A expectativa era grande, mas veio acompanhada de un balde de agua helada , como diriam os argentinos... Tudo indicava que a nova geração do Peugeot 208 — fabricada em El Palomar, na província de Buenos Aires, em vez de Porto Real, no Estado do Rio — viria com tudo para a briga dos compactos.
Com lançamento do novo Peugeot 208 no Brasil, previsto para setembro, e preços estimados entre R$ 65 mil e R$ 85 mil, o modelo tem plataforma moderna e estilo que dá um banho na concorrência — tudo como no 208 II à venda na Europa. Na mecânica, porém, a triste surpresa: o carro só chegará ao Brasil com o velho motor de quatro cilindros 1.6 16v aspirado, com os mesmos 118/115cv e 16,1kgfm usado na versão Griffe do modelo antigo.
As origens remotas desse motor datam dos anos 80, ainda com oito válvulas e carburador. Em 2001, veio a versão TU5 16v, para o Peugeot 206, que evoluiu para o atual EC5. O curioso é que os engenheiros tiveram que fazer um tremendo esforço para que esse vetusto quatro-em-linha coubesse sob o capô do novíssimo 208.
Explica-se: o moderno e supereconômico tricilíndrico 1.2 PureTech — usado nas versões mais em conta do 208 antigo — vem da Hungria. Com a atual cotação do real, as contas não fechariam. Decidiram então ficar mesmo com o velho 1.6 16v aspirado, que é feito em Porto Real.
Na Europa, o Peugeot 208 II tem uma versão equipada com o 1.2 PureTech turbo, de 102cv ou 130cv. Em rendimento, consumo e atualidade, estaria mais à altura dos motores de três cilindros turbinados usados pelos rivais Chevrolet Onix , Hyundai HB20 e VW Polo nacionais.
Sobrou pelo menos o 1.2 PureTech aspirado no 208 antigo, como versão de entrada? Nada disso... O 208 de primeira geração ainda consta no site da Peugeot mas já deixou de ser fabricado. Em aspecto mecânico, portanto, a PSA deu marcha a ré: o novo Peugeot sairá com um motor mais antigo que o do veterano Citroën C3 !
Pela lógica de Pollyanna no jogo do Contente, a parte boa é que o motor 1.6 16v aspirado — apesar de estar na contramão das atuais tendências — passa longe de ser ronceiro e está mais do que testado, enquanto os pequenos turbinados são submetidos a esforços maiores, são mais delicados e têm mais peças para quebrar. Sua maior desvantagem é mesmo o consumo.
No lançamento, todas as versões virão com o câmbio automático Aisin EAT6, de seis marchas, usado no 208 antigo e no Citroën C3 ( só depois de alguns meses é que virá a transmissão manual). Pena que ainda não foi desta vez que puseram aletas atrás do volante para trocas de marchas — uma cisma da PSA. Na Europa, o modelo usa uma caixa de oito marchas.
Por volta de 2022, deverá ter início na Argentina a produção do motor 1.2 turbo, para a próxima geração do utilitário compacto 2008. Só aí a novidade chegará ao “nosso” 208 de segunda geração. Tem outra: grande sucesso na Europa, a versão elétrica (208 e-GT, de 136cv) desembarcará no Brasil, importada da Eslováquia, ao mesmo tempo que as versões flex trazidas da Argentina. Só não espere preços em conta.
A base e o recheio
Se o motor é antigo, a plataforma é das mais recentes. Apesar de o entre-eixos continuar nos mesmos 2,54m, essa base é toda nova — chama-se CMP e vem para substituir a PF1, usada desde o Peugeot 206. Equipará também o futuro Citroën brasileiro (substituto do atual C3) e, ainda, o próximo Peugeot 2008 (que será argentino).
Espere, com isso, um 208 mais firme, estável e com acerto de chão mais “comunicativo” que o de seu suave antecessor. Além disso, é cerca de 20kg mais leve.
Em comprimento total, são 7cm a mais do que o antigo 208 e o espaço da cabine e no porta-malas não mudou muito. O verdadeiro ganho está no acabamento e nos equipamentos.
O quadro de instrumentos continua “suspenso” sobre o painel, de forma que o motorista não precise tirar muito os olhos do trânsito. A novidade é que, nas versões Allure e Griffe, o mostrador é totalmente digital, colorido e com efeito 3D. O volante de pequeno diâmetro e base chata dá sensação de esportividade.
A tela multimídia, de 7", subiu para o alto do tablier e agora inclui dos comandos do ar-condicionado. Isso abriu espaço para um porta-celular no lugar onde antes ficavam os controles de temperatura e ventilação.
O 208 II Mercosul não terá o freio de mão eletrônico, nem o seletor de câmbio tipo joystick da versão europeia (a mesma dos 3008 e 5008). Em compensação, tem as hoje obrigatórias barras de proteção lateral — que haviam sido tiradas de seu antecessor...
O pacote de equipamentos é enorme. Serão quatro versões (em ordem de preço: Like, Active, Allure e Griffe). A topo de linha trará faróis de LEDs, teto panorâmico, alerta de colisão frontal, detector de fadiga, alerta e correção de permanência de faixa, leitor de placas, controle eletrônico de estabilidade, carregador de celular por indução, alerta de ponto cego e câmera de ré. Enfim: o Peugeot 208 II é um carro bem mais moderno do que seu motor...
Você viu?
FICHA TÉCNICA
Peugeot 208 II
Origem: Argentina
Motor: flex, quatro cilindros, 16v, comando duplo, 1.587cm³;potência de 115/118cv (a 5.750rpm) e torque de 16,1kgfm (a 4.000rpm)
Transmissão: câmbio automático Aisin de seis marchas. Tração dianteira
Direção: com assistência elétrica
Suspensão: McPherson na frente e eixo de torção atrás
Freios: a disco na frente e a tambor atrás
Pneus: 195/55 R16
Peso: de 1.139kg a 1.178kg, dependendo da versão
Dimensões: 4,05m (c), 1,96m (l), 1,45m (a), 2,54m (e.e.)
Porta-malas: 265 litros (VDA)
Desempenho : não divulgado
Consumo: 10,9 na cidade e 13,1 na estrada, com gasolina (Inmetro)