A tecnologia já está em patamares tão surreais, que nunca antes alguém tão apaixonado por carros (como eu), poderia imaginar que chegaria o dia de relativizar o que até então se entendia como o óbvio para uma receita de bom desempenho.
Para os entusiastas, a linha 2021 dos RS Q3 (R$ 435.990), RS Q3 Sportback (R$ 465.990), RS Q8 (R$ 902.990), RS 6 Avant (R$ 793.990), RS 7 Sportback (R$ 839.990) e R8 (R$ 1.260.990), desafia toda a noção de desempenho, emoção e condicionamento físico, mas sempre com muita facilidade na pilotagem. E, para os engenheiros de plantão, um mar de complexidade que só os bons conseguem entender, e os melhores desenvolver.
O mais interessante é que todas essas máquinas se adequam ao perfil do condutor, para formar a união homem-máquina perfeita. E, ainda, os Audi RS arrasam no uso cotidiano, com conforto, acabamento com materiais de ponta, conectividade intuitiva e som de alta fidelidade.
É uma pena que Colin Chapman — autor da frase “simplifique e adicione leveza”, que sempre ditou o modo de pensar dos projetistas — não esteja mais entre nós para testemunhar carros entre 1,6 e 2,3 toneladas, cravando tempos de volta que se equiparam com carros de corrida puros.
E tal como carros de corrida, que são customizados de maneira totalmente distinta entre si, os novos topo de linha da Audi estreiam as inúmeras possibilidades de personalização, que na linha RS é de quase 1 milhão de combinações, e para o R8, 1,6 milhão de alternativas.
Com opções diferentes de cores, acabamentos, materiais dos componentes mecânicos e aerodinâmicos, entre outros, todos da linha RS vêm com cluster digital com pareamento com a central multimídia de 10,1 polegadas (que tem conectividade Apple CarPlay e Android Auto), ar condicionado totalmente digital em uma tela de 8,6 polegadas.
Já o furioso Audi R8 chega com um total de 1,6 milhão de combinações possíveis — entre elas, 29 opções de cores, 5 acabamentos, 3 saias laterais, spoiler dianteiro, traseiro e molduras do difusor traseiro, 4 para os retrovisores, 18 opções de assentos e 6 opções de rodas de 20 polegadas. Entre os equipamentos de série, traz faróis de laser, seletor de modos de condução, controle do ronco saído do escape, quadro de instrumentos digital, central multimídia e sistema de som Bang&Olufsen.
Alemães berrantes e super apimentados
Acelerar para valer a linha de superesportivos da marca alemã, em uma boa pista fechada, é um convite para levar socos na nuca durante as trocas de marcha, “patadas” no peito na desaceleração e ter dó das costelas quando o carro decide “morder” as curvas. Mas, para quem tem gasolina nas veias, isso tudo não é nenhuma tortura, mas uma deliciosa experiência para animar o dia.
De baixo para cima, começamos pelo novo Audi RS Q3 Sportback que, na cor Azul Turbo — que traz o tom inclusive aos acabamentos de couro alcântara no interior — e o ronco musical do motor de cinco cilindros em linha, parece que estamos guiando o icônico RS2 Avant. E não só por isso e pelos seus 400 cv e 48,9 kgfm — que aliados ao câmbio automatizado de dupla embreagem com 7 marchas, acelera até 100 km/h em 4,5 segundos — mas por conta de seu sistema de tração integral ativo, que faz o SUV contornar curvas como uma perua de respeito.
Em seguida, a migração é grande, uma vez que já pulamos para o Audi RS 6 Avant. Se o RS Q3 já demonstrou equilíbrio de sobra, essa perua tira o fôlego toda a vez que você chega com algum desaforo nos pedais ou ao volante.
E seu grip é tão impressionante que você pode dar pé à vontade que, mesmo com seu motor motor 4.0 TFSI de 600 cv e 81,6 kgfm em força total, o carro não sairá da tangência. Nesse meio tempo, você estará lutando por fôlego, mas com um sorriso de orelha a orelha. No RS 7, a história se repete em relação à RS 6, com apenas um pouco mais de agilidade nas curvas, e os mesmos 0 a 100 km/h em 3,6 segundos e máxima que supera os 300 km/h quando equipados com os freios de cerâmica.
No grandalhão Audi RS Q8 , a história é bastante curiosa. Mesmo sabendo do que se trata o carro, é difícil não chegar com menos arrojo nas curvas do que com os outros, porque você sente o tamanho do carro e pensa “cara, não dá para contornar com tanta rapidez”. E o resultado é um susto ainda maior do que se você tivesse optado por carregar velocidade na curva, uma vez que o eixo direcional na traseira coloca o carro no trilho de um jeito que você é realmente sugado, de uma vez, para o centro da curva, apesar de seus 2313 kg.
E o ronco é exalado pelas duas largas saídas traseiras à imagem e semelhança do que ele é capaz de fazer. Seus 4 litros, dois turbos e oito cilindros são capazes de levá-lo até 100 km/h em 3,8 segundos e atingir os 250 km/h limitados eletronicamente.
Por último, o pai de todos: o R8. Lembro que quando criança eu ficava horas nos video games, alucinado pelo protótipo de cockpit aberto, que originou o modelo nas 24 horas de Le Mans, com vitórias em 2000, 2001, 2002, 2004 e 2005 na categoria LMP. E o mais gratificante é poder pilotar seu “sucessor urbano” (por assim dizer), que conta inclusive com a mesma potência do corredor nato.
São 610 cv e 51,1 kgfm, que com muita música vindo do elástico motor V10 central-traseiro, é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 3,2 segundos e chegar aos 330 km/h. E na transmissão, além da tração integral, destaca-se também o câmbio de dupla embreagem e sete velocidades, que dá aqueles trancos instigantes nas trocas de marcha.
Seu centro de gravidade colado ao solo gera forças G laterais e longitudinais impressionantes. Mas, ao mesmo tempo, exige mais delicadeza que os seus irmãos mais urbanos. Se você é muito abrupto na tocada, a traseira tende a jogar, mesmo sendo um 4x4 integral. Ou, se você bobear na hora de apontá-lo nas curvas, pode sentir a dianteira querendo arrastar um pouco, por conta de ter pouco peso na dianteira.
Os controles de tração e estabilidade dos Audi RS e R8 (que estavam sempre ativos) são "babás eletrônicas" que mantém o carro sempre na trajetória ideal, mesmo que você tente golpear a direção, frear, acelerar, até espernear. Tudo bem que a “responsa” é grande quando se guia um carro assim, de mais de R$ 1 milhão, e a segurança vem sempre em primeiro lugar, mas bem que a Audi poderia ter deixado desligar (ou pelo menos suavizar) esses controles só um pouquinho…