A primeira vez que fui ao Rio de Janeiro foi em 1969, acompanhar meu pai no teste do Simca Esplanada GTX. Cidade maravilhosa, atributo facilmente notado mesmo com meus nove anos de idade. Pão de Açúcar, praias e Corcovado, tudo muito bacana, mas o que eu curti mesmo foi a viagem de carro.
Mesmo indo para o Rio muitas outras vezes, testando motocicletas ou mesmo apenas passeando, foi uma rápida passagem por lá, há 18 anos, que eu guardei com saudade. A pauta, que surgiu de uma conversa de mesa de bar, era para uma revista de automóveis: quem chega primeiro ao Copacabana Palace, quem vai de avião, quem vai de automóvel ou quem vai de motocicleta? E, aproveitando a boa vontade de uma estagiária da redação, incluímos o ônibus nessa disputa.
É claro que eu escolhi a motocicleta: uma belíssima Harley-Davidson Heritage Softail Classic, uma edição comemorativa de 100 anos da marca. Fundada em 1903, a Harley-Davidson estava completando 100 anos de história naquele ano de 2003, com comemorações por todo o mundo, e as motocicletas vinham com o logotipo de aniversário no tanque.
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As regras para essa disputa eram simples, sairíamos da Av. Paulista às 9h00, cada um com seu meio de transporte, taxi para o aeroporto, ônibus para a rodoviária e eu direto para a estrada, onde teria que respeitar os 120 km/h de velocidade máxima regulamentada. Foi uma viagem solitária, porém muito tranquila e relaxante. Até parei para comprar um jipe que estava anunciado na beira da estrada.
Cheguei no Copacabana Palace, no bairro de Copacabana, às 14h00, depois de cerca de cinco horas de viagem. Lá já estava o viajante aéreo, que tomou um taxi desde o Aeroporto Santos Dumont e chegou cerca de duas horas antes.
A vantagem do avião em relação à viagem terrestre fica bastante reduzida devido ao tempo de embarque e desembarque, mas mesmo assim o tempo de deslocamento total é bem menor. O automóvel chegou logo depois de mim, pois, mantendo a mesma velocidade na estrada, perdeu um pouco mais de tempo apenas nos dois trechos de trânsito urbano, principalmente na chegada ao Rio de Janeiro.
Era quase noite quando a corajosa estagiária chegou, depois de três demoradas viagens de ônibus, em São Paulo, nos cerca de 440 km de estrada e no Rio de Janeiro. O melhor da aventura veio depois, com um longo passeio de Harley-Davidson pela Cidade Maravilhosa à noite, em uma época ainda não tão perigosa. O chopp nos rústicos botecos do Leblon foi o ponto alto da noite.
A Harley-Davidson Heritage Softail Classic 2003 Anniversary Edition é muito parecida com a atual, com para-brisa removível, alforjes de couro, com tachas e babados, e muitos cromados. Mas o motor ainda era o Twin Cam 88B, de 1.450 cm3 de cilindrada. Passados estes 18 anos, não me lembro se essa motocicleta já tinha alimentação por injeção eletrônica ou ainda eram dois carburadores. É que nessa época a injeção era opcional em alguns modelos, passando a integrar todo o lineup da marca apenas em 2007.
No dia seguinte, bem cedo, cada um voltou com seu meio de transporte para a redação da revista, para compilar os dados de tempo, consumo de combustível, distância percorrida e despesas. E eu, mais uma vez, passei momentos relaxantes na estrada, em uma solitária viagem de volta.