita fazer curvas mais acentuadas com boa aderência sem perder a estabilidade ou demonstrar querer sair da curva. O grande apoio nesses momentos é a tração integral que faz o Haval H6 fazer um bom trabalho.
Quanto ao isolamento acústico, na estrada ele se mostra bom, com baixo ruído aerodinâmico e isolamento dos sons externos ou de rodagem. Porém, dentro da cabine, notei alguns ruídos do que parecia algo solto, principalmente na traseira. Não se tratava de nada no visual, mas em outro modelo já testado senti o mesmo cenário.
Já quem deseja encarar um fora de estrada, o Haval H6 GT tem tração integral sob demanda e, com isso, consegue ir em algumas trilhas para se aventurar, contando também com vários modos de condução. Ele possui os modos Eco, Normal, Esportivo, Neve, AWD, Lama e Areia. O condutor também pode optar por colocar o veículo apenas no modo elétrico ou híbrido, além de poder ajustar a intensidade da leveza da direção.
ACABAMENTO E ERGONOMIA
Já que as versões mais baratas do Haval já trazem um ótimo acabamento, aqui no GT não será diferente, aliás ele traz alguns tecidos em suede, para justificar seu nome GT. O acabamento da porta na parte superior, tanto atrás como na frente, é em soft-touch e o acabamento dos apoiadores de braço é em suede, assim como na parte superior dos bancos que têm assinado “GT” em vermelho. O tabelier também conta com revestimento macio. Ao todo, o carro é bem acabado, sem sobresalinhencas expostas, tudo bem cuidado.
Já a posição de guiar é boa, o banco tem uma boa pegada e o console central também favorece. Porém, o volante não possui uma boa empunhadura, ele é fino e não tem uma boa pegada, não condiz com o porte do veículo e o preço. Merecia um maior capricho. Além disso, ele tampa um pouco as informações superiores do painel de instrumentos. Mas no geral, é razoável, já que os comandos estão nas mãos. Os bancos dianteiros também apresentam ajustes elétricos e ventilação.
TECNOLOGIA E EQUIPAMENTOS
O SUV da GWM tem um painel de instrumentos em LCD (100% digital) com uma tela de 10,25 polegadas que exibe as informações necessárias de forma fácil. Porém, não é completamente intuitivo, pois não muda de visual e altera apenas as informações do lado direito, o que poderia ser melhor aproveitado dado o tamanho da tela.
Há também um Head-up Display (HUD) no para-brisa, mostrando outras informações interessantes.
A tela multimídia de 12,3” é fácil de usar e bem completa, permitindo alterar diversas funções do veículo. Ela oferece conexão com Apple CarPlay e Android Auto sem fio, além de GPS nativo que permite buscar postos de recarga. Mas, em alguns momentos, a tela multimídia apagou e não consegui usá-la. Precisei desligar o carro e abrir a porta, o que foi inconveniente.
O veículo também é contemplado por quatro câmeras e sensores ao redor do veículo que é possível observá-las pelo multimídia . A qualidade é muito boa e tem a função 360 graus que ajudam a estacionar o SUV.
Mesmo que você configure para desativar algumas assistências ao condutor, como frenagem autônoma e assistente de ponto cego, elas retornam ao ligar o veículo, segundo a GWM , por questões de segurança. Isso limita a liberdade do condutor de escolher o que deseja. Um ponto positivo é que quem comprar o carro ganha um ano de internet a bordo (nativa) com Wi-Fi 4G, que funciona bem e ajuda a economizar a internet do celular. Após o período, é possível pagar mensalmente.
O sistema de som é uma das grandes reclamações dos consumidores e, de fato, está longe de ser o melhor, embora seja bom. São nove alto-falantes espalhados pelo carro, mas dependendo da configuração, o som pode parecer abafado. A GWM já informou que está trabalhando para melhorar isso. Resta esperar.
Outra desvantagem é o controle do ar-condicionado de duas zonas, que fica integrado na tela. Operá-lo é complicado e distrai o condutor, o que contraria os sistemas de segurança do carro, já que é preciso clicar em várias coisas na tela e o motorista perde a atenção ao volante.
Os sistemas autônomos de condução são variados e favorecem a segurança dos ocupantes. Há controle de cruzeiro adaptativo stop & go, que funciona bem na cidade, frenagem autônoma de emergência (para pedestres e ciclistas também), alerta de saída de faixa e centralização (que, comigo, não funcionou de forma eficaz), alerta e frenagem de tráfego cruzado, desvio inteligente (desvia o carro automaticamente em uma ultrapassagem com caminhão), reconhecimento de placas de velocidade, assistente de ponto cego, entre outros. São seis airbags.
O Haval H6 também estaciona sozinho e possui um modo chamado “Auto Reverse Assistance” que refaz os últimos 50 metros percorridos de marcha ré e reconhece novos obstáculos. Todos esses sistemas são possíveis graças aos 12 sensores espalhados pelo veículo e o radar na grade inferior.
RESUMO DA ÓPERA
O GWM Haval H6 GT se destaca por sua consistência em diversas situações, tanto na estrada quanto na cidade. A tecnologia embarcada, o espaço interno e a proposta do veículo são bem executados. Porém, o preço não justifica o que o carro oferece. Pagar cerca de R$ 39.000 a mais para ter um visual diferente com equipamentos bem semelhantes à versão convencional, exceto por uma câmera de reconhecimento para ligar o carro, parece exagerado.
No conjunto de motorização e autonomia, o H6 GT se sai muito bem. A versão PHEV é a escolha mais sensata. Ouvi consumidores comentarem que, após um ano com o veículo, precisaram abastecer apenas quatro vezes, o que mostra a eficiência do modo elétrico na cidade e o motor a gasolina quando for preciso.
Alguns detalhes, como a ergonomia do volante, podem causar desconforto inicialmente, mas são questões que se resolvem com o tempo. Comparando com o concorrente híbrido plug-in da BYD , o Song Plus , o GWM Haval H6 GT se destaca pela potência e torque superiores, porém lá é possível rodar cerca de 1.200 km de autonomia com apenas um tanque. Esse fator depende de consumidor para consumidor. Mas aqui, no geral, o Haval H6 GT faz muito bem sua função.