Antes de falar sobre a Harley-Davidson LiveWire, há uma pergunta que eu preciso fazer: você compraria uma motocicleta elétrica? A questão não é sobre a Harley-Davidson sair de seu mundinho muito particular e começar a produzir outros tipos de motocicletas, mas sim sobre a origem do prazer em pilotar uma moto e as soluções energéticas atualmente disponíveis, mais eficientes do que a gasolina.
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Os estereótipos do vento no rosto, do ronco do escapamento e do cheiro da combustão, apesar de estarem um tanto desgastados, uma vez que motocicleta hoje também é vista como um veículo utilitário, ainda estão muito presentes no cotidiano daqueles que vêm a moto como um instrumento de lazer e prazer. Para resolver o problema dos deslocamentos breves e em meio ao caos do trânsito, existem as motocicletas práticas e os scooteres, mas estes nem sempre precisam estar acompanhados do prazer.
Bem, voltamos à Harley-Davidson LiveWire. Diferente de tudo o que poderia estar associado à marca, é uma motocicleta completa, pronta para oferecer tudo o que um motociclista de mente aberta poderia desejar. É isso mesmo, sem ampliar seus horizontes, o motociclista tradicional certamente vai torcer o nariz para a LiveWire.
Apresentada já há algum tempo nos mercados estrangeiros, eu ainda não havia tido a oportunidade de experimentá-la, mas as impressões de quem a pilotou me convenceram de que poderia ser uma experiência bastante agradável. Em uma tarde entre aqueles dias e que passei na Espanha, com toda a imprensa mundial em um evento estradeiro da Harley-Davidson, estava ela ali, à minha disposição, para um breve percurso pelas recortadas estradas do vale de Villanueva De La Concepción, na região da Andaluzia.
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Eram três as cores que eu poderia escolher: laranja, amarelo e preto. Para esta rápida avaliação, qualquer cor estava bem, mas se eu fosse comprar uma, ficaria com a laranja, a mais bonita das três. Ao montar na moto, a posição de pilotagem lembra as naked esportivas, com guidão plano e pernas dobradas para trás. Bem diferente das posições de pilotagem das Harley mais conhecidas.
Para acionar a motocicleta, basta ligá-la. Mas aí é preciso cuidado, pois uma leve torcida no acelerador é suficiente para que a motocicleta dê um salto para a frente. Os comandos também são simplificados, além do acelerador, há o freio dianteiro no manete direito e o freio traseiro no pedal do lado direito da moto. Logicamente, não há embreagem nem pedal de câmbio.
Mas existem muitos ajustes a serem feitos. O painel de instrumentos é como um telefone celular desligado. Ao ligar a moto, aparecem as informações, as mesmas de uma motocicleta convencional, mais o status da bateria. A tela é sensível ao toque e pode ser conectada a um smartfone, por meio de um aplicativo exclusivo da Harley-Davidson.
Antes de partir, ou mesmo rodando, é possível alterar os modos de pilotagem entre Rain, para piso molhado, Range, para máxima autonomia da bateria, Road, para pilotagem normal e Sport, quando a intervenção do controle de tração é mínima e a motocicleta elétrica se torna radicalmente arisca. Há ainda mais três modos que podem ser programados pelo usuário.
Mesmo com a moto ligada, o motor está parado. Por isso, ela tem um recurso que pode ser ajustado ou desligado, que simula uma leve vibração, como se houvesse alguma coisa funcionando. Isso para alertar o motociclista. É sempre bom lembrar que a potência do motor elétrico é de 105 cv, que parece não ser muita coisa, mas o torque de quase 12 kg, despejado instantaneamente na roda traseira ao menor movimento do acelerador, é algo brutal.
Uma vez em movimento, as reações da LiveWire são as de uma motocicleta comum, mas as de uma esportiva muito potente. Mesmo no modo Road, girar o acelerador com vontade faz a roda traseira querer destracionar a todo momento. No modo Sport, a pilotagem fica insana e é preciso muita serenidade para não fazer besteira. Para um passeio bem tranqüilo, o ideal é escolher os modos Range ou Rain.
Como todo bom veículo elétrico, a Harley-Davidson LiveWire conta com o sistema RESS para regeneração de energia, acionado sempre que se freia ou fecha o acelerador. No modo Sport, o freio-motor resultante desse sistema é tão violento que quase não é necessário usar os freios.
A autonomia da LiveWire é de, no mínimo, 150 km, em uso urbano ou esportivo, mas pode chegar a 235 km, de acordo com o fabricante, em situações bem favoráveis. A recarga pode ser feita como em um celular, durante horas, em uma tomada doméstica comum, mas há o recurso de se usar uma estação de alta voltagem para carga total em uma hora, ou parcial em 40 minutos. Só que essa estação pública deve estar disponível em muitos pontos do percurso, para o caso de uma viagem mais longa.
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Prevista para chegar ao Brasil no próximo ano, a Harley-Davidson LiveWire ainda não tem preço definido, o que até pode ser difícil de se prever, pelo fato de que a motocicleta custa US$ 30.000 nos Estados Unidos e 34.500 euros na Europa. Depois de experimentar a novidade, já é possível responder a pergunta lá do início: eu compraria, logicamente dependendo do preço, certamente alto, mas jamais abandonaria minhas queridas motocicletas, que ainda queimam a preciosa gasolina.