Lembro muito bem de quando conheci o Tintin. Em meados dos anos 60, muitas vezes eu me afastava das brincadeiras nas festas infantis da família para ler, em um canto sossegado, um gibi “roubado” do Mickey ou do Pato Donald. Mas naquele dia a visita era social, só de adultos, em um enorme apartamento clássico na avenida São Luiz.
Não achei nenhum gibi infantil por lá, mas tinha essa revista maior, que eu nunca havia visto, com uma longa história. Bem, eu tinha tempo e privacidade.
Tintin no Tibet , eu ainda não sabia, era o décimo oitavo volume de uma série icônica dos quadrinhos, a do garoto Tintin, detetive e espião precoce, criado pelo quadrinista belga Hervé, em 1929. Fiquei tão absorto naquela história que não lembro nem do que aconteceu em volta, provavelmente eu perdi os doces na hora do café.
Só muito depois fui saber que se tratava de uma série de histórias, todas muito bem boladas, sempre envolvendo um crime ou um mistério, por todas as partes do mundo. Também não percebi que o autor gostava tanto de automóveis que exibia, em todas as histórias, muitas referencias a modelos muito especiais.
E reais. Aquele volume, diferentemente da maioria dos demais, tinha apenas um carro, um Cadillac 1938, enquanto alguns mostravam uma grande variedade de modelos.
Já escrevi várias vezes sobre os automóveis do Tintin, fiz até, muitos anos atrás, uma relação dos carros desenhados e suas fotos reais. A fidelidade é incrível. Mas não achei motocicletas nas histórias, com exceção de uma Gillet 1931, no oitavo volume da série, O Cetro de Otokar.
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É a única vez em que Tintin pilota uma motocicleta. Tintin leva na garupa seu cachorro Milú e os atrapalhados detetives Dupondt, sendo que estes ficam pelo caminho na primeira acelerada.
Essa motocicleta apareceu apenas nessa cena, mas podemos vê-la em muitas gravuras posteriores, com Tintin ao comando, assim como em algumas gravuras isoladas com outras motocicletas, inclusive uma Vespa.
Pesquisando, podemos achar muitas referências sobre o Tintin e algumas motocicletas, mas não na série original. Foram produzidos alguns filmes com personagens reais e muitos episódios foram transformados em desenho animado, com algumas motocicletas fazendo parte do visual.
O excepcional longa-metragem de 2011, As Aventuras de Tintin, animado por computador, é uma exceção, com uma história cativante e uma longa cena de perseguição com Tintin pilotando uma Indian 1941 com side car. Vale a pena assistir.
No dia em que conheci o Tintin, me apaixonei por duas coisas independentes: os quadrinhos do Tintin e os apartamentos da avenida São Luiz. Independentes, mas não desconexas: até hoje eu não consigo ler ou assistir uma história do Tintin sem lembrar daquele dia, naquele apartamento.