A Ford levou jornalistas especializados e blogueiros de várias tribos para um gigantesco convescote na Reserva do Paiva, localizada em Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. Parece ter escolhido a dedo um local que fica a poucos quilômetros da fábrica da FCA em Goiana, onde é fabricado o Jeep Renegade. Como se sabe, o Renegade foi um dos algozes do EcoSport em sua derrocada de vendas nos últimos anos. Ele e o Honda HR-V, que passou a ser o SUV mais vendido do Brasil, mas o carro japonês é fabricado em Sumaré (SP), uma cidade que não tem apelo turístico.
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Convencer blogueiros não é difícil. Normalmente (talvez sempre) eles publicam exatamente o que os fabricantes querem. Exceção, claro, aos blogueiros de carros. Para convencer os jornalistas especializados em automóveis, a Ford levou uma incrível frota de 75 EcoSport novinhos e perfeitamente ajustados para um test drive nas estradas do litoral pernambucano. Havia versões FreeStyle com o inovador motor 1.5 de três cilindros e versões Titanium com o novo motor 2.0 de injeção direta.
Não vou entrar nos detalhes dos carros porque isso nosso competente editor, Carlos Guimarães, o Guima, já fez em outra reportagem, que você pode ler aqui. Mas quero dar cinco motivos para comprar o novo Ford EcoSport e depois cinco razões para fugir dele. Afinal, o bisturi cortou fundo nessa operação que mudou quase tudo no EcoSport, cujo objetivo não é nada modesto: voltar a líder da categoria.
5 motivos para comprar
1. NOVOS MOTORES – A Ford tem tradição em lançar bons motores e surpreendeu o mercado ao apresentar o primeiro motor 1.5 de três cilindros num carro nacional. Ele é muito mais leve, tem todas as tecnologias que estão sendo usadas nos tricilíndricos 1.0 (menos o turbo, pois não há necessidade) e destaca-se pela eficiência. Tem a melhor potência específica da categoria (91,5 cv/litro) e nota A de consumo. Na versão Titanium, o 2.0 que equipa o Ford Focus também é bastante moderno e tem injeção direta. Com 176 cv de potência, deixou o EcoSport 2.0 mais potente do que seu grande rival HR-V, cujo bloco 1.8 entrega 140 cv.
2. NOVO CÂMBIO AUTOMÁTICO – Esqueça a problemática transmissão PowerShift automatizada de dupla embreagem, que deu enormes dores de cabeça a donos do Eco e do Focus. A Ford o abandonou e agora oferece uma caixa automática convencional de seis marcas nas três versões disponíveis: 1.5 SE, 1.5 FreeStyle e 2.0 Titanium. Custa R$ 5.000 a mais do que as versões manuais (só 1.5) e traz também paddle shifts no volante, não mais aquele chato botãozinho na alavanca do aposentado PowerShift. Com seis marchas, o novo EcoSport não deve mais nada ao Renegade Flex, ao HR-V, Nissan Kicks e ao Hyundai Creta, para citar os mais fortes rivais.
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3. CENTRAL MULTIMÍDIA SYNC 3 – O minúsculo e ultrapassado radinho com bluetooth do EcoSport anterior deu lugar a uma imponente tela multimídia (de 6,5 ou 8”), colocada em posição “flutuante” e com dois botões giratórios redundantes (coisa que todo carro deveria ter). É facílimo de usar e possui conectividade com Android Auto e Apple CarPlay. Além de ser superior aos sistemas do Renegade, do Kicks e do Creta, o Sync 3 dá de goleada na complicada central multimídia do HR-V.
4. SETE AIRBAGS – Outro item no qual o renovado EcoSport surpreendeu foi a segurança. O carro já vem com sete airbags (dianteiros, laterais, cortina e joelho do motorista) desde a versão de entrada. E não só isso: tem também sistema anticapotamento, controle de tração/estabilidade, assistente de partida em subida e dois isofix no banco traseiro para prender cadeirinhas infantis.
5. MELHOR CUSTO/BENEFÍCIO – Colocando na ponta do lápis para fazer uma compra 100% racional, o EcoSport também surpreende. Seu custo/benefício é o melhor nas três versões. Se considerarmos os valores em reais de todos os equipamentos de série, ele consegue ser uma boa compra até nos casos em que custa mais do que o rival. Mas isso é longo para explicar detalhes e não vou ficar fazendo publicidade para a Ford. Então, vou comparar o novo Eco só com o Honda HR-V, que é o mais vendido. O EcoSport 1.5 SE manual custa R$ 73.990 e o HR-V 1.8 manual sai por R$ 80.900. Apesar do motor maior, a diferença em potência a favor do Honda é de apenas 3 cavalos e suas rodas são de 17”, contra rodas de 15” do Eco. Também tem freio de mão elétrico e freios a disco na traseira. Mas o Ford vem com mais sistemas de segurança, sensor de pressão dos pneus, sensor de estacionamento, Sync 3 com tela de 6,5”, Android Auto/Apple CarPlay, volante de couro e faróis de neblina. Somando todos os equipamentos, a diferença é ainda maior do que os visuais R$ 6.910 que vemos nos preços de cada um. Nas versões topo de linha, além de ter um motor de 176 cv contra 140 do HR-V, o EcoSport traz faróis de xenônio e teto solar elétrico. A diferença que já grande (R$ 93.990 do Eco contra R$ 102.900 do HR-V) pode pular para mais de R$ 14 mil considerando todos osequipamentos.
5 razões para não comprar
1. PORTA-MALAS PEQUENO – Com apenas 356 litros de capacidade no bagageiro, o EcoSport só ganha do Renegade (260 litros) e do Chevrolet Tracker (306) nesse quesito. Mas perde longe para os rivais Renault Duster (475), HR-V (437 litros), Renault Captur (437), Kicks (432) e Creta (431). Para um carro que usa o estepe do lado de fora, é umpecado original. Aliás, o porta-malas diminuiu de 362 para 356 litros (deve ser por essa razão que a Ford eliminou a informação sobre a capacidade do bagageiro na ficha técnica divulgada aos jornalistas).
2. FREIO TRASEIRO A TAMBOR – Algumas economias das montadoras são incompreensíveis. Tá certo que o EcoSport não é um SUV muito pesado (1.227 a 1.272 kg), mas os freios a tambor na traseira num carro de 176 cv parecem desproporcionais. Engenheiros, claro, vão explicar isso e provar que “não é necessário” freios a disco traseiros. Mas uma situação com o Eco carregado de gente e bagagem, em descida de serra, com rápidas acelerações por causa da potência e constantes frenagens por causa das curvas, podem causar fading ou prejudicar a segurança. Ora, o HR-V tem apenas 140 cv, um peso similar e usa freios a disco nas rodas de trás.
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3. DESIGN CANSADO – Em relação ao EcoSport lançado em 2012, o modelo 2018 tem pouquíssimas mudanças visuais externas. Ficou mais bonito, porém só a frente mudou. Perdeu aquela boca gigante e feiosa. Mas as laterais e a traseira são exatamente as mesmas. Numa categoria com carros visualmente agressivos, como HR-V, Captur, Kicks e Renegade, o desenho do EcoSport já mostra sinais de cansaço.
4. INCÓGNITA NO MERCADO – A Ford aposta que o novo EcoSport pode voltar à liderança entre os SUVs. E se nega a reconhecer que o carro passou a vender menos, pois afirma que o mercado automotivo também caiu, então ele teria mantido a proporção. Mas não convence. O EcoSport perdeu cerca de 50% de suas vendas exatamente no período em que todo mundo só quis comprar SUV. Esse segmento passou de 9% para 21,5% de participação de 2013 para 2017. Então, apesar de o Eco ter ficado racionalmente muito atraente, só o tempo poderá dizer se os consumidores correrão para comprar um carro cuja geração já tem cinco anos de estrada.
5. ESTEPE DO LADO DE FORA – Ninguém mais usa. Quase ninguém mais quer. O próprio EcoSport abandonou o estepe do lado de fora do porta-malas na Europa e nos Estados Unidos. Mas no Brasil continua. Segundo a Ford, porque “os clientes querem”. Balela. Se os clientes quisessem tanto, as vendas não estariam caindo. A verdade é que não existe espaço no projeto desse carro para colocar o estepe no fundo ou embaixo do porta-malas sem prejudicar mais ainda a capacidade do bagageiro. Na Europa e nos Estados Unidos, a Ford pode usar estepes menores ou nem usar estepe, adotando pneus do tipo run flat. Mas, no Brasil, por enquanto não dá. Então, meus amigos, o estepe do EcoSport só ficará escondido quando vier a verdadeira nova geração do carro, daqui a alguns anos. Até lá – uma vez que o carro se tornou quase irresistível do ponto de vista racional – o jeito é encarar o estepe do lado de fora como um “diferencial” do EcoSport, que passaria a ser um carro com personalidade própria, acima das modinhas. Nesse caso, o estepe poderia ser considerado não uma razão para fugir do EcoSport, mas sim um sexto motivo para comprá-lo.