Quais carros, além do segmento de entrada ou super esportivos exclusivos, são oferecidos de série com transmissão manual ? O número é ainda menor quando consideramos o casamento dessa transmissão com motor turbo . No segmento de picapes , a Montana se destaca como a única do segmento a oferecer essa combinação, e passamos uma semana com uma unidade da picape para conhecê-la.
Conjunto mecânico único
Apesar de compartilhar a plataforma GEM com Onix e Tracker , somente a picape média-compacta é oferecida com o conjunto de transmissão manual e motor 1.2 turbo de três cilindros, que entrega 133 cv e 21,4 kgfm de torque no etanol e 132 cv e 19,3 kgfm de torque na gasolina.
Na gama da Chevrolet , o Onix oferta o câmbio manual com motor 1.0 aspirado e 1.0 turbo, enquanto o Tracker é vendido em opções 1.0 turbo e 1.2 turbo, sempre com transmissão automática de 6 velocidades, mesma quantidade de marchas do câmbio manual da marca.
Inspiração clara na Toro
A Montana é uma clara resposta à Fiat Toro , picape de porte intermediário que tomou de assalto o mercado brasileiro de picapes desde 2016. Entretanto, a Chevrolet tinha um grande dilema ao desenvolver o modelo: A Montana crescia para enfrentar a Toro , ou se mantinha como compacta para brigar com a Fiat Strada , que passou a ser oferecida com quatro portas?
Pessoalmente, a impressão é que a Montana não consegue nenhum dos objetivos. Grande e cara demais para ser uma compacta e muito pequena para enfrentar a Toro , o que faz dela uma rival ideal da Renault Oroch .
Medindo 4,71 m de comprimento; 1,79 m de largura; 1,65 m de altura e 2,8 m de entre-eixos, a picape da Chevrolet é maior que a Strada (4,48 m); menor que a Toro (4,95 m) e bate perfeitamente com a Oroch (4,71m).
Voltando ao visual, a Montana é a única picape a apostar em uma identidade visual parecida com um filete em LED fino logo abaixo do capô e projetores dos faróis separados, mais abaixo. Particularmente, as linhas dianteiras da Montana não me agradam, entretanto, gosto é subjetivo. O que mais me chama a atenção é o caimento do teto e a seção das janelas, que separam a Montana do Tracker , por exemplo.
Caçamba e capacidade de carga
A caçamba apresenta bons 874 litros e consegue suportar até 628 kg; o que parece ser mais do que suficiente para um uso misto da picape. Muitos dos proprietários da picape dificilmente irão levar tanto peso, somente uma vez ou outra. Para testar a capacidade da picape, levei um jogo de bancos de um carro compacto e coube tranquilamente no espaço da Montana.
É importante destacar que a unidade de testes estava equipada com capota marítima que conta com duas pequenas tiras em tecido elástico que conseguem prender a capota para transportar objetos mais altos. O recurso é simples, mas que certamente facilita a vida de quem precisa; ponto para a Chevrolet.
Cabine conhecida
Por compartilhar plataforma com Tracker e Onix , ao entrar na Montana , você se sentirá em casa, se já tiver tido contato com esses modelos. Apesar disso, a picape poderia ter recebido um tratamento mais generoso da GM . A Montana foi responsável por estrear a nova disposição de multimídia da marca, mais integrado ao painel de instrumentos e com uma moldura em preto brilhante, ficando curvada para o motorista.
Se Spin e S10 renovadas ganharam painel de instrumentos digital, essa tecnologia poderia sim estar na Montana , e seria um grande diferencial na briga contra Oroch e Toro de entrada.
Vale destacar ainda que essa versão já oferece quatro vidros elétricos com um toque, uma função ausente em carros mais caros, e os passageiros traseiros contam com duas portas USB-A e uma 12V para recarregar celulares. Por falar em espaço traseiro, os passageiros viajam com conforto, e com mais espaço do que na Strada, graças ao entre-eixos de 2,8 metros. Entretanto, o banco mais verticalizado pode incomodar em longas viagens.
No mais, tudo funciona como deveria funcionar. A multimídia de 8 polegadas funciona de forma rápida e permite conexão sem o uso de fios com Android Auto e Apple CarPlay. Como todo Chevrolet recente, o modelo conta com roteador Wi-Fi integrado e o sistema de concierge OnStar .
Como anda a Montana LT Manual?
O desempenho do motor 1.2 turbo é bem equalizado com a proposta da Montana. O câmbio manual é uma surpresa interessante que deixa a experiência de condução da picape mais divertida. As trocas são suaves e o encaixe das marchas é bem preciso. Passe um pouco de dois mil giros e um sinal no painel aparecerá recomendando subir uma marcha.
A picape não é lá esportiva, mas a experiência é boa. Tente acelerar uma ou duas marchas acima do ideal e você irá precisar aguardar a turbina encher. O torque máximo chega a 2 mil rotações, mas em uso urbano, a Montana roda abaixo dessa marca. Na estrada, fica entre 2,5 e 3 mil giros.
Em termos de consumo, durante 491 km rodados com a picape tivemos uma média de 12 km/l somente com gasolina em uso misto. Em trajeto exclusivamente rodoviário, foi possível atingir até 16 km/l.
O inmetro afirma que o consumo da picape com etanol na cidade é de 8,3 km/l e na estrada a média sobe para 9,6 km/l. Na gasolina, as médias sobem para 12 km/l na cidade e 13,6 na estrada.
O isolamento acústico parece melhor do que o visto no Tracker RS
, testado por iG Carros no ano passado
. O ruído do motor foi menos perceptível na Montana do que no SUV.
A suspensão filtra bem as imperfeições da pista e não traz muita diferença do que o Tracker oferece, apesar de ser mais pesada e conseguir transportar mais peso, elogios precisam ser feitos para a engenharia da Chevrolet.
Com 11,5 m de diâmetro de giro, e com dimensões compactas, a Montana se mostra bem ágil na cidade. Para manobrar a picape, a câmera de ré ajuda e compensa a ausência dos sensores de estacionamento.
Vale a pena?
Atualmente, a tabela de preços da Montana é a seguinte:
1.2 Turbo MT – R$ 127.150
LT 1.2 Turbo MT – R$ 133.450 - Versão testada
LTZ 1.2 Turbo AT – R$ 146.990
Premier 1.2 Turbo – R$ 155.450
RS 1.2 Turbo – R$ 158.550
A Strada 1.0 turbo Ranch ou Ultra custa R$ 139.990 , mas traz motor de 130 cv e transmissão automática. A Renault Oroch com motor 1.3 turbo de 170 cv parte de R$ 155.750 ; e a Fiat Toro parte de R$ 149.990 na versão Endurance e R$ 159.990 na opção Freedom, sempre com motor 1.3 turbo de 185 cv de potência e câmbio automático de seis marchas. Já o Tracker , custa R$ 119.900 na versão “AT”, R$ 140.690 na versão LT.
Comparando os preços, a impressão que fica é que a versão que mais compensa da Montana é a 1.2 Turbo, justamente pelo preço mais baixo. Essa opção perde: pintura na maçaneta e espelhos, capota marítima e rack de teto, desembaçador do vidro traseiro, ajustes elétricos dos espelhos. Tirando a capota marítima, nenhum desses equipamentos, fazem diferença na condução, talvez o desembaçador.
Entretanto, por menos R$ 133 mil, a própria Chevrolet oferece o Tracker AT . Por R$ 7 mil a mais que a Montana LT já é possível levar para casa um Tracker LT. Com motor 1.0, é bem verdade, mas com transmissão automática, enquanto a Montana que depensa embreagem parte de R$ 146.990. Se o comprador não precisar de uma caçamba, o Tracker compensa mais.
Se precisar da caçamba e também de espaço, a Montana é mais indicada que a Strada, justamente por entregar mais espaço interno, ser um pouco mais acessível, entretanto, a picape da Fiat já conta com transmissão automática. Vale ressaltar ainda que a Montana conta com seis airbags , enquanto a Strada oferece apenas quatro .
Apesar de uma caixa manual muito bem equilibrada, eu, particularmente, levaria para casa um modelo automático, e nesse caso, a Montana custa mais caro.
Conclusão
Apesar de muito bem equilibrada, a Montana parece flutuar entre diversos portes, mas é grande demais para confrontar a Strada entre as compactas, e pequena demais para enfrentar a Toro. Sua rival mais próxima é a Oroch, e no ranking de vendas, emplaca o dobro que a picape da Renault, o que não é ruim. A questão é que na mesma faixa de preço, a concorrência é difícil para a Montana, já que briga com SUVs e até mesmo hatchbacks elétricos.
A questão fica restrita ao campo da necessidade por uma picape e por espaço. A Montana vale a pena, mas acredito que o Tracker seja o ideal para quem raramente irá usar a caçamba.
Ficha técnica Chevrolet Montana 1.2 Turbo
Preço: a partir de R$ 127.150
Motor: 1.2, três cilindros, turboflex
Potência: 133 cv (E) / 132 cv (G) a 5.500 rpm
Torque: 21,4 kgfm a 2.000 rpm (E) / 19,4 kgfm a 2.000 rpm (G)
Transmissão: Manual ou Automática, seis marchas, tração dianteira
Direção: Elétrica progressiva
Suspensão: McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: Discos ventilados (dianteiros) / tambor (traseiros)
Pneus: 215/55 R17 - Estepe: 215/60 R16
Dimensões: 4,27 m (comprimento) / 1,79 m (largura) / 1,62 m (altura), 2,57 m (entre-eixos)
Tanque: 44 litros
Caçamba: 874 litros/628 kg (620 nas automáticas)