Assim como algumas outras motocicletas que marcaram a minha infância e a minha entrada no maravilhoso mundo das duas rodas, a Ducati 250 Mark 3 tem um lugarzinho especial na minha memória.
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Entre as motocicletas que meu pai mantinha na garagem de casa, uma de suas preferidas era a Ducati 250 Mark 3, que chegou novinha à coleção. Na minha concepção, era a mais bonita, apesar de ser a menor delas. O guidão tomaseli e o enorme conta-giros Veglia de fundo branco eram equipamentos originais, mas a motocicleta não tinha pedaleira para o garupa. Só que isso não me impediu de acompanhar meu pai aos sábados de manhã nos passeios pela então praticamente deserta Cidade Universitária, ainda nos anos 60. Eu ia agarrado na garupa com os pés soltos, às vezes riscando o asfalto. E sem capacete!
Não havia como esconder que aquela moto era uma autêntica esportiva. Assim, o jovem Expedito não pensou duas vezes para inscrevê-la em uma corrida. Com Interlagos fechado para a grande reforma dos anos 60, lá fomos nós para Ribeirão Preto, participar de uma prova que se tornaria lendária.
Para correr, bastou cobrir o farol com o number-plate original da sua outra Ducati, uma 250 Mach 1, e trocar o escapamento original por um “megafono” ensurdecedor. O carro de equipe era um Chevrolet Veraneio, sem os bancos traseiros, e o mecânico era nosso bom amigo Polé. Eu viajei sentado no meio.
Com meus 10 anos de idade, era a primeira corrida de motocicleta que eu via de perto. As recém-asfaltadas vias cheias de areia de um condomínio da cidade faziam as vezes do circuito. O box era improvisado em chão de terra. Nunca mais esqueci o nome do hotel em que todos ficaram hospedados – Umuarama. Correndo o boato de que amigos do alheio costumavam colocar açúcar nos tanques das motocicletas concorrentes, nossa Ducati dormiu trancada dentro da Veraneio.
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No dia da corrida, um domingão infernal, muitas motocicletas estavam alinhadas. Vi também, pela primeira vez, as Yamaha TD especiais de competição. Eram as favoritas, porém aquele calor de 40 graus favoreceram as europeias, de concepção mais simples. Na hora da bandeirada, Luiz Latorre viu primeiro a quadriculada, com uma Ducati 350 Mark 3 Desmo, seguida pelo jovem Expedito e sua Ducati 250 Mark 3 “não desmo”. As japonesas e as inglesas ficaram para trás.
Também jamais saiu da minha memória a cerimônia do pódium: todo o palanque das autoridades, de madeira, ruiu, vindo todos abaixo. Se fosse nos dias atuais, teríamos dezenas de vídeos, mas essa cena ficou marcada apenas na minha mente.
Mas vamos falar um pouco da motocicleta. A marca Ducati começou com as motocicletas em 1946, com a Cucciolo, mais uma bicicleta motoeizada do que uma moto. Nos anos 50, entra para a empresa, e para a história, o engenheiro Fabio Taglioni, que idealizou o revolucionário sistema desmodrômico de acionamento das válvulas. No lugar das molas convencionais, que fecham as válvulas de admissão e de escapamento, Taglioni instalou hastes que as puxam de volta, evitando o tão conhecido flutuamento de válvulas, que limita a rotação e a potência. Tanto Taglioni quanto o sistema desmodrômico tornaram-se sinônimos de Ducati.
Em 1961, surgiu a Ducati Diana Mark 3 Super Sport, já com uma boa dose de esportividade, apesar de ser um pacato modelo de passeio. Suas variações evoluíram até os anos 70, sempre monocilíndricos, para depois disso entrarem em cena os motores em “V” a 90º, também conhecidos como motores em “L”.
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A Ducati 250 Mark 3 ainda mantinha o pedal de câmbio do lado direito, quando a maioria das marcas já estava mudando para o lado esquerdo, como se convencionou até os dias de hoje. Por isso, para dar uma “voltinha” nessa Ducati, é preciso um pouco de concentração para não trocar os pés. Outra característica marcante dessa motocicleta é o tanque de combustível com dois bocais de abastecimento, de travamento rápido. Já pensando em uma prova longa.
Esta Ducati 250 Mark 3 tinha apenas 18 cv de potência, mas seu desempenho pode ser comparado ao de uma 250 atual, mesmo com toda a tecnologia que os motores absorveram nos últimos 50 anos. E com o bônus de estar pilotando uma motocicleta clássica atemporal.