As novas gerações de compradores de carro viverão um dilema. Ou compartilham a propriedade de veículos ou têm o seu próprio à disposição na garagem. Enquanto isso não acontece, uma coisa as montadoras já perceberam: os grupos das chamadas gerações Y e Z, dos nascidos na década de 80 até os anos 2000, têm nos utilitários esportivos uma das preferências. Nessa sopa de letras de gerações e definições sobre perfis, as marcas sabem que estão diante dos principais consumidores do mundo atual, e fazem de tudo para conquistá-los.
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Um dado recente da Fenabrave, a associação das revendedoras de veículos no Brasil, ajuda a reforçar esta conclusão. As vendas de utilitários esportivos em 2017 representaram 22,3%. Foi a segunda categoria de carros mais comercializada perdendo apenas para os hatchs compactos, que responderam por 27% dos emplacamentos no país.
No ranking, uma surpresa é o novo líder do segmento. O Jeep Compass com 49.187 unidades vendidas desbancou o Honda HR-V (47.775), que mantinha a liderança desde 2015. Completam a lista dos seis primeiros o Hyundai Creta (41.625), Jeep Renegade (38.330), Nissan Kicks (33.464) e Ford EcoSport (31.195).
Esta sexta posição da Ford pode ser considerada incômoda, afinal, foi ela a primeira a apostar pesado no segmento com o EcoSport, que até 2015 era líder de vendas e em 2016 ainda ocupava o terceiro lugar.
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Ainda assim, o modelo tem a confiança da montadora e passou a ser vendido nos Estados Unidos, país famoso por adorar os utilitários de grande porte. O EcoSport, um SUV criado no Brasil, tem o desafio de agradar o jovem norte-americano.
Aproveito este texto sobre utilitários esportivos para ressaltar a engenharia automotiva brasileira. Tive a oportunidade de constatar e trabalhar em todos os lançamentos de versões e gerações do EcoSport (até mesmo a versão recém- lançada do Storm AWD).
Um recuo na história para o início de 2000 mostra que os utilitários esportivos eram veículos sonhados, mas custavam muito caro. Não que hoje sejam baratos, mas ficaram mais acessíveis e há muito mais opções de compra.
"A Ford foi a criadora do segmento de utilitários esportivos no mundo. Sabíamos como fazer, tínhamos a fórmula dentro de casa. Tivemos a ousadia de investir em uma proposta nova, que ninguém mais tinha e a maioria dos concorrentes, na ocasião, voltava-se ao segmento de minivans. Assim surgiu o conceito do veículo que chegou do EcoSport", disse na época o Márcio Alfonso, então um dos principais engenheiros da montadora.
Interessante que, 15 anos depois, o engenheiro Márcio Alfonso ocupa um cargo similar em outra montadora e foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Hyundai Creta, um dos líderes atuais do mercado brasileiro.
Até nos segmentos mais caros chegam grandes apostas, como o Chevrolet Equinox, o Peugeot 3008, o Jaguar E-Pace e o BMW X2. A lista é enorme. A Volkswagen, por exemplo, promete cinco SUVs até 2020. Até a marca chinesa JAC trouxe T40, um SUV agradável e competitivo.
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Vários fatores contribuem para este tipo de veículo ser muito desejado. Entre eles, a posição de comando ao volante e altura elevada do solo, além da capacidade de transpor áreas alagadas e a sensação de maior segurança.
O começo do EcoSport
Curioso ver que o que ajudou o EcoSport a também se tornar um sucesso foram itens que hoje são completamente comuns. Ele trouxe equipamentos até então inéditos como o compartimento refrigerado no painel, porta-objetos no banco do passageiro com espaço para um laptop, sistema de som com MP3, conexão para iPod, USB e Bluetooth.
O estepe na tampa traseira do porta-malas também foi uma marca registrada. Hoje, ele é considerado de gosto discutível por muitos consumidores tanto que na Europa e Estados Unidos são oferecidas versões sem o pneu externo. O EcoSport foi mostrado pela primeira vez no Salão do Automóvel de São Paulo em 2002, bem diferente da versão atual.
Todos esses detalhes do EcoSport mostram que o modelo abriu as portas para a popularização dos utilitários esportivos no país. Chego até a afirmar que ele foi precursor dos utilitários compactos em outros continentes.
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Mas também fica uma lição para todas as montadoras. Num mercado com tanta concorrência, não basta largar na frente. Permanecer na dianteira é tarefa árdua e as das novas gerações, que mantêm o interesse por carros, ainda são muito mais exigentes, até mesmo por utilitários esportivos.