Antes de começarmos esta matéria, é importante que você esqueça tudo o que conhece sobre a Renault nos últimos 30 anos . A Renault que conhecemos, focada em carros mais acessíveis , está ficando para trás. Pelo menos é isso que afirma o CEO mundial, Luca de Meo , ao garantir que a montadora será considerada uma marca premium aqui no Brasil, como lá na Europa.
COMO O MEGANE NASCEU NO BRASIL?
O Renault Megane desembarcou por aqui em 1998 e foi um sucesso de vendas, contribuindo para consolidar a marca francesa no Brasil. Em 2006 , chegou a segunda geração, trazendo inovações para a época, como a ignição com partida start-stop. Posteriormente, o Megane saiu de cena por volta de 2010 e deu lugar ao Fluence que saiu de linha em 2017 . Em setembro de 2022, a Renault ressuscitou o nome Megane , mas agora com uma abordagem digna de um Renault europeu.
Essa transformação mais luxuosa da Renault faz parte do projeto lançado em 2020 , chamado de “Renaulution” , que deve levar uns bons anos para se concretizar nas ruas brasileiras. A Renault busca trazer a qualidade dos carros produzidos na Europa para o Brasil e focar em segmentos mais refinados e de maior valor agregado.
Até então, o carro mais caro da marca era o Renault Captu r , com sua versão completa (Iconic) custando R$ 161.090. No passado recente, carros mais caros da Renault perderam um pouco de destaque, e o foco da marca era volume de vendas. Agora, a Renault pretende colocar seu projeto no Brasil em destaque, começando com o Megane E-Tech e, neste ano, com o Kardian.
O modelo é oferecido por R$ 279.900 , mas ficará mais caro devido à implementação de impostos até julho de 2026.
O hatchback conta com uma única versão, chamada de EV60 Optimum Charge , importada da França , mas com diferenças em relação ao modelo europeu. A maioria dessas diferenças podem fazer falta para um consumidor mais exigente, se olharmos os concorrentes, como BYD Yuan Plus , Volvo EX30 e até o GWM Haval H6 PHEV . Mas segundo a Renault , a inclusão dos equipamentos visto no Megane europeu elevaria o preço para além dos R$ 300.000.
DIMENSÕES E DESIGN
Ao desembarcar no Brasil, o modelo passou por uma típica adaptação tropical para melhor se adequar ao solo brasileiro. Por exemplo, a altura total foi aumentada em 2 cm na suspensão, resultando em 153 mm de vão livre até o solo. Além disso, as rodas são aro 18 (pneus 195/60) , ao contrário do aro 19 usado na versão europeia.
Quanto às outras dimensões, elas continuam as mesmas, com 4,20 m de comprimento , 1,51 m de altura , 1,77 m de largura (sem os retrovisores) e 2,68 m de entre-eixos.
O espaço no banco traseiro não foi o melhor para mim, de estatura de 1,87 m, apesar do entre-eixos ser semelhante ao de um Hyundai Santa Fé. O banco dianteiro apresenta uma leve inclinação, o que compromete o conforto dos passageiros traseiros. Falando em conforto atrás, o modelo não dispõe de apoio de braço central , mas possui saídas de ar-condicionado traseiras.
Por fim, o porta-malas oferece ótimos 440 litros de capacidade , e o que ajuda essa boa disposição de litragem é que, infelizmente, o Megane não possui estepe , apenas um kit de reparo. Além de não haver acionamento elétrico de abertura e fechamento do porta-malas.
O design é único entre os modelos da Renault. Por onde passei, atraí olhares das pessoas ao redor. A frente, agressiva e limpa, traz suavidade ao veículo. Na traseira, as lanternas em LED em 3D proporcionam um tom luxuoso ao veículo, o que fica mais evidente à noite. As lanternas ficam acopladas por toda a tampa do porta-malas e contribuem para um conjunto harmonioso. Cada curva da carroceria também foi projetada com atenção à aerodinâmica do carro.
QUE CARRO GOSTOSO DE DIRIGIR!
O Megane E-Tech traz potência de sobra ao conjunto, já que na Europa o modelo possui duas versões, mas a Renault optou pela versão mais potente. Equipado com uma bateria de lítio de 60 kWh sob o assoalho, o veículo proporciona 220 cv de potência e 30,6 kgfm de torque. A aceleração de 0 a 100 km/h nos surpreendeu, alcançando os 6,9 segundos nos nossos testes, superando os 7,4 segundos divulgados pela marca.
O modelo atinge uma velocidade máxima de 160 km/h controlada eletronicamente para preservar a carga e vida das baterias. No entanto, qualquer aceleração um pouco mais intensa ou velocidades mais elevadas reduzem a autonomia divulgada de 337 km (circuito misto).
Em nossos testes, rodamos cerca de 290 km em circuito misto sem recarregar. No entanto, em algumas situações, forçamos mais o veículo, o que se reflete na autonomia divulgada de acordo com estilo de direção.
Ainda assim, é possível estimar uma média de 300 km a 320 km com uma carga completa.
Segundo a Renault, o Megane E-Tech pode carregar de 10% até 80% em duas horas em aparelhos tipo AC , ou seja, de 7,4 a 22 kWh. Ou em aparelhos DC , 130 kWh, o modelo pode recarregar em 36 minutos para obter o mesmo nível de bateria.
A experiência de dirigir o Megane E-Tech é envolvente. O torque instantâneo, característica dos veículos elétricos, se traduz em uma dirigibilidade divertida , ajudando nas ultrapassagens e uma ótima resposta ao volante.
A direção precisa e ágil traz leveza ao pilotar, e uma resposta excepcional em curvas de baixa e alta.
A suspensão McPherson na frente e multilink atrás, aliada à nova calibração que a Renault fez, oferece uma condução firme e confortável sem transferência incômoda para dentro da cabine.
Os freios a disco ventilados na dianteira e sólidos na traseira são excelentes em qualquer situação. Outro ponto interessante são os freios regenerativos - seus controles ficam dispostos atrás do volante, como paddle-shift, permitindo a recuperação de energia cinética da frenagem convertendo-a em eletricidade para bateria. São quatro modos de regeneração, mas sem o sistema one-pedal (que freia o carro totalmente).
INTERIOR E TECNOLOGIA
Ao chegar perto do veículo, o Megane recebe o condutor com uma maçaneta retrátil, embora, infelizmente, não disponha de bancos elétricos para o motorista. Esse é, sem dúvida, um grande descuido por parte da Renault, considerando que o Megane E-Tech europeu oferece essa tecnologia e seus concorrentes também.
O interior ostenta uma combinação de cores acinzentadas com preto, proporcionando uma sensação de luxuosidade. No entanto, o acabamento, ao meu ver, poderia ser mais caprichado, especialmente nas portas. A parte superior delas é revestida com plástico rígido, com o vinco da peça visível, o que pode gerar desconforto para alguns. No entanto, o resto das portas é revestida em couro e até alcantara.
O Megane E-Tech apresenta revestimentos fabricados a partir de materiais 100% reciclados , equivalente a até 2,2 kg no total . Além disso, os plásticos são reciclados, totalizando 27,2 kg . Portanto, não espere um acabamento premium de uma BMW , Audi ou Mercedes . Trata-se de um tecido, semelhante a um estofado, com uma pegada mais ambiental. Na Europa, uma das versões oferece bancos em couro e imitação de madeira.
O volante hexagonal é extremamente confortável de guiar pela ótima pegada. À esquerda, estão os controles do piloto automático adaptativo, leitura de faixa e limitador de velocidade. À direita, estão os comandos do Bluetooth e do painel de instrumentos, que é totalmente digital. Além disso, há um botão circular que altera os modos de condução, que variam entre "Eco", "Comfort", "Sport" e "Personal" , mudando a grafia e cores da iluminação interior.
Um ponto 'chatinho' surge atrás do volante, mais precisamente na parte direita. Há três hastes penduradas: uma para a seleção do câmbio , outra para os l impadores do para-brisa e a última para o controle de volume do rádio - essa haste é característica dos modelos Renault. Toda essa disposição pode acabar atrapalhando durante as manobras, pois o condutor pode acionar o para-brisa em vez do câmbio. Enfim, poderia ser melhor distribuído.
Os painéis digitais do hatchback possuem altíssima qualidade, digno de smartphones de última geração. O quadro de instrumentos possui 12,3 polegadas. A central multimídia de nove polegadas com o sistema "OpenR" fica separada por uma saída do ar-condicionado. Não queira ver a tela central do modelo europeu, pois te dará ciúmes - lá, ela é na vertical com 12 polegadas e ainda possui sistema de som assinado pela Harman Kardon.
A tela é altamente personalizável, permitindo a visualização de diversas informações do veículo (inclusive a pontuação do gasto elétrico), alertas sonoros para pedestres, purificador do ar-condicionado, os 26 Sistemas Avançados de Assistência ao Condutor (ADAS) e a parte mais atrativa visualmente do interior: o sistema de iluminação em LEDs nas portas, piso, console central e todas as telas.
Conduzir o Megane E-Tech à noite com as iluminações acesas é uma experiência encantadora.
Uma característica adicional é que o para-brisa traseiro é difícil de se enxergar, o que levou a Renault a instalar uma câmera traseira na parte superior, conectada ao retrovisor interno formado por uma tela digital.
Os itens de série incluem ar-condicionado dual zone (com saída para os passageiros de trás), direção elétrica, espelhos retrovisores (com rebatimento elétrico) aquecidos, chave presencial, sistema de som Arkamys com seis alto-falantes, iluminação interna personalizável, central multimídia de nove polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, limpadores automáticos, faróis em LEDs com comutação automática, sensores de estacionamento dianteiros, laterais e traseiros, e câmera de ré.
CINCO ESTRELAS NO LATIN NCAP
A nota máxima no teste de impacto EuroNCap atesta a segurança do veículo, que conta com sete airbags, incluindo frontais, de joelho e cortina.
Equipado com câmeras e radares estrategicamente posicionados, o Megane E-Tech oferece uma gama completa de recursos de condução semi autônoma. Como já dito, ele inclui piloto automático adaptativo (ACC) com Stop & Go, alerta e corretor automático de faixa, frenagem automática de emergência, alerta de ponto cego (que, na minha opinião, se mostrou excessivamente forte, causando desconforto especialmente à noite), entre outros.
Em meu ver, outro ‘’escorregão’’ da Renault foi a ausência do centralizador de faixa, que centraliza o veículo na faixa por segundos, ajudando na condução autônoma. Funcionalidade presente em modelos mais baratos e em concorrentes.
A chave é no formato cartão, característico da marca, conhecida por ser utilizada em vários de seus modelos e originária de veículos como o próprio Mégane.
RESUMINDO A ÓPERA, VALE A PENA?
O Megane E-Tech é um carro impressionante. Seu design de protótipo atrai olhares por onde passa, oferecendo tecnologia de sobra e um conforto de invejar pela ótima nova plataforma CMF-EV e a suspensão calibrada.
A dirigibilidade é extremamente precisa, o que proporcionou ótimo controle em todos os terrenos. Além disso, ao final de sua vida útil, 95% do carro poderá ser reutilizado devido à sua pegada ecológica.
No entanto, não é isento de algumas falhas. O acabamento superior das portas poderia receber um toque mais caprichado, e a inclusão de um teto solar seria bem-vindo. Falando nisso, a tela maior de 12 polegadas na vertical, presente no modelo europeu, também se encaixaria bem aqui, assim como os ajustes elétricos do banco e porta-malas com abertura e fechamento elétricos. Mas, isso são apenas perfumarias que a Renault retirou para o veículo ficar mais acessível.
Ficha técnica - Megane E-Tech 2023
Motor: dianteiro, elétrico, 220 cv de potência e 30,6 kgfm
Câmbio: automático, tração dianteira
Direção: elétrica progressiva, diâmetro de giro de 10,4 metros
Suspensão: McPherson na dianteira e multilink na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos traseira
Pneus: 195/60 R18
Peso: 1.680 kg
Dimensões: 4,20 metros de comprimento; 1,77 m de largura (sem espelhos) e 2,05 m (com espelhos); 1,52 m de altura; 2,68 m de distância entre-eixos; porta-malas de 440 litros