Histórias, histórias. Quem viveu a romântica época do motociclismo do início dos anos 70 provavelmente estará, como eu, apto a lembrar de muitos casos marcantes de sua própria vida, apenas olhando para determinados modelos de motocicleta. Tenho muitas lembranças de muitas motos, principalmente aquelas nas quais eu fazia um papel coadjuvante, na garupa. E esta Suzuki T500 é uma delas.
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O quintal de casa sempre estava cheio de motocicletas, que fossem aquelas japonesas que começaram a mudar o perfil dos motociclistas, ainda nos anos 60, e que meu pai trazia para casa para fazer teste para a revista Quatro Rodas, ou aquelas que ele mesmo passou a colecionar. Tudo ao meu alcance. Só que eu ainda não havia iniciado minha vida motociclística, além da garupa, e me contentava em “pilotar” as motocicletas paradas mesmo, imaginando o caminho entre minha casa e o Autódromo de Interlagos.
Como eu já devo ter mencionado aqui, minha primeira motocicleta foi uma Zündapp de 1969, que surgiu em casa como “troco”, após uma transação com alguma motocicleta da frota. A feiosa alemã não era o padrão que todos já estavam se acostumando, mas estava ali, e eu passei a sair com ela todos os dias, após a escola.
Até que chegou em casa uma belíssima motocicleta, grande, vistosa e, acho eu, muito veloz. Era uma Suzuki T500J de 1972, na cor laranja, importada por aquele que eu considerava o “papai noel” das motocicletas, o Sr. Ari Fiadi. Eu costumava me perder naquele galpão no bairro da Pompéia, vendo todas as motocicletas que estava sendo desencaixotadas, para chegar às mãos de muitos felizardos.
Meu pai foi o felizardo no caso dessa Suzuki T500J. Ele tinha várias motos, algumas japonesas e algumas européias, entre as Ducati, Jawa, BMW e uma inesquecível HRD Vincent Black Shadow 1000, a verdadeira viúva negra. Mas essa Suzy me conquistou. Com um ronco de “ Big-2T ”, ela era linda, suave, confortável e muito veloz. Só não tinha uma coisa: freios. Aquele grande tambor dianteiro, com duplo acionamento por cabos, não parava todo aquele entusiasmo.
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Bem, essa, então, era a minha motocicleta preferida para ficar horas montado, fingindo pilotar. E por causa disso, foi, também, a primeira motocicleta grande que pilotei. Fiquei muito chateado quando ela foi embora, vendida a um amigo do bairro que, como eu, babou em cima dela por muito tempo.
Explicada a razão de eu reverenciar tanto essa motocicleta, soube que nosso amigo Ricardo Pupo, aquele do site Clássicas 70 e do encontro mensal de clássicas todo último domingo do mês, no Pacaembu, havia comprado uma. O Pupo já havia cedido aquela Kawasaki GPz 1100 que mostrei aqui há uns três anos.
A Suzuki do meu pai era uma T500J, o “J” indicando o ano de 1972, e a do Pupo é uma Suzuki T500R, o “R” de 1971. Essa motocicleta começou em 1968, com o nome de T500 I Cobra, e em 1969 ela passou a chamar T500 II Titan. Em 1970, foi a vez da T500 III Titan. Depois da J, veio a T500K de 1973, a T500L de 1974 e a Última, T500M, de 1975. Todas muito parecidas e com o mesmo freio dianteiro assustador.
A Suzuki T500 não é uma motocicleta qualquer. Ainda nos anos 60, os motores dois tempos não eram muito considerados para cilindradas maiores, e foi ela que quebrou esse paradigma, em 1968. De tão suave, esse motor permitia viajar centenas de quilômetros com conforto e suavidade a 130 km/h, com o motos ronronando a apenas 4.000 rpm. A Suzuki T500 também teve seu momento de glória, vencendo na Ilha de Man em 1971 e 1972, além de emprestar tecnologia para a TR500 de GP.
A Suzuki T500 marcou a transição entre as motocicletas básicas e as sofisticadas, com um belo par de relógios no painel mas sem partida elétrica. Mas não precisava. O pedal de partida do lado esquerdo – quando quase todas as outras motocicletas tinham pedal de partida do lado direito – dava conta de fazer funcionar o motor na primeira pedalada.
A Suzuki T500J de 1972 estreou a bela lanterna traseira, mais simplória até 1971, e que passou a enfeitar toda a família de motocicletas 2T da marca daí para diante. Nas fotos pode-se ver bem a diferença entre as duas lanternas traseiras.
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Depois da família T, veio a família GT, primeiramente ainda com motores bicilíndricos e com o sistema Ram Air de refrigeração (cabeçotes planos e aerodinâmicos) e dpois com a bem sucedida família GT de três cilindros, com a GT 380, a GT 550 e a GT 750, esta última refrigerada a água. Foi com esta linha, antes de passar de vez para os motores de quatro tempos, que a Suzuki pôde enfrentar a supremacia das Honda CB 750 e CB 500 de quatro cilindros.