
Já imaginou largar tudo e viver um sonho em outros países? Essa ideia está longe de ser incomum, mas são raros os que conseguem transformar esse desejo em realidade.
É o que fizeram Anderson e Ana, que deixaram a advocacia em Florianópolis para morar em uma Volkswagen Kombi 1986 e percorrer um continente até o Alasca, no s Estados Unidos. Junto a isso, se tornaram influecers de turismo no Instagram com o perfil @vibededois.
“Hoje, olhando para trás, tudo faz sentido. Mas na época foi caótico, desafiador e, ao mesmo tempo, cheio de propósito”, disse o casal ao Portal iG Carros.
Eles relatam que desde 2019 sentiam um desconforto crescente com o ambiente corporativo e com a rotina desgastante nos escritórios.
A pandemia, em 2020, reforçou o desejo de mudança e revelou uma vida mais simples e conectada com o que valorizavam.
Quando voltaram ao trabalho presencial, o incômodo se transformou em burnout e levou a uma decisão radical: “Pedimos demissão juntos”, contou Anderson.
A virada: do burnout à estrada
A escolha mais difícil foi comunicar aos familiares.
“Talvez, uma das partes mais difíceis da jornada. Não pela conversa em si, mas pela falta de compreensão naquele momento. A verdade é que a gente não teve um apoio expresso de 100% ao nosso projeto ”, disse Ana.

O casal tinha reservas financeiras suficientes para sustentar um ano de viagem. Ainda assim, a decisão parecia improvável.
Foi nesse contexto que a “Manezinha” entrou na história. Comprada por R$ 4,9 mil em fevereiro de 2020, a Kombi passou a ser o projeto central da nova vida.
Pouco depois da compra, um incêndio destruiu parte da fiação elétrica. Com a chegada da pandemia, o eletricista não pode mais trabalhar no conserto: “No caos total, que começou a transformação da nossa casa sobre rodas”, disse Anderson.
A transformação da Manezinha

A adaptação do veículo levou quase dois anos.
“Compramos com a lataria toda enferrujada, cheia de buracos. Descobrimos depois que o motor estava adulterado, tomamos um golpe, e tivemos que comprar um bloco novo e reconstruir o motor do zero”, contou Anderson.
No interior de apenas três metros, o casal construiu uma microcasa: cama, armários, cozinha funcional, sistema hidráulico e placas solares.
“A Manezinha virou muito mais do que um veículo: virou um símbolo da nossa liberdade, criatividade e resistência”, disse Ana.

Mesmo com as dificuldades, incluindo burocracias, em novembro de 2021, a Kombi estava pronta para rodar.
O caminho até o fim do mundo
O primeiro objetivo era Ushuaia, na Argentina, conhecido como “o fim do mundo”. A bordo da Kombi, partiram de Florianópolis, cruzaram o Sul do Brasil, passaram pelo Uruguai e desceram a Argentina pela Ruta 3.
“Levamos quatro meses até chegar ao Ushuaia, 8.110km, considerado o último ponto habitado”, disse Anderson.

A chegada foi marcada pela vista da Cordilheira Martial coberta de neve.
“Choramos muito. Aquilo foi mais que um destino, foi uma conquista”, disse Ana.
Durante quase quatro anos vivendo na estrada, Anderson e Ana enfrentaram situações que testaram os limites da adaptação e da resiliência.
No início, a falta de recursos básicos, como água e energia elétrica, foi um dos maiores desafios.

Com o tempo, surgiram problemas mecânicos recorrentes, como a necessidade de baixar o motor da Kombi em cidades como Buenos Aires e Ushuaia.
“Fomos enganados por mecânicos e chegamos a viver semanas dentro de oficinas até decidirmos aprender e fazer nós mesmos os reparos”, contou Anderson.
As adversidades não pararam por aí. Eles passaram pelo frio extremo na Patagônia, ficaram presos na neve em Esquel, na Argentina, e viveram bloqueios durante uma crise política no Peru.

Em outra ocasião, passaram três dias isolados no salar de Uyuni, na Bolívia, após uma pane no veículo.
“A verdade é que você nunca está preparado para os perrengues. Aprendemos a respirar fundo, confiar e seguir”, disse Ana, lembrando também de episódios de saúde, como uma infecção que deixou Anderson parado por dois meses na Guatemala.
Pedido de casamento em casa
No meio da jornada, um momento especial: o pedido de casamento. Anderson conta que comprou as alianças em Minas Gerais e recebeu de amigos no Equador.
Ele guardou as alianças até voltarem a Florianópolis, quando fizeram um encontro com mais de mil pessoas que os seguem na internet no Instagram @vibededois. No evento, diante de amigos, familiares e fãs, o pedido foi feito.
“A Ana ficou em choque e foi lindo ver a reação dela, e da nossa família, que foi cúmplice de tudo desde o início. Foi mais do que um pedido de casamento. Foi o marco de uma história que começou com uma Kombi pegando fogo e foi se transformando em algo muito maior do que a gente sonhava”, contou.
E agora?

Após chegarem ao Alasca, eles planejam seguir até o Oceano Ártico antes de retornar ao Brasil em novembro para palestrar na Expomotorhome, em Curitiba.
“Depois vamos trazer a Manezinha de volta e cruzar a Ponte Hercílio Luz dirigindo. Vai ser simbólico encerrar esse ciclo onde tudo começou”, disse Ana.
O casal garante que a vida na estrada continuará.
“Essa jornada mostrou que, com propósito e coragem, até o impossível se aproxima”, concluiu Anderson.