Você conhece alguma daquelas crianças que desmontam tudo que cai em suas mãos? Daquelas que pedem um jogo de ferramentas de Natal? Eu conheço uma: eu mesmo. Assim era eu na infância, não podia ver uma chave de fenda que saia abrindo tudo. E sempre montava tudo de volta, com exceção de um radinho de pilha Spica, hoje uma relíquia, que foi a vítima no dia que ganhei meu primeiro ferro de solda. Mas ainda não havia pensado em desmontar um motor de Harley-Davidson.
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Desmontei meus brinquedos, minhas bicicletas, mini-bugue, motocicletas edepois automóveis, e aprendi muito fazendo isso. E hoje, depois de tanto tempo, ainda aprendo. A aula, desta vez, foi em cima de uma Harley-Davidson 2018, que começa a se abrir para seus segredos. O local, como podemos ver na foto, era mais do que propício para isso, a escola de treinamento do Senai, em São Paulo, onde a Harley montou sua oficina e onde prepara seus técnicos de manutenção.
O objetivo desse dia de aprendizado foi conhecer algumas particularidades da nova linha Softail da marca que, lançada no fim do ano passado como modelo 2018, ganhou uma série de inovações. A adoção de um novo quadro, mais leve, com nova suspensão traseira, e a mudança do reservatório de óleo do motor para a parte inferior do câmbio, abriu a possibilidade de melhorar o acesso à bateria, que agora pode ter a manutenção pela lateral e não por cima, como era antes.
A nova bomba de combustível, agora dentro do tanque, também facilitou a manutenção desse item, assim como o novo cabo de embreagem, de regulagem automática da folga do manete. Antes de iniciar a desmontagem e a remontagem desses três elementos, descobri alguns macetes bastante curiosos que não nos damos conta na hora de pilotar as motocicletas. Um deles é a possibilidade de verificar os códigos de erro de funcionamento sem precisar acoplar um computador ao sistema eletrônico da motocicleta.
Macetes curiosos
Segurando o botão de informações do painel no punho direito, ligamos o botão de ignição no punho direito e surgem os códigos de eventuais erros ocorridos durante o funcionamento da motocicleta. A partir dos modelos 2018, os códigos de erros vem acompanhados das letras C ou H, indicando ser um erro recorrente, ou seja, deve ser reparado, ou um erro já sanado.
Um exemplo deste último pode ser o mau contato no interruptor de desligamento da ignição no descanso lateral, aquele que impede ligar o motor com o descanso abaixado, para evitar acidentes.
Você viu?
Caso o mau contato já tenha voltado ao normal, por qualquer motivo, a letra código indicará, ficando o registro apenas como histórico. Para saber qual é o defeito apresentado, deve-se verificar uma longa lista de erros catalogados. Assim fica fácil manter sua Harley sempre em ordem.
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Outro ponto interessante, que talvez nem os proprietários de Harley conhecem, é que o acelerador eletrônico tem mais que uma função. Girando a manopla para a frente, ativa-se o desligamento automático do cilindro traseiro, operação que pode ser muito útil caso nos encontrarmos em um congestionamento, por exemplo. Ao atingir determinada temperatura, o cilindro é desligado para não sobreaquecer, lembrando que nessa situação não é necessária toda a potência dos dois cilindros do motor.
Por fim, um pequeno truque que os proprietários de Harley devem saber é que é possível ligar a motocicleta sem o sensor eletrônico que a acompanha. Caso o sensor “fob” tenha sido perdido ou esquecido, por meio de uma rotina de códigos utilizando os interruptores dos punhos do guidão e mais uma senha definida pelo próprio motociclista, a motocicleta pode ser ligada. Há quem use sempre esse método apenas para não ter que carregar consigo o sensor, só que nesse caso é necessário repetir a rotina da senha todas as vezes que for ligar a moto.
Esses são pequenos detalhes que aprendi na oficina da Harley no Senai, antes que me apossasse de um conjunto invejável de ferramentas de precisão para desmontar mais um brinquedo. Retirei e recoloquei a bateria, que com o novo acesso ficou muito mais fácil, retirei e recoloquei o novo cabo da embreagem, agora auto-ajustável, e desmontei o tanque decombustível e seus componentes para retirar a bomba elétrica de seu interior.
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Na recolocação, tudo funcionou normalmente e eu me diverti como se estivesse brincando com um grande e caro Lego. Pra quem gosta, excelente passatempo, garanto que me diverti mais do que vocês, lendo este relato. No fim do dia, a “minha” Harley estava completamente montada, acredito eu que com a qualidade que a H-D exige de seus técnicos.
Felizmente não me diram para ir pra pista testá-la. Mas acho que ia correr tudo bem. Não pretendo, no entanto, começar a fazer manutenção profissionalmente modelos da Harley-Davidson , continuarei a montar e desmontar minhas japonesas dos anos 70. Só espero, um dia, poder mexer nas “velharias” com ferramentas como estas.