O Fiat Uno teve sua estreia global em 1983, em Cabo Canaveral (EUA), instalação utilizada pela Nasa para o lançamento de foguetes. A ideia da marca italiana era aproveitar a atmosfera futurista do complexo para passar uma imagem moderna ao novo hatch, que estreou no Brasil no ano seguinte.
Ao longo de sua história no Brasil, a Fiat emplacou mais de 4 milhões de unidades do Uno. Entre altos e baixos, erros e acertos e estratégias bizarras, o modelo ficará marcado para sempre no folclore automotivo brasileiro.
Hoje o Uno está datado, e a Fiat já começa a avaliar se vale a pena descontinuá-lo em Betim (MG) após 38 anos de produção. A marca tinha tudo para bater o martelo e decretar seu fim, mas com o encerramento da produção do Ford Ka em Camaçari (BA), os executivos avaliam se antigos clientes da marca americana não podem migrar para o Uno.
Fato é que o modelo compacto se aproxima do “canto do cisne” após uma história polivalente no Brasil. A Fiat teve diversas oportunidades para tirá-lo de linha, mas optou por preservá-lo no mercado com poucas mudanças. Em quase 40 anos, o modelo teve apenas duas gerações, e já não vende como nos tempos de ouro.
Esportivo
Se não dá para apostar na modernização, a Fiat sempre optou por lançar versões diferenciadas para aumentar o apelo do Uno no mercado nacional. Um exemplo clássico é o Uno Turbo , lançado no Brasil em 1994, quando o hatch já tinha dez anos de mercado.
O modelo tinha motor 1.4, que desenvolvia 118 cv de potência e 17,5 kgfm de torque a 3.500 rpm. Por mais que os números sejam compatíveis com modelos básicos que temos hoje no mercado, o hatch da Fiat pesava apenas 970 kg, o que garantia ótimo desempenho.
Segundo a Fiat, o Uno Turbo pode acelerar de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos, com velocidade máxima de 190 km/h. Além do desempenho, o design do compacto esportivo chamava muita atenção nas ruas das grandes cidades. O modelo que tinha Rubens Barrichello como garoto-propaganda foi um verdadeiro sucesso.
Uno de firma
Quando a Fiat iniciou estudos de design para lançar o Palio como novo modelo global, seu objetivo era substituir o Uno. Isso de fato aconteceu na Europa, mas as vendas em alta impediram que o modelo fosse descontinuado no Brasil. Palio e Uno coexistiram por muitos anos com os compactos mais vendidos da Fiat por aqui.
Neste período, o Uno caiu de escalão e perdeu versões. Ele acabou ficando muito barato, chamando atenção de empresas de telefonia e logística. Foi aí que nasceu o popular “ Uno de firma ”, que é meme na internet até hoje.
A Fiat chegou a brincar com o termo em uma ação publicitária para anunciar o nome do sedã Cronos. Na ocasião, seis unidades coloridas do Uno da primeira geração com escadas no teto circulavam por uma pista, formando o nome do sedã compacto lançado em 2018.
Descolado
Em 2010, a Fiat apostou na modernização do Uno com o lançamento da segunda geração. A fabricante manteve o formato de “caixa”, mas inseriu linhas mais arredondadas que eram tendência na época. Mas nem o novo modelo foi capaz de determinar o fim do Uno da primeira geração, agora mais “de firma” do que nunca.
A versão College estreou em 2013, com foco nos jovens em idade universitária. Ela era baseada na popular Vivace, com motor 1.0 Fire, de 75 cv de potência, mas acabou caindo em esquecimento por conta do design exageradamente infantil.
A Fiat chegou a disponibilizar cores exclusivas e os faróis máscara-negra da versão Way, mas o College pecava no design por conta dos retrovisores e maçanetas pintados de vermelho e o adesivo lateral.
A despedida e o aventureiro
Foi justamente no ano de lançamento da versão College que a Fiat foi obrigada a tirar o antigo Mille de linha. Em dezembro de 2013, passou a vigorar a lei que proíbe a produção de carros de passeio que não tenham airbag e freios ABS. Como a modernização de um veículo tão antigo poderia custar caro à Fiat, optaram por descontinuar o Mille. A Volkswagen teve que fazer a mesma coisa com a Kombi.
A marca italiana preparou um “velório” digno para o modelo que encantou as ruas brasileiras desde 1984. No final de 2013, foi lançada a versão Grazie Mille , que em italiano significa “muito obrigado”, com cor exclusiva e uma insígnia numerada no painel. Uma bela maneira de se despedir de um veículo tão importante.
A Fiat já tinha uma versão aventureira Way para o Mille e acabou migrando o visual para a nova geração. O hatch contava com faróis escurecidos, barras no teto, pára-lamas personalizados e adesivos que faziam referência à versão.
Curiosamente, o Fiat Uno Way deixou de ser oferecido pela marca em 2018, mas ele acabou voltando ao catálogo na versão 2020. O modelo pode ser adquirido com motor 1.0 Firefly, de 77 cv de potência e 10,9 kgfm de torque, ou o conjunto 1.3, de 109 cv de potência e 14,2 kgfm de torque, ambos com câmbio manual de cinco marchas.
Patriota
Os anos de 2013 e 2014 foram intensos no Brasil. Além de eventos esportivos, como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, ambos sediados no país, o período ficou marcado pelas Jornadas de Junho, com a realização de protestos em todos os estados brasileiros.
A Fiat aproveitou o embalo nacionalista para lançar o Uno Rua , novamente baseado no modelo Vivace . O compacto ganhou tonalidade amarela exclusiva e adesivos da bandeira do Brasil espalhados pela carroceria. No interior, o único destaque louvável ficou para o volante revestido em couro. Seu motor era 1.0, com 75 cv de potência.
Legado
Durante seu tempo de vida, o Fiat Uno teve papel fundamental para a mobilidade do brasileiro. Como fica claro após passarmos por algumas das versões mais emblemáticas do compacto, sua trajetória acompanhou partes da história do país.
A versão Turbo acompanhou os lançamentos de esportivos dos anos 90, como Escort XR-3 e Gol GTI. O modelo College chegou justamente quando o Brasil comemorava crescimento de 81% nas matrículas do ensino superior em dez anos. E para marcar a Copa do Mundo, o modelo ganhou a cara da seleção na versão Rua. De fato, um modelo que fará falta no mercado.