Gol Automático: com nova frente neste terceiro face-lift, é o automático mais acessível do mercado.
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Gol Automático: com nova frente neste terceiro face-lift, é o automático mais acessível do mercado.

Já escrevi tantos artigos e reportagens sobre a atual geração do Volkswagen Gol que até perdi a conta. Mas novamente volto ao tema porque o Gol ganhou um câmbio automático de verdade, convencional, de seis marchas, em lugar do famigerado I-Motion automatizado de embreagem simples. E isso significa mais uma mudança de estratégia em relação ao carro que já foi o mais vendido do Brasil por 27 anos consecutivos (1987 a 2013). Esse ajuste na estratégia ocorre apenas seis meses depois de a Volks anunciar que o Gol tinha sido reposicionado como seu carro de entrada.

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Calma, o Gol continua sendo o carro mais barato da Volkswagen. Afinal, pelo preço do Up mais barato quase dá para comprar dois Fiat Mobi ou dois Renault Kwid. Mas, com o perdão do duplo sentido da frase, podemos dizer que a Volkswagen perdeu a vergonha com o Gol. Antes ela parecia envergonhada, constrangida com a longa jornada da atual geração e demonstrava estar decidida a confinar o Gol à briga no segmento mais pobre do mercado. Mas de repente tudo mudou. Porque dessa vez ela criou uma versão verdadeiramente competitiva para consumidores exigentes e não precisa mais ter vergonha de dizer que enfrenta os líderes Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e Ford Ka com um carro modificado três vezes em apenas seis anos. Tudo isso por causa do câmbio automático de seis marchas, a novidade nesse novo face-lift do Gol (os outros foram em 2012 e 2016).

Mais do que adotar uma nova frente, aprimorar o interior e melhorar a conectividade, a Volkswagen ampliou a faixa de consumidores do Gol de forma substancial com a adoção da nova versão com motor 1.6 de 120 cv e transmissão automática de seis velocidades. Para além disso, simplificou definitivamente a gama de versões. O consumidor agora tem apenas três tipos de Gol: 1.0 Track de 82 cv com câmbio manual (R$ 44.990), 1.6 8V de 104 cv com câmbio manual (R$ 50.780) e 1.6 16V de 120 cv com câmbio automático (R$ 54.580). Mais simples impossível, o que é uma mudança de paradigma extraordinária para uma marca acostumada a oferecer tantas versões que até confunde o consumidor.

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Vergonha é ficar de fora

O câmbio AQ 160 6F do Gol é um automático tradicional fabricado pela japonesa Aisin.
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O câmbio AQ 160 6F do Gol é um automático tradicional fabricado pela japonesa Aisin.

Alguém na Volkswagen percebeu o óbvio: a Chevrolet e a Ford vendem muito Onix e Ka porque elas conseguiram fazer o que tentaram durante 27 anos sem sucesso: fabricar um “Gol” com outra marca. Com o Onix, a Chevrolet conseguiu ter seu próprio “Gol”; com o Ka da atual geração, a Ford conseguiu ter seu próprio “Gol”. Então, por que a própria Volkswagen não poderia recuperar a imagem do Gol perante os consumidores? E o que seria isso? Entregar um carro perfeitamente ao gosto dos exigentes consumidores brasileiros. E principalmente ao gosto atual, pois os desejos mudam – e cada vez com maior frequência.

Pobre não compra mais carro no Brasil. Portanto, não vale a pena jogar todas as fichas na faixa de entrada se quem realmente está comprando carro quer basicamente três coisas: um motor decente para que o carro carregue o motorista e não o contrário; uma central multimídia moderna para manter os passageiros conectados com o mundo; câmbio automático para descansar os pés no anda-e-para do trânsito cada vez pior das cidades grandes e médias, sem falar das metrópoles.

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O Gol Automático entrega tudo isso. Quanto ao preço (quase R$ 55 mil por um Gol 1.6), pode assustar de início, mas ainda assim é mais acessível do que as versões automáticas mais em conta do Ka 1.5 (R$ 56.490), do HB20 1.6 (R$ 58.950) e do Onix 1.4 (R$ 60.090). Sem contar que para achar esse Onix é preciso procurar o pacote R7P no catálogo da Chevrolet, o que não é uma tarefa muito fácil. Quanto ao Gol Track (R$ 44.990), briga diretamente com o Ka 1.0 (R$ 45.490) e com o Onix 1.0 (R$ 43.790).

Poderia existir um Gol “pé-de-boi”, com preço bem barato para competir com Mobi e Kwid na faixa de R$ 32 mil? Teoricamente, sim, já que a Volkswagen decidiu transformar o Up num carro quase inacessível (vai daí que está tomando um banho de vendas de seus rivais subcompactos). Mas a verdade é que a Volkswagen perdeu a vergonha também de abrir mão de brigar na faixa de entrada, aquela dos carros mais baratos. E sabe por que? Porque faz décadas que a Volks só tem carro barato no imaginário dos brasileiros. E o Gol continua sendo um bom carro para dirigir.

Uma história além do Fusca

Ver o Gol Automático de traseira não será uma cena incomum, pois o carro ganhou um motor 1.6 de 120 cavalos.
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Ver o Gol Automático de traseira não será uma cena incomum, pois o carro ganhou um motor 1.6 de 120 cavalos.

Para nós, brasileiros, talvez passe um século e a Volkswagen continuará sendo a marca do “carro do povo”. A marca que produzia o Fusca, o carro que todo mundo tinha. Mas desde 1974, quando o Golf criado por Giorgetto Giugiaro substituiu o Fusca de Ferdinand Porsche na Alemanha, a Volkswagen mudou seu conceito de “carro do povo”. Relegado a fábricas menores na Alemanha até sua descontinuação, em janeiro de 1978, o Fusca preservou a mística da marca em mercados do Terceiro Mundo, graças à grande produção no México (Puebla) e no Brasil (São Bernardo do Campo).

No Brasil, o Fusca resistiu até 1986, mas a Volkswagen já tinha um substituto à sua altura desde 1980: o Gol. Ele não apenas manteve a Volks na liderança do mercado, como ainda foi além: ultrapassou as vendas do Fusca, esticou durante anos o paradigma das duas portas e manteve a mística de “carro do povo” associada a carro barato. Enquanto na Europa a Volkswagen continuou fazendo automóveis populares, porém focados na qualidade superior e, portanto, fora da guerra de preços com a Fiat, no Brasil aconteceu o contrário.

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Hoje só a Fiat e a Renault brigam no segmento de carros baratos. E a Fiat só continua nessa briga porque foi “obrigada” pelos consumidores a baixar o preço do Mobi, pois tentou vender seu subcompacto como um novo conceito de mobilidade para a cidade. Não colou. Menos mal que a redução de preços do Mobi deu vida a um carro com qualidades bem discutíveis. Voltando à Volkswagen, se no face-lift de 2012 o consumidor deu de ombros, pois não se convenceu com a história de “Gol G6”, na modificação de 2016 os resultados foram bons. Um velho motor foi aposentado, o painel feioso saiu de cena, o carro ganhou um bom sistema multimídia e isso bastou para que o consumidor voltasse a comprar Gol.

Como essa terceira reestilização da terceira geração do Gol atende ao desejo de boa parte dos consumidores da classe média, é possível que a Volkswagen ainda tire muito leite de sua eterna “vaquinha provedora”. E, com isso, ganhe mais um tempo até lançar sua prometida, aguardada e nunca cumprida entrega de uma nova geração do Gol. Dizem que chegará no final de 2019 ou no início de 2020. Tomara. Afinal, o Gol continua vivíssimo e hoje não causa nenhuma vergonha nem ao fabricante nem aos seus proprietários. Mas convém não abusar.

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