O Jeep Compass não é o SUV mais vendido do Brasil por acaso. É um carro muito bom, com design atual, mecânica confiável e com várias opções mecânicas. Pode vir com motor flex nas versões 4x2 ou a diesel nas versões 4x4. Nem todos os carros oferecem tração nas quatro rodas, mesmo nessa categoria. Porém, ao conhecer o novo Subaru XV, fiquei com a sensação de que o brasileiro não sabe comprar carro. Ou, para ser menos crítico, utiliza mais os critérios emocionais do que os critérios racionais na compra de um carro.
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Participei de alguns testes de pista com o novo Subaru XV, que vem equipado com a tecnologia Eye Sight, de auxílio ao motorista em momentos de risco, e fiquei surpreso ao saber que o SUV japonês custa R$ 124 mil em sua versão de entrada. Como a Subaru é uma marca muito discreta, que optou por não crescer muito no mercado, mas sim em oferecer carros para um público selecionado, eu não estava com seus preços memorizados e tinha a sensação de que o novo XV custasse muito mais – que o próprio Jeep Compass, por exemplo. Afinal, o carro já vem com tração nas quatro rodas (AWD) e motor boxer (quatro cilindros contrapostos). Só essa configuração já faz do Subaru XV um carro mais equilibrado, por ser mais baixo e estar sempre grudado no chão.
Nada contra o Compass. Estou usando o Jeep como exemplo porque é o líder do mercado. Mas, para ter um Compass 4x4, como o Subaru XV, o consumidor brasileiro precisa desembolsar cerca de R$ 152 mil. Seu motor turbodiesel entrega 170 cv de potência contra 156 cv do Subaru e um câmbio AT9 contra o CVT de sete marchas do XV.
Como vai o japonês ao lado do Jeep Compass?
Em tamanho, eles são praticamente iguais, com ligeira vantagem para o Subaru. Potência, porém, não significa muita coisa se vier acompanhada de peso. E a relação peso/potência do carro japonês é de 9,4 kg/cv, contra 10,1 kg/cv do carro americano. O Jeep leva uma pequena vantagem de 30 litros no porta-malas. Ele só ganha com folga mesmo na relação peso/torque (4,9 kg/Nm contra 7,5 kg/Nm). Na prática, o Compass é mais ágil na cidade. Porém, no rigor do cronômetro, para ir de 0-100 km/h, é apenas 4 décimos de segundo mais rápido. Quem precisa disso no dia a dia?
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Na comparação com o Compass 4x2 Limited (cerca de R$ 142 mil), a vantagem do XV AWD é ainda maior, com exceção da relação peso/potência (9,3 kg/cv contra 9,4), mas tem tração apenas nas rodas dianteiras e perde na relação peso/torque (7,7 kg/Nm contra 7,5). Por isso, é dois décimos de segundo mais lento, porém isso é irrelevante. Vale lembrar que essa versão 4x2 é apenas mil reais mais barata que o Subaru topo de linha (R$ 143 mil) e R$ 9 mil mais cara do que o XV intermediário (R$ 133 mil)
Subaru XV tem tecnologia Eye Sight
Se não bastassem esses números, o novo Subaru XV ainda vem com a tecnologia Eye Sight na versão topo de linha (R$ 143 mil), que monitora simultaneamente as condições da estrada e reconhece uma condição perigosa. Tudo funciona por meio de duas câmeras estéreo localizadas no para-brisa (como se fossem dois olhos) e um sensor de luz alta no meio (um pouco mais abaixo, como se fosse um nariz). É um sistema incrível, que não conta com radar, e que vem sendo desenvolvido no Japão desde 1989. Mas não estamos falando de um carro autônomo. O Eye Sight do Subaru XV é como um passageiro invisível, que dá dicas para o motorista. Portanto, é uma tecnologia de assistência ao condutor.
Pude avaliar em várias situações e vi o que o Eye Sight é capaz de fazer. Ele dá suporte para que o motorista tome decisões mais rápidas e escape da colisão. O carro calcula o risco de colisão em cinco níveis: nenhum, existente, alto, muito alto e colisão inevitável. Somente neste último caso o Eye Sight aciona os freios e o carro para totalmente, a poucos centímetros do obstáculo. É impressionante a precisão desse sistema, que está no carro de R$ 143 mil. Durante o teste, conversei com o piloto Luiz Razia, meu colega do programa Auto Esporte, da Rede Globo, e ele também se disse impressionado com a precisão do sistema.
Faz muitos anos que sou fã da tecnologia Subaru. E acho curioso que esse fabricante japonês tenha uma filosofia de não crescer demais no mercado. Por isso, toda vez que vejo alguém com um Subaru, penso: “Essa pessoa entende de carros”. O Subaru WRX é meu preferido, pois traz muitas tecnologias usadas no Mundial de Rali da FIA. Mas tenho muito respeito também pelo Subaru Forester, um carro que, na ponta do lápis, ganhou durante dois anos a Compra do Ano da revista Motor Show, somando a maior pontuação entre todos os modelos analisados. Já o XV me encanta por ser um SUV mais do tipo crossover, baixo, quase um hatch elevado, porém com um comportamento dinâmico excelente, em função do motor boxer e do sistema Symmetrical AWD, que tira o carro até de situações em que três rodas estão sobre um piso de vaselina! A segurança que um carro 4x4 entrega é tão grande que no futuro poderia ser um item obrigatório, como ABS e airbags.
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Em todo o ano passado, a Subaru vendeu apenas 820 carros no Brasil. É um número muito pequeno e isso não justifica ter uma grande rede de concessionárias ou forte presença na mídia, como acontece com o Jeep Compass e seus “irmãos”, que venderam quase 107 mil carros em 2018. Mas fica a dica: se você não é um consumidor modinha e busca um carro exclusivo e com um ótimo custo/benefício, o Subaru XV é uma boa pedida. Se eu souber de outra “pechincha” como essa, prometo trazer aqui na República do Automóvel.