Lucas Di Grassi já foi campeão mundial da categoria e representa o Brasil ao lado de Sérgio Sette Câmara
Reprodução/Carl Bingham/FormulaE
Lucas Di Grassi já foi campeão mundial da categoria e representa o Brasil ao lado de Sérgio Sette Câmara

O mercado automotivo está passando por uma grande transição nos últimos anos.  Carros elétricos não são mais um delírio e já são realidade nos países mais desenvolvidos. Neste sábado (25), São Paulo recebe pela primeira vez uma etapa da Fórmula E , categoria de monopostos 100% elétricos . Se a Fórmula 1 traz (e trouxe) muitas tecnologias das pistas para rua, como é com a nova categoria?

Conversamos com professores de universidades de engenharia para entender melhor como o esporte a motor e a competição impulsionam o desenvolvimento de novas tecnologias para os carros de rua .

“Muitas tecnologias presentes no carro de 3ª geração da Fórmula E já estão presentes em veículos elétricos disponíveis no mercado. Esses veículos trazem uma grande capacidade de regeneração de energia, transformando o calor das frenagens em energia cinética para a bateria. Assim, o carro elétrico se torna mais eficiente e sua autonomia acaba sendo maior", afirma Fabio Delatore , professor do departamento de engenharia elétrica da FEI e membro da comissão técnica do ePrix Brasil da Fórmula E.

Um dos parceiros globais da Fórmula E é a ABB , empresa suíça líder mundial em produtos e soluções elétricas, que fabrica equipamentos para recarregar carros elétricos. Wilson de Morais, Diretor de produtos e tecnologia de mobilidade elétrica da ABB, ressalta que a mesma tecnologia de recarga das baterias utilizadas na competição chega para os usuários dos eletropostos da marca suíça.

“A parceria da ABB e Fórmula E ajuda no desenvolvimento de novas tecnologias de carregamento rápido de baterias. A Fórmula E hoje usa o que há de mais avançado em tecnologia. E a ABB é a responsável pelo recarregamento dos veículos elétricos que são usados na competição. Os carregadores usados na fórmula E são os mesmos carregadores que a ABB fornece aos seus clientes e que podem ser encontrados nas principais rodovias do Brasil".

Estações de recarga para carros elétricos são cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo
Divulgação
Estações de recarga para carros elétricos são cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo

No Brasil, a Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade (SAE) conta com a Fórmula SAE , uma competição específica para estudantes de engenharia colocarem em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula em um veículo do tipo Fórmula, e que inclusive há modelos 100% elétricos

Segundo Ricardo Takahira , vice coordenador da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE BRASIL e professor das universidades Mauá, Facens e do SENAI, essa competição abre portas para os estudantes de engenharia se familiarizarem com o ambiente competitivo e também com tecnologias inovadoras. 

De acordo com Takahira, ainda em 2010, bem antes da criação da Fórmula E (a categoria só surgiu em 2014), estudantes de engenharia do Brasil já buscavam fazer um veículo da Fórmula SAE funcionar com energia elétrica . O veículo levava mais de mil células de baterias de telefone celular , e demonstra a capacidade de inovação da competição, que já conta também com veículos movidos a célula de combustível a hidrogênio.

Apesar de ser a primeira vez que uma categoria 100% elétrica vem ao Brasil, competições utilizando veículos eletrificados não são novidade por aqui. 

Takahira relembra que a Giaffone Racing participou do Rally dos Sertões de 2021 utilizando um UTV (veículo off-road que lembra um buggy) com motorização híbrida, além de recentemente ter criado, em parceria com a Volkswagen Caminhões e Ônibus e a CBMM, o primeiro caminhão de competição com motorização híbrida do mundo, que compete na Copa Truck .

A realização da Fórmula E no Brasil também traz oportunidades únicas para os estudantes de engenharia envolvidos em projetos de Fórmula SAE . Isabella Paes, estudante da Universidade Federal do ABC e integrante da  Scuderia UFABC foi convidada pela equipe Mahindra para uma imersão nos boxes e instalações da equipe.

“Foi surreal, eu me senti anestesiada, sem acreditar no que estava acontecendo. Nem sabia por onde começar a fazer perguntas para o pessoal da equipe. Foi sensacional poder conversar com os mecânicos, com os pessoal de dados, ver os carros. A gente consegue entender melhor para onde precisamos direcionar nosso estudo, aumentar a vontade para entrar nesse mundo e fazer uma carreira na área. Eu gostaria que todo mundo pudesse ter essa oportunidade, porque é uma experiência muito enriquecedora”. Afirma a estudante.

Circuitos urbanos demandam alto nível de concentração dos pilotos da Fórmula E
Reprodução/LAT Images/Formula E
Circuitos urbanos demandam alto nível de concentração dos pilotos da Fórmula E

Gabryelle Ramada, de 22 anos, integra a equipe  Fênix Racing da UNESP - Ilha Solteira, e também participou da imersão com a Mahindra.

“Dá um gás para continuar estudando. Nós conseguimos enxergar nos Fórmula E, dadas as devidas proporções, algumas coisas que executamos nos nossos carros de Fórmula SAE. Fiquei muito feliz de ver uma mecânica trabalhando nos boxes, conversei com ela sobre as oportunidades, perguntei como fazer para trabalhar na categoria”

Fernando Henrique Tiezzi, de 19 anos, que também faz parte da Fênix Racing, ressalta a importância desses eventos para a engenharia brasileira : “Elevam nosso padrão, sabe? Existe muita coisa acontecendo nos bastidores que não tem visibilidade na engenharia nacional. Esses eventos nos fazem aprender com o que acontece lá fora e mostra que apesar de todos os reveses e todas as dificuldades, a engenharia brasileira segue trabalhando.

“A experiência é inestimável, é um mundo diferente. Na Fórmula SAE, as proporções são menores, mas visitar os boxes de uma grande equipe em uma competição de alta performance. Sua visão se expande.” Afirma Luan Beraldo, de 25 anos, também da Fênix Racing.

“Além de visitar os boxes, na terça-feira tivemos uma palestra com o Lucas Di Grassi e outros integrantes do setor automobilístico brasileiro e comentamos a participação brasileira no esporte a motor. Temos engenheiros saindo daqui, mas a qualidade não volta. Essa oportunidade nos permitiu trocar experiências, contatos, até pra gente tentar trazer esse conhecimento de volta pro Brasil”, afirma Guilherme Graton, de 21 anos.

Arthur Librelon de 19 anos é integrante da  Fórmula Tesla UFMG e destaca que a base do carro da Fórmula E é a mesma da Fórmula SAE:

“O que eles faziam nos carros da Fórmula E já vi sendo feito no Fórmula SAE, mas, obviamente, que eles realizam os processos com mais habilidade e precisão. Mas saí de lá sabendo que o que eu faço hoje na faculdade vou utilizar na carreira. Pudemos ainda conversar com uma analista de dados que explicou que alguns profissionais que estão na Fórmula E tem bagagem de Fórmula 3 e até Fórmula 1.”

Apesar da Fórmula E não ter tanto glamour e fama quanto a Fórmula 1 , seu valor é muito alto. Os depoimentos dos professores e estudantes acima só reforçam o quão importante é ter eventos de nível global no Brasil , principalmente promovendo o intercâmbio e participação de estudantes , que podem elevar o patamar da indústria e produção científica do país no futuro.

A Fórmula E irá acontecer no sábado, 25 de março, no sambódromo do Anhembi . A largada da prova será às 14:00 e o evento será transmitido na televisão aberta pela Band e também na televisão fechada pelo Bandsports.

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