Jac T40: nasceu para ser um hatch, foi transformado em SUV no meio dodesenvolvimento e estreia agradando
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Jac T40: nasceu para ser um hatch, foi transformado em SUV no meio dodesenvolvimento e estreia agradando

Vivemos uma era de exageros. No Brasil e no Planeta Carro. Estamos exagerando a dose em muitas coisas desde que a Revolução Industrial permitiu que uma única máquina produzisse mais do que dezenas de homens juntos. O Século XX foi absolutamente estonteante no exagero de tudo. Além de ver a população mundial crescer de 1,65 bilhão para 6 bilhões de pessoas, foi palco de duas guerras mundiais.

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Dos anos 1990 para cá, o exagero tomou proporções absurdas. E nada indica que vai parar. Tudo, absolutamente tudo, é exagerado. Nem vou citar os tantos casos que existem, pois isso daria um livro. Então vamos falar apenas dos exageros verificados no Planeta Carro, que é a nossa praia. Vivemos em tempos de trânsito exagerado, de discursos exagerados e de objetivos exagerados.

Em 2012, foram vendidos no mundo inteiro 64,2 milhões de veículos leves (automóveis de passeio, picapes, vans e furgões). No ano passado, graças à explosão do mercado chinês, esse número saltou para 76 milhões. Segundo as projeções do Delloite Consulting Group, a previsão para 2021 é de 87,3 milhões de automóveis e comerciais leves vendidos. Isso tem deixado a indústria automobilística preocupadíssima, pois o crescimento de 4,3% no período 2012-2016 cairá para 2,8% no período 2016-2021. Em nossa sociedade, vender mais nunca é suficiente – é preciso crescer muito mais do que no período anterior. Isso, claro, tem esgotado de forma rapidíssima os recursos naturais do planeta. A Terra já tem dados alguns revides, mas não é nem sombra do que virá num futuro próximo.

Fiat Toro: uma picape para quem não gosta das verdadeiras picapes. Por issofaz enorme sucesso e levanta o segmento
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Fiat Toro: uma picape para quem não gosta das verdadeiras picapes. Por issofaz enorme sucesso e levanta o segmento

O Brasil, como sempre, está 20 ou 30 anos atrasado em tudo. O que é péssimo, pois tem desafios de um mundo altamente tecnológico sem ter sequer chegado perto do nível de um país com economia equilibrada, serviços públicos de qualidade e distribuição de riqueza justa. Na avalanche do exagero das duas últimas décadas, o brasileiro médio agora sonha em ter um SUV . Qualquer carro minimamente parecido com os antigos e robustos utilitários esportivos tem a aprovação da massa. As montadoras, que não são bobas, entregam o que o público quer.

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Primeiro veio o Ford EcoSport, que reinou sozinho durante 12 de seus 13 primeiros anos, perdendo a liderança somente uma vez (para o Renault Duster), quando mudou de geração. Segundo estudos da empresa Jato Dynamics, já existem mais de 555 mil EcoSport rodando no
Brasil. E, apesar de ser um carro “aventureiro”, a maioria deles está concentrada no Sudeste (54,3%), exatamente a região mais desenvolvida e com as melhores estradas.

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Claro! Quem compra um SUV não quer necessariamente colocá-lo na estrada de terra. Quer mesmo é circular na cidade grande. De preferência numa posição de dirigir bem alta, pois é a que oferece mais status e mais sensação de segurança. No bairro paulistano onde eu moro (Morumbi), há mais SUVs nas ruas do que pessoas nas calçadas. A grande maioria com apenas uma pessoa dentro do carro. Por isso, carros como o Renault Kwid (um subcompacto), o Jac T40 (que originalmente foi projetado como hatch) e o Nissan Kicks (um legítimo crossover) são vendidos ao distinto público como SUVs. Quem há de contestar? Eu é que não e já disse o porquê. E tome trânsito engarrafado!

Nissan IDS Concept: cadê o volante desse carro? Ele vai dar lugar a um tablet quando o motorista não quiser mais dirigir
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Nissan IDS Concept: cadê o volante desse carro? Ele vai dar lugar a um tablet quando o motorista não quiser mais dirigir

Segundo a Jato Dynamics, as vendas de hatches no Brasil, no primeiro semestre, caíram de 850.557 em 2013 para 401.392 em 2017. Já os SUVs  cresceram de 123.744 no primeiro semestre de 2013 para 177.823 no mesmo período deste ano. Outro mercado que reverteu uma tendência de queda é o de picapes – mas não para trabalho, e sim porque a Fiat está fazendo enorme sucesso com a Toro, um belo carro que poderia ser definido como uma picape para quem não gosta de picape (os verdadeiros picapeiros nunca abrirão mão da carroceria sobre chassi de uma Toyota Hilux ou uma Chevrolet S10).

A era mais exagerada de todos os tempos

Na era dos exageros, parecer aventureiro é mais importante do que ser aventureiro. Também exagerada é a nossa necessidade de permanecermos conectados o tempo todo. Hoje em dia, a importância da conectividade nos carros é tão grande ou maior do que um bom motor ou num bom câmbio. Aliás, para os jovens da geração Z, quanto menos trabalho der um carro, melhor. Por isso, no último Salão de Tóquio, um dos carros mais admirados foi o Nissan IDS, criação do designer Shiro Nakamura que transforma o cockpit em sala de trabalho/lazer ao gosto do proprietário. A busca pela conectividade cada vez maior também influencia no preço dos carros. Para citar mais um dado da Jato Dynamics, o preço dos sedãs médios no Brasil passou de R$ 65.247 em 2015 para R$ 85.172 em 206 (aumento de 30,5%) e este ano custam em média R$ 100.209 (mais 17,7%). Claro que a inflação ficou muito abaixo disso.

Quer mais exageros? De acordo com a BI Intelligence, o mercado de carros conectados chegará a 92 milhões em 2020. Já a IHS Markit prevê um total de 21 milhões de carros autônomos rodando no mundo em 2035. A Bloomberg projeta uma venda de 41 milhões de veículos elétricos em 2040. E a BCG analisa que cerca de 35 milhões de motoristas usarão serviços de carros compartilhados a partir de 2021. O mundo está mudando muito. Numa velocidade espantosa até para quem viveu as últimas décadas do século XX. A única coisa que não muda é a nossa vocação para o exagero.

Somos muito exagerados. Recentemente, o youtuber Whindersson escreveu em seu perfil do Twitter: “O que está acontecendo com mundo...” Exatamente assim, com essas enigmáticas reticências. Essa simples frase, que não quer dizer absolutamente, que não entrega nada e não conclui nada, teve (até o dia e hora em que eu vi) 11,8 mil compartilhamentos e 25,9 mil curtidas no Twitter.

Neymar com a camisa do PSG: uma transferência de R$ 821 milhões paradeixar até o Rei Pelé de queixo caído
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Neymar com a camisa do PSG: uma transferência de R$ 821 milhões paradeixar até o Rei Pelé de queixo caído


A Coca-Cola de 3 litros, os 222 milhões de euros (R$ 821 milhões) que o PSG pagou ao Barcelona pelo passe de Neymar, as 137 vitórias na Fórmula 1 da dupla alemã Schumacher/Vettel e o fenômeno do SUV que roda só na cidade escancaram a era mais exagerada de todos os tempos.

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